J M J
Meu amo e Sor
o correyo passado lhe escrevi a Vmce porem
não foi a carta porq mandandoa eu na 4a fra a Cra
mos incluza na de hũ religiozo
q costuma remetermas
na 5a fra a Amarante q he o dia do correyo, sucedeo q
da caza aonde eu a mandei partio
nesse dia hũ Rdo
Luis da Cunha vigro de Constantine lá pa Va Real q
havia de passar por Cramos e se encarregou
de entrega-
la, porem creio a levou pa a sua Igra pa lá a abrir,
como me dizem costuma qdo tem semilhtes occaziois
e
de lá a mandou e se entregou no sabbo estando eu em
Cramos, este Rdo dizemme q ja foi beijar a sta a esse
sto
tribunal he porq tambem he dos da con-
fra e plas informaçõis q me dão he bem dezenvergo-
hado, e tanto, q pa o demo encarecer a certa pessoa o qto
eu sou e fui mao, pa q se não confesse comigo, nem
me
descubra nada ,como fes sempre pa com todos os confes-
sores q lhe tem entendido o achaque, me compara com
o do clerigo, dizendo
q fui e sou tal como elle; só re-
paro q espicificando peccos em tudo mente, no q o não he
falla verde e tem descuberto
couzas q o tal sogeito não
podia saber sem o demo lhe dizer: eu tenho tido gra-
ves contendas com este demo tem feito por me meter.
medos,
e feito ameaças de morte, e fesme morto algũas
vezes, hũa em hũ barranco outra de hũ tiro e outra
de fogo fazendo se visse arder a caza em q eu dormia,
e qdo soube eu queria hir
tirar o depoimto pa a denuncia se pôs no camo com hũ esquadrão de demos em
hũa
encruzilhada de hũa e outra pte com espadas largas e luzentes em ameacando-
me se pr ali passasse, isto veo a mer mtas vezes, e peguntandolhe
pa q era
tantas, e tantas armas pa hũ frade q havia de hir só respondeo, q bem sabia q
pa
mim um só bastava, porem q queria q cada hũ me cortassse hũ bocadinho e
formando hũ frade como eu a fte do tal sogeito,
o forão partindo em pedacinhos
com as espadas dizendo q assim me havião de fazer, e por isto, e outras mais couzas
me quis ella tirar de lá hir, e por ali passar tendo por sem
duvida o haver
de ter algũ perigo, do qual eu nenhũ receio tive, pois estava certo q sendo
asinado em servo de Ds não podia o demo
fazerme mal, e assim foi porq veo
o mesmo sogeito q ao passar eu plo sitio todos os demos virarão as espadas com
as pontas
pa si, e ajoelharão bem sei q não ajoelharão á minha virtude
porq della tem o demo bem pouco
medo, mas ou foi a dignide de sacer-
dote ou ao plo linho q trago como o de vmce ou querer Ds aterralos, e cas-
tigalos
no mesmo lugar aonde intentavão impedir o seu servo tem toma
do a minha figura, , pa enganar e feito couzas inauditas.
