1722. Carta de frei António das Chagas para um Inquisidor, provavelmente António Ribeiro de Abreu.

J M J Meu amo e sor

Hontem me veyo de Amarante a de Vmce escripta em 18 deste mes, e hoje recebe-ria outra q o correyo passado lhe escrevi, e tambem meu compo enviou outra ambas com mtas denunciaçõis destas benzedeiras, q ainda vão continu-ando, e hiremos remetendo, e Vmces lá se avenhão o certo he q algũas parecem graves, e sempre es-ta gente (q por aqui he mta) havia mister hũa be-nção; algũa gente ja disconfia de perguntarmos demaziadamte por isto na confisão, e he em tal forma q o cura desta frga perguntou a meu compo se traziamos nós ordem do sto offo pa inquirir destas couzas; mtas pessoas não querem dar Licença pa se denunciar porq receão algum mal aos denunciados a quem são affectos, e ainda asi por mais q lhes seguramos não terem nenhum perigo os denunciantes. Hoje partimos deste convto por hũa via sacra em Macieira q fica aqui vizinha, e ámanhã poremos outro em Pinhro q he sua annexa e na da fra himos principiar a missa em Margaride, e dahi a Pedra Maria, em hũa das quais ptes espero aquelle sogeito em q ja lhe falei a Vmce se o demo o deixar vir, mas ve-nha, ou não venha, eu sempre lhe hey de fallar, porq ja deixei isso armado, ainda q o diabo cuidou enganarme nisso; poderá agora dizer q estava zombando no q me disse, e no q comigo assentou, se he q á confissão se vem fazer semilhtes zombarias, porq eu lhe não sinto outra desculpa q me possa dar; porq a de falta de juizo q he outra q se podia conjecturar não ha pa se adimitir porq o tal sogeito mostra ter bastante; quererá Ds q o demo não faça a sua e q o q tem tão bom principio chegue ao dezejado fim q pertendemos. Tambem fallei com a Ma-rianna, mas foi mto de passagem, e ella algũa couza porq nunca quis chegasse á confissão aonde eu a queria, e bem lhe armei a isso, e por bom modo; suposto sei q ella se havia de mostrar hũa sta ainda q eu me de-clarasse, o q não havia de fazer, mas sempre por algũas palavras remotas havia de experimentar se Ds a movia a algũa couza; esta gente destes dias pr Trás os montes, aonde assistem athe a primavera, por cá não falta q fazer, mto mais q no Crasto, encomendenos a Ds q nos ajude, elle gde a Vmce como pode

Cramos 24 de Novro. de 722 mto amo e S de Vmce Fr Antonio das chagas

Meu compo se recomenda a Vmce e eu ao sor Mel de Vascos