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Maarten Janssen, 2014-

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1750. Carta de Miguel de Ataíde Corte Real, religioso, para António Ribeiro de Abreu, mestre e inquisidor.

Author(s)

Miguel de Ataíde Corte Real      

Addressee(s)

António Ribeiro de Abreu                        

Summary

O autor comenta com o destinatário várias notícias recentes, bem como o papel da Inquisição na proibição de livros. Refere um "primeiro-ministro" acabado de eleger.

Text: -


[1]
Snr Inquizor Antonio Ribro de Abreu
[2]
Meu amo, e meu Snr de toda a minha vene-raçam, e affecto:
[3]
a carta de VS me chega assistida de tantas consolaçoens, q me faz esquecer do mesmos trabalhos, q nam posso deixar de sentir.
[4]
qra Ds con-tinue a esperada felicide, em q eu me seguro, se for certa a nota da eleiçam de pro Ministro, q aqui se rompeu este corro
[5]
Ja avizey a VS do recado, q o meu Bispo me mandara sobre os livros, q se lhe dedicáram, e materias, q continham:
[6]
e hontem á noyte com o sugeito, q me troxe aquelle rando me torney a certificar,
[7]
e ratificou o mesmo dito, o qual nam so mo disse a mim; mas tambem o publicou na Sacristia da Igra de S Pedro diante do seu Prior, e outros clerigos, q aqui me vieram dar o parabem da nova correspondencia, q o meu Bispo comigo travava; pois me mandava participar aquellas materias pa a minha consolaçam.
[8]
Tambem hontem me vizitou meu vizinho o Sr Thezouro mor coadjutor, q he comissario do Sto Offo, e par amo dos sobros do Bo, e me affirmou, q estes lhe disseram qual era a matra dos livros dedica-dos a seu Tio, e q tambem ja se sabia, q o seu autor era o celebrado gusmam.
[9]
Tambem ja me parece, parti-cipey a VS o q comigo passou o Rdo Pe Dr Fr Manoel de Sta Ignez Religiozo Agosto descalço, e qualificador do S offo
[10]
e este me disse, q o meu Bispo mto antes de haver este rompimto no Reyno da chegada dos livros fallava nelles.
[11]
As mais notas nesta matra todas ao meu parecer erradas nos accidentes chegam dessa corte; mas no essencial das matras comprehendidas na impressam uniformes com as vozes sahidas do Bo, e dos seus domesticos
[12]
e dezejára eu poder dar no trapo deste novelo, e q se dezempeçára es-ta meada, q nam serve mais q de chaguear as conci-encias, e de fazer odiozo o Sacramto da Penita, e faltar-se totalmte ao respto da jurisdicçam Pontificia
[13]
Porem Deus, q consente e nam pa sempre, poderá com o proporcionado instromto do novo, e ditozo Rey cortar tantos nós cegos, pa q se fique vendo clara a luz da colocada no can-delabro aureo do S offo;
[14]
q eu todas as minhas per- perseguiçoens dou por bem empregadas;
[15]
e nem temo as mayores na segura da minha innocencia e no mo-tivo detestavel, q a tyrania tomou pa nos vexar sem mais cauza pa o seu odio
[16]
q o amor, q conhece arde em nossos coraçoens ao respto do S Offo;
[17]
e emqto me durar a vida, e Ds me nam tirar este pouco talento, q me deu, o hei de sempre empregar na defensa do devido acatamto, q se lhe deve.
[18]
Dezo a honra de servir a VS pa o q offereço rezignada a minha vonte
[19]
A pessoa de VS ge Ds ms ans
[20]
Faro 11 de Agto de 1750.
[21]
De VSa Fiel Ao e o mais obrigado Criado Miguel de Attayde Corte Real

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