o clerigo q
acima digo não deve de estar verdramte convensido porq ainda
qdo cá vem á terra persegue a certo sogeito com quem tratava no temp
das diabruras,
e a ella lhe custa mto defenderse delle. Na da carta di-
zia a Vmce em como o sogeito não quis q eu fizesse a denuncia em seu
nome
senão hir fazela a hũ Comissro porem despois solube q o Comissro
a quem fis foi o mesmo demo e não foi
pouco o dar nisso, e ca
pas de assim o entender, como ja o entende, e dis q só outra vés pade
cera semilhte engano ,queira DS
não fosse mais vezes, e q cuide ella tem
tem denunciado algũas couzas q não estão denunciadas. Como este sogeito estava sem confes
sor
q lhe conhecesse o achaque ,nem todos lho entendem plo modo q ella se confessa, veio darme a
mão, e com a frega de confissõis, e
comunhõis se tem descuberto mtos pactos, e o demo entre
gado couzas em q elles estavão, porem ella ainda tem mta couza disto, de
q procede en
ganala o demo a cada passo, e com a confissão e comunhão se dezengana, e então lhe dá
Ds luz pa conhecer a
verde este nego he tal q eu não me entendo com elle toendoo
esquadrinhado bem em largas conferas com o sogeito na confissão e
extra, e por hora
só pude averiguar devia denunciar o q remeto na forma q melhor o soube fazer. No
q toca aos mais pactos q são
mtos os q tem confessado porq de novo com as repetidas con-
fissõis e comunhõis lhe lembrão, são de couzas q de novo lhe nacen no
corpo, varios instrumtos
as quais couzas tocadas por ella, ou tocando com ellas a outrem hia peccar com as
tais pessoas, ou ellas vinhão a certa
pte peccar com ella e dis q não sabião do tal pacto, mas
era isto por hũ modo q eu agora não tenho tempo pa dizer ainda q
já o entendo e todas es
tas pessoas com quem tocão ou a quem respeitão estes pactos de novo lembrados dis ella
ja estão denunciados em outros pactos q
antecedentemte lhe lembrarão, e q por isso sente
deve de novo denunciar nada disto, e q assim o
praticarão ja os seus confessores, e eu nis
Fto fico em duvida e assim lhe disse q mandava perguntar a Vmce o q nisto se devia
fazer,
Vmce mo mande dizer em modo q eu lhe possa mostrar a carta pa q ella fique com
menos duvida; os pactos dis ella são
semilhtes a outros q ja denunciou e os peccados q com
as tais pessoas foi da mesma especie
etc eu entendo plo modo com q o demo armou
esta tratada, q não sahirá nada a luz, salvo havendo modo, ou porva
com q esta Marian
na de Simõis se prendesse, e lá obrigada com tratos, ou exorcismos quizesse declarar ver
dade, porq
como ella foi a q ensinou a Roza, tambem ensinaria mais, e a ella alguem
a ensinou; das mais tocadas tenho confessado trés ou quatro das já denunciadas, não tem
couza
q se diga; a outra pa q pro pedi licença sempre entendo he das finas, porem parece-
me não he da confra da Roza; ja me
tem vindo 4 vezes aos pés e nunca quis ou não pode
confessar, sempre foi sem absolvição, hũ destes dias me tornou a fallar, q ainda havia
de vir outra vés cuidando eu
q mais a não via porq nos despedimos, eu não a entendo.
o correyo passado me remeteo o Prior de S afo a de Vmce em
reposta da q lhe escrevi de
Pombro na qual fallava no q foi pa tirar os cabellos, outras mais couzas destas tenho
feito nao tão graves
mas era precizo, e o Fr Mel das Chagas, e o Ror de Onhão qdo
tratavão deste sogeito fazião o mesmo, athé gora não me parece illicito o
q foi estra con-
fesso em suposta a necesside do sogeito e persuadirme eu q sem perigo proprio o fazia, só
hũa couza tem em q eu
me não quero meter, porq não quero nem posso fiar tanto de mim
estimarei q o sor Mel de Vascos esteja com melhoras,
e alcance logo saude perfeita pa tra
tar das suas concluzõis. Ds gde a Vmce
Refonteira
29. de Dezembro de 722
De Vmce mto ao e s
Fr Anto das Chagas
Depois de ter a carta feita me remeterão a de Vmce deste correyo
