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1672. Carta não autógrafa de Domingas de Araújo para seu cunhado, Manuel de Araújo, padre.

SummaryA autora pede ao cunhado que dê notícias e que não se esqueça dela e da sua filha, uma vez que o seu marido está ausente no Brasil.
Author(s) Domingas de Araújo
Addressee(s) Manuel de Araújo            
From S.l.
To S.l.
Context

Processo de Domingas de Araújo, moradora na freguesia de Rio Caldo, Terras de Bouro, acusada de bigamia. Conteúdo do processo: o padre Manuel de Araújo, cunhado da dita Domingas e morador em Santo Tirso, denunciou-a à Mesa no dia 11 de março de 1690. Domingas de Araújo era casada com António de Araújo, barbeiro, irmão deste padre Manuel, e tinha com ele dois filhos. Depois de o seu marido se ausentar para o Brasil por 18 ou 19 anos, e estando ele ainda vivo, esta terá casado pela segunda vez a 20 de janeiro de 1687 com Francisco Afonso, "o Fidalgo", lavrador, natural e morador da freguesia de Rio Caldo, concelho de Bouro, de quarenta e três anos de idade, com quem viveu dois ou três anos antes de o seu marido voltar do Brasil. À data da denúncia, António de Araújo encontrava-se a viver em casa de seu irmão e Domingas continuava a viver com o segundo marido.

Ao que consta, o padre Manuel de Araújo lia sempre à sua cunhada as cartas que António lhe mandava, escritas com a sua própria letra. Também Filipe Bravo, da mesma cidade, teria voltado do Brasil e lhe foi dar notícias de seu marido, pelo que ela saberia que ele estava vivo.

Domingas de Araújo pediu então uma audiência para confessar as culpas. Disse que só sabia que o marido escrevia porque o irmão deste, o padre Manuel de Araújo, assim o dizia, e que dele nunca recebeu carta alguma. Disse que escreveu ao marido e dele não obteve resposta, pensando então que estaria morto.

Disse ainda que só fez os bens d'alma do seu marido por ter sido perseguida, com esse fim, por um abade e um cura locais.

Disse também que só se casou com o dito Francisco Fidalgo porque os seus parentes a perseguiram para que tal fizesse.

Finalmente, disse que, quando soube que o seu primeiro marido tinha chegado do Brasil, logo se afastou do segundo e se recolheu na casa de sua cunhada, Isabel Francisca, permanecendo lá por dois meses. Aí deu à luz uma criança, filha do segundo marido, mas logo a entregou ao pai.

Disse também que o seu primeiro marido entendeu que ela não tivera a menor culpa, e então mandou buscá-la para que voltasse para junto de si em agosto. E que quando a prenderam já estava em casa deste e que viviam juntos novamente. Depois de inquiridas as testemunhas e de analisados todos os factos e documentos, a ré foi considerada inocente e foi absolvida, mas teve que pagar as custas do processo.

Support meia folha não dobrada escrita apenas no rosto
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Coimbra
Archival Reference Processo 7445
Folios [40]r
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Fernanda Pratas
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Fernanda Pratas
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2008

Sentence s-4 bem sei q Vm não tera novas de meu marido he asim pode Vm ver essa carta q elle mandou a meu Cunhado he pode Vm saber de sua saude
Sentence s-5 he me paresse q Vms poderam ter algum alivio Como eu tenho visto o não ter diante de meus olhos q era o q mais estimava
Sentence s-6 he visto elle me faltar não me falte Vm com suas novas he de minha sogra he Cunhados pois Vms ficaram pera meu emparo he não ter outrem de quem me valha senão de Vms
Sentence s-7 He, se Vms se não quiserem lembrar de min sequer desta minina pois fiquou sem pai he não tem outrem senão a Vms, he sequer com suas novas me não faltem, he se Vms tiver alguas novas delle me avize ou saiba de ma de Araujo se teve alguas novas de seu marido, q talves veria algua carta pa mim

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