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[1580-1600]. Carta de dona Filipa de Jesus de Portugal, freira, para Jerónimo Botelho.
Autor(es)
Filipa de Jesus de Portugal
Destinatário(s)
Jerónimo Botelho
Resumo
A autora pede ao destinatário que interceda por ela. Queixa-se do isolamento, da doença e da falta de bens.
Texto: -
[2]
por dona marta d alpoĩ soube cõmo vosa m
estava nese mofino e cativo purtugal no
que riçibi cõsolação por ver este enterese
de escrevẽdo ter novas suas as quais peço
me mãde asi de sua saude cõmo do seu
negoçio q de verdade que mũi poucos são
os dias ẽn que diãte de ds me não alẽbre
pra lhe pidir defẽda a vosa m pra ẽnparo
desas duas snras irmãs suas de quẽi peço
me faça tãbẽi m de mtas novas.
[3]
de quẽi
mais as poso pidir jja vosa m o sabe por iso
não ẽncareso quão miudamẽte as quero
e tãbẽi porque he tãta minha desavẽtura
que as furtadas faço estas que não
me deixão ũ momẽto cõmo se eu ovese
de roubar o musteiro ou fugir dele.
[4]
nesa
carta ponha vosa m polas chagas de ds
diligẽçia e aviseme do que fas dela
[5]
as mais novas nosas são não bastar estare
mos desteradas senão cada ũa ẽn seu
musteiro
[6]
minha irmã louores a ds de
sude
[7]
eu cõ quartã dobre a sete mezes sẽi
nũca me deixarẽi
[8]
e avera vinte dias q
me ei alevãtado d ũa isquinẽçia mortal
[9]
e cõ nos terẽi cõmo negras sẽi nos
darẽi mais q de comer he este cõmo ds
sabe
[10]
nẽi ũas sapatas nos dão que as que
eu troixe nos pes trago agora sẽi
ter cõ que cõpre outras nẽi pra hũa
folha de papel q nẽi esa tenho de meu
[11]
mas se tivese novas do meu rei e ho vise
restaurado tudo isto e meu destero não
sẽntiria.
[12]
peço a vosa m asĩn ds lhe
valha que se e posivel outẽmos aĩnda
pa q de nos se doa nese reino nos acudão
aĩnda que sejja cõ pouco sequer pra cada
ũa seu calçado pois e meus pecados e fur
tuna me tẽi posta neste estado.
[13]
e se
manoel fernãdes he neste mũdo eu tẽnho
cõfiãça nele q por pouca que tẽnha
partira consigo sẽdo posivel darlhe vosa
m esta cõta.
[14]
eu lhe não escrevo por
q não sei õnde he deitado
[15]
mãdeme vosa
m novas dele e õnde esta pra lhe eu es
crever
[16]
e da mais gẽte de que as souber desta mo
fina casa pra minha cõsolação.
[17]
dona marta me escreveo q vosa m a mã
dara cõsolar pola morte de seu irmão
[18]
fesme a mĩn mũi grãde m e ma fara todas
as vezes q se dela alẽbrar porque lhe quero
eu mto.
[19]
não quero mais ẽnfadar a vosa m
[20]
escrevame mto largo e mtas folhas de papel
[21]
nesa carta não falo porque bẽi ẽntẽdera
pra quẽi he
[22]
noso snor de a vosa m o que eu
desejjo amẽ
[23]
desta sẽi vẽtura desterada
dona filipa
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