O padre Manuel José Ribeiro Pontes escreve a frei Simão de Santa Ana a contar a conversa que teve com mais três religiosos sobre o tema do livre arbítrio e a perguntar se tinha a obrigação de denunciar o que lá ouviu. A resposta é escrita no espaço deixado livre pelo autor (ver CARDS2034).
Mto Rdo Snr Pe Fr Symão de Sta Anna
Ja vay passando de tres semanas, q eu me achey em
huma conversa com tres Religiozos de S Francisco no
seu mesmo convento, e hum delles
proferio algumas pro-
poziçoens, por razão das quais quero saber se devo de-
nuncia-lo áo Sto Officio; as quais eu não saberei bem
dizer, ou explicar-me
bem por carta; mas das respos-
tas, q eu dava, se poderão milhor entender: Em pri-
meiro lugar; disse elle, q sabia de mtas
pessoas, q vivi-
ão entregues àos peccados fiando-se em q se fossem pre-
destinadas pra o ceo, se havião de salvar; e sobre isto
não
me lembra o q elle mais foi dizendo; e dizendo eu, q es-
tando-se doente era escuzado chamar o medico, porque
se estivesse chegado,
o termo da vida, certamte morria,
e q não estando, não morria; e então elle disse q ahi
obravão as cauzas segundas; e tambem
q o homem não ti-
nha termo determinado pra morrer: e isto julgo ser
aquellas palavras de Job- constituisti terminos... Disse
, vinha a dizer q o homem não tinha Liberdade; e
isto não sei de q
modo o disse; mas lembra-me, q outro Re-
ligiozo respondeo q, o q elle dizia era contra o Concilio
Tridentino; e eu tambem disse,
q se o homem não ti-
nha Liberdade tambem não peccava: Disse tambem
a respeito de se perderem os
meninos q morriam sem
Baptismo- pois elles q culpa tem? - ainda q me não lembro