em reposta de q lhe escrevi e e a de Vmce he escripta em
22
deste. disme Vmce q não entende bem esta tratada e assim creio q
será porq por letra
não se pode explicar bem e procurando eu sabela de
rais em mtas e largas conferas q pa isso tenho feito não sei se a en-
tendo bem,
si entendo q por letra mal poderei dizer o q tenho entendi-
do nesta matra emqto a fazeremse as denuncias antes de ab-
solver he couza
q não pode ser, nem este nego pode correr plas regras
gerais porqto só despois de comungar está o sogeito capaz de poder
fallar em
modo q ja entenda, porq como o demo a tem ainda
ligada com mtos pactos e estes sempre lhe vão lembrando de novo
qdo frequenta os sacramtos emqto não abjura os q lhe lembrão e
a não absolvem, está o demo mui forte, e não a deixa
ser sra de si,
eu a absolvi mtas vezes com promessa de fazer despois tudo o q eu
lhe disser lhe he precizo pa descarga de sua
consciencia: e entendo
q esta mer está verdramte convensida e q se tomara ver livre
de tudo, e fara o q lhe disserem he
necessro porem no q toca a reno-
var as denuncias q ja fés isso será metermonos em hũ cabamito
e confuzão, q
lhe fará mto mal a ella, e só estando ja totalmte livre
do demo poderia sem menos prejuizo repetir o q tem dito; si me parece
q se podera fazer isto a respto de algũas couzas q a Vcme lhe parecerem
mais graves, e essenciais, e q lá não estejão bem
declaradas, se a respto
disto for nra algũa declaração della, por algum modo lha farei fazer
porq ainda por aqui havemos de andar perto athe a quaresma
e,
eu tenho disposto o nego em termos q posso hir algúns dias fallar com
o
tal sogeito a sua caza, e sem a sua gente entender o q he,
porq a
tem por assombrada, e cuida, e tambem os mais q lhe vou ler exor-
cismos etc outras vezes vem ella ainda No q toca os pac-
tos
q de novo lhe lembrarão mandeme Vmce dizer se basta q fi-
quem assim sem ser nro declarar algũas pessoas com quem tocão
tais pactos
como a da mer entende e assim me parece plo modo
q me dis se fazia isto, e como ja forão as tais pessoas denunciadas
por culpas
semilhtes e não sabem por q modo erão constrangidas
a peccar, dis a tal mer lhe conselhavão os confesores não falasse nisso
salvo ouvesse pessoas
diversas, modo de peccar diverso etc e assim dis
q tem passado mtas confissois, e se ouver de tornar a dar conta disto
serlheha mui custozo e talvés
nocivo. sobre isto peço reposta em
forma q lha possa mostrar; só me fallou em hũa criança en-
tre as mtas q se matarão pa os Rios, das
quais tenho algúns em meu
poder pa se queimarem, pa a morte da qual concorreo a Marianna
e outras pessoas, dis q não sabe q as tais
pessoas q matavão as crianças
q as cozião, e queimavão, por mando do demo q ali assistia em
figura de homem, erão
sabedoras q aquillo era pa veneficios e por
mando do mesmo demo he mto de prezumir q assim fosse,
emqto
á Marianna não tenho duvida, nem tão pouco em q seja hũa gde
bruxa e por isso eu ja a Vmce toquei q tomara
apanhala em hũa
por modo q contra ella se podesse proceder, e em algũas destas mor-
tes das crianças he q eu a esperava, se ouvesse dos mais assisten-
tes
algú q contra ella depuzesse álem da Roza, porem esta me
disse despois q todas estas diabruras das tais mortes estavão denunci-
adas, e perguntandolhe eu
qtas serião, disseme q das q ella sabia serião
serião dés ou doze, se Vmce me poder mandar dizer se
lá fautas, e se está lá algũa em q entre a da Marianna e hú
clerigo q creio era pai da criança q então se chacinou, e
não sei
se parente da mesma Roza, segundo minha lembra porq se acazo
por este meio, ou plo depoimto do tal clerigo, ou por outro
semilhte
se podesse achar porva pa se prender a da Marianna, nesta he q
está todo o segredo deste nego e esta he a
q havia de dezembru-
lhar a meada, se lá ouvesse meio com q a obrigassem a fallar
a verde e de outra sorte suponho q nada se fará.