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Maarten Janssen, 2014-
Resumo | O autor envia instruções sobre a forma de seleção do futuro prior do convento dos carmelitas do Faial, cujo nome pode ser indicado, mas não eleito, pelos padres do mesmo convento. |
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Autor(es) | Lorenzo Caleppi |
Destinatário(s) | Vicente da Silva |
De | Brasil, Rio de Janeiro |
Para | Açores, Ilha do Faial |
Contexto | Um grupo de frades carmelitas do convento da ilha do Faial mostrava-se extremamente insubordinado perante o seu prelado. O núncio apostólico teve de intervir, enviando a carta aqui transcrita, destinada a centralizar em si a escolha do futuro prior. Sobre o núncio, D. Lorenzo Caleppi, leia-se um testemunho do respetivo elogio fúnebre (fonte: José Luiz Alves, "Os claustros e o clero no Brasil", Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 57, 2, 1894, pp. 2-158 (transcrição conservadora): «Porque gemem em dobre funebre os sinos do convento de S. Francisco? Que officio solemne é este, que ahi se celebra hoje, que attrae o povo em ondas, trajando pesado luto? Era a pergunta, que se fazia no dia 14 de janeiro de 1817. É o officio de corpo presente do eminentissimo cardeal D. Lourenço de Callepi, dos condes do mesmo titulo, arcebispo que foi da diocese de Nisibi e nuncio apostolico de Sua Santidade n'esta côrte. A igreja dos religiosos franciscanos está coberta de crepe, no centro eleva-se sumptuoso mausoléu e sobre a eça está o corpo embalsamado do finado cardeal Callepi. A missa é pontifical do bispo de Angola D . frei João Damasceno Povoas, religioso, ex-provincial do Brazil e Fluminense. No sólio está o bispo capellão-mór, D. José Caetano da Silva Coutinho; el-rei, a côrte, os bispos de Azoto, Pernambuco, Lantopolis e São-Thomé estão presentes e numeroso concurso de povo. Eis que surge no púlpito um dos planetas brilhantes d'aquelle claustro; é elle o douto padre mestre pregador régio frei Francisco de Santa Thereza de Jesus Sampaio, natural da cidade do Rio de Janeiro, onde nasceu a 8 de agosto de 1778 e morreu a 13 de setembro de 1830. No meio do mais sepulcral silencio diz elle, tomando por thema o versículo do Ecl.,cap. 45: Qlorificavit illum in conspedu regum; et jussit illi coram populo suo. «É dura esta lei, senhores, que arranca para sempre dos nossos braços aquelles homens, que postos na eminência das dignidades se faziam amaveis pela doçura e franqueza do seu caracter. Dizer-se que já não existe o homem necessario, útil ao bem publico, o amigo do pobre, o bemfeitor do orphão, o escudo do infeliz; que linguagem, que noticia tão ingrata para os nossos ouvidos? Dura lei! Mas esta lei é a vontade de um Deus omnipotente, a quem não se póde pedir conta de sua conducta: respeitemos, senhores, respeitemos os seus decretos; victimas da saudade, gemamos sobre o tumulo depositario de suas cinzas; e apezar de nossas lagrimas beijemos o punhal, que rompeu por uma vez os laços de sua vida. A Providencia nos mostra estes homens para que nós sejamos n'elles a sua imagem: elles apparecem cobertos de gloria e de honra na presença dos reis e das nações; porém o Senhor nos faz ver ao mesmo tempo, que elles são mortaes; que têm uma vida emprestada; que estão sujeitos a este tributo universal, que os grandes e os pequenos pagam nos horrores do sepulcro . Assim quando as tribus santas pensavam ver uma creatura immortal na pessoa d'esse illustre chefe, que apparece diante dos principes como a sombra do Omnipotente, que encheu de susto e de vergonha os orgulhosos sabios de Memphis; que obrigou os fortes da casa de Amon e de Enoc a beijar a terra na sua presença, elle cahio sobre o cume do monte Nebo fazendo gemer os escudos dos guerreiros e cobrindo de lagrimas os valles de Moáb. No excesso da consternação d'aquelle povo apenas lhe restava o allivio da lembrança, que o Senhor havia glorificado a Moysés diante dos reis, o encarregado do seu poder para salvar a nação nos dias de suas maiores desgraças: Glorificat illum conspectu regum, etc. Que desgraças, que calamidades, que scenas tão tristes não vou eu agora enumerar ? Parece-me, que minha alma vai retroceder a esses seculos de vandalismo, em que se viam tribus immensas fugindo diante do archote da guerra e procurando asylo longe de seu paiz natal. A Europa acabava de ouvir o formidavel estampido d'esse vulcão, que rebentara na França sepultando em seus abismos o throno de Henrique IV e de Luiz IX. Epoca fatal ! As sciencias, as artes, a honra, a virtude viram-se na dura necessidade de abandonar essas praças tintas de sangue dos reis e dos pontifices; emmudeceu a verdade em presença do erro triumphante, e os ministros do Senhor, as sentinellas do templo, foram depositar suas lagrimas e seus gemidos aos pés do supremo chefe da igreja. Com que demonstrações de ternura não foram recebidas em seus braços essas victimas do ostracismo revolucionario ? Não, senhores, a gloria da antiga escrava dos Cesares n'esses dias em que os reis e os heroes appareciam de rastos solicitando, como humildes pretendentes, o favor dos consules, não foi certamente mais admiravel do que quando appareceram aos pés do representante de Jesus Christo os veneraveis anciãos da igreja de França, pedindo um lugar em que descansem suas cabeças. O zelo paternal, a ardente caridade do santo padre Pio VI, de saudosa memoria, dezejava um homem que desprezasse os sentimentos de seu coração para com esses infelizes, um homem capaz de enxugar suas lagrimas, de adoçar o peso de sua desgraça, de os