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1642. Carta de Cristóvão Leitão de Abreu, ouvidor-geral, para [António de Faria Machado], conselheiro do Vice-Rei da Índia.
Autor(es)
Cristóvão Leitão de Abreu
Destinatário(s)
António de Faria Machado
Resumo
O autor fala a um seu superior de diversos assuntos de jurisdição, queixando-se também do pouco que ganha.
Texto: -
[1]
Largamente escrevi a Vm e ao Snor Conde V Rei e
a Snra Rollação cõ muita papellada
pello q não sou Largo nesta
[2]
tudo foi no maço de Dom Phellippe
q não deve faltar,
e posto q há coatro dias q escrevi pella Larga distançia,
podera suçeder chegarem primro
as Ultimas
[4]
Sentençees em Rollação cõ os mesmos
adjuntos
nomeados no meu alvará a luis de macedo em sinco annos de degredo pera damão
e seiscentos mil Res pera
as despezas da Justiças e Alçada e hê a primeira e entendo
que serâ a derradra
condenação de dro que farei, porq hâ seis mezes q estou nesta
trra
sem condenar pessoa Viva nẽ morta q hũa das Couzas por q o povo E a
Cidade me
fazem protestos, e cometẽ partidos pera aver de me dilatar prometendome salla
rio do Dezembargador e
aposentadoria das cazas e outros partidos semelhantes
[5]
como
Vm
Jâ deve de ter visto por suas Cartas.
[6]
Eu não quero Viver em Ceilão q hê trra de
grandes
falçidades e se me não emgano me pareçe que tenho mereçido bastante
mte ser companheiro desses Colegas
meritissimos.
[7]
Eu quero falar com Vm clara E
Verdramte como verdadro
amigo Snor Anto de faria pellos Sanctos eVangelhos da misa
que tenho gastado nesta Cidade
todo o dro que tinha pera me hir pera o Reino pq me
não tem isto importado em Vinte
pardaos
[8]
digo afora o ordenado o qual hê tão Li-
mitado que muito mal me chegua por estar mto Cara esta
trra cõ o Levantamto
dos negros e isto são puras Verdades: Eu não asseito a nenhũa pessoa mais
que ao-
geral Saguates de mimos de Comer e pellos mesmos Sanctos eVangelhos q não hâ
psa
nenhũa q me offereça outros como já Lâ devẽ de ter muitas
Vezes Escrito e hê boa testa
desta Verdade o pobre Dinis da fonçequa
q para se sustentar foi nessecro emprestar
lhe eu duzentos
czos por não termos athe agora de q nos pagar os ssalarios
[9]
elle estâ
muito meu
agravado
[10]
não ssei o q escreveria a Vm E a cauza hê porq lhe não
dei
xo Levar dobradas as Custas do modo q as leva do Vigro geral tendolhe dito que
faça hum Rol de todas as Custas que lhas quero pagar cõ mta Vontade
[11]
e faço
isto
porq hê o q mais se sinte no povo.
[12]
Tambem tirei os istillos do Tronqo
q hera hũ modo
de furtar aos q de novo entravão Como tãobem tirei as abuzões dos
meirinhos q em pon
do a mão em qualquer peçoa mas q fosse o mais mizeravel negro o não
ssolta
vão se lhe dar hũ pardao da prizão, e outros muitos abuzos e ladruiças q avia na
administração
da Justiça Civel, e Crime que de tudo conheço
[13]
geralmte com q não
tenho hora de meu
nẽ para comer nẽ para dormir porq o geral Levame todas
as noites imfavelmte
e o menos q gasta em cada hũa são quatro ou ssinco horas
E chove sobre mĩ com portarias
cada dia sobre varias materias e cõ tantas imformaçois q só
pera isto avia mister todo o tempo, e como me acha
Limpo de mãos fia tudo de mĩ porque
elle tãobem o hê, mandeme Vm ordem pera me hir de qualquer modo e ssem
embargo
de todos os embargos
[14]
se alguas cartas Lâ forẽ contra mĩ devem de sser de frei franco
da fonçequa
ou por sua ordem
[15]
dilateçe Vm em lhe dar credito athe me ouvir e ler as min
has papelladas et postea amicus Plato
sed magis amica veritas; torno Certificar a Vm
e juro por toda nossa amizade q a não ter o encontro
com o Vigro e Bispo q pudera
aLevantar cõ este povo, q tão bem q
visto estou e pello mesmo digo q fui forçado E contra
minha vontade e o tenho ssentido n a e no Coração; Mas não
me foi pocivel outra
couza como Ds hê testemunha
[16]
o q mais ouve nisto não hê pera Carta.
[17]
Pareçeume que
devo advirtir a Vm o ssentimto que dom Phellippe teve da Carta q
lhe escreveo o V Rei bem
fora de sseus mereçimtos porq tem obrado mais do
q se podia dezejar, e hê o mais capax talẽ-
to de grande governo q ca tenho visto
[18]
e sseu Irmão estâ
esse grão pessoa
[19]
e sse ouver oCazião cõ
os oLandezes ha de mostrar q hê bom soldado.
[20]
Ao Rei de Mattalle
obrigão
a vir Vi-
ver dentro na Cidade
[21]
Segundo q nisto ouvi emtendo q a elle e a nos Comvẽ
fazello porq
hê homẽ mto vario
[22]
e Chingalla hẽ grande
meu amigo
[23]
do mais deve avizar o geral q
tão bem o hẽ de
Vm a quẽ Ds gde como eu dezejo
[24]
Colbo
pro de Março 642
de Vm
Christovão Leitam de abreu
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