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Maarten Janssen, 2014-

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1723. Carta de António das Chagas, frade, para [António Ribeiro de Abreu].

Author(s)

António das Chagas      

Addressee(s)

António Ribeiro de Abreu                        

Summary

O autor pede ajuda ao destinatário quanto às acusações de que tem sido alvo, já que havia mulheres que iam confessar-se com ele e o acusavam de solicitação, defendendo-se o autor, afirmando que foi enganado por essas mulheres, dizendo que tudo foi obra do demónio.
Page 20r

[1]
J M J

Meu amo e sor Não me faltando trabos e afflicois na

[2]
occupação em q ando, agora me vejo na maior tribu-
[3]
lação q nunca me lembro tivesse, no papel incluzo vai
[4]
referido o motivo della; pareceme q vay na verde e tudo
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o q me lembra sucedeo. Tenho por sem duvida q isto he
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obra do demo, o q assim como este fes por desacreditar ao Dor
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de unlão lhe deo bem q servir, e isto so por elle tratar
[8]
e entender como Asmodeu, q excutou o q lhe ameaçou,
[9]
havendo eu consendido com 90 demos pouco mais ou menos
[10]
e havendo sido delles ameaçado mtas vezes, q podia esperar
[11]
não havendo em mim hũa suma cautela, vigilancia
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senão o q agora experimento? estas malditas me cega-
[13]
rão de manra pa não ver a gravide destas acçois q
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dellas faria caso, e creio q ja qdo da outra ves
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lhe escrevi a vmce algũa cousa disto havia, porem eu
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tal não pesava, ou não me lembrou, q se perdia isto
[17]
bem, crível la q ouvera esta diliga e não
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esperava q me avisassem como me avisarão hontem
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hũa das sobredas a D Bernarda dandome a entender
[20]
q se confessam com frade de Pombro com o qual
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se confessão galmte e q elle a obrigava a denunciar
[22]
de mim sobre certa couza q bom o mundo he isto, e mais
[23]
desta não me lembra senão o q no papel incluzo digo
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os mais suponho fizerão o mesmo porq bastava tocar hũa na couza, o q faria, porq o mes-
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mo demo lhe moverá escrupulos pa me fazer mal pa o pe examinar as outras. A mim me pa-
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rece se bem me lembro q Castro tem estas acçois por portuvas e q se não devem de
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nunciar mas outros as reportão por graves por serem fortes em tal occazião: suponho q
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a denuncia está feita, e q chegará o longo passado; verá vmce se vay o papel
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conforme p se remedear isto, q peçolhe como amo me avize se devo fazer mais algũa
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couza pa minha segurança: tambem creio q elas não dezião mais de q foi, e q o papel,
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se ajustará com a denuncia, porq do q me lembro, faço menção na realide se discursa
[32]
para algũa couza, não he por malicia minha, pois he sem duvida relativisado na
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verde vmce faça nisto o q eu de vmce espero, pois bem sabe q abaixo da salvação
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não posso ter couza de mais pezo q o credito. do mais não digo nada, porq não estou agora
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pa fallar em outra couza, e não sei como hontem preguei despois do avizo. Ds gde
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a vmce Paço de Borba 3. de Mayo de 723.

[37]
Mto amo de vmce
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Fr Antonio das Chagas

Despois desta feita recebi a de vmce de 28 de Abril

[39]
e admito q não sei se o religiozo, de Pombro chamado Fr
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Luis na denuncia fará algũa menção de sospeita de Moli-
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nismo por eu não admetir as sogeitas nada, como eu não mandei
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nellas escrupulo não lhe dizia nada, nem eu o farei, não faço
[43]
menção disto no papel, porq não entendo q nisto haja couza
[44]
, porq eu lhe disse nada em ordem a isto.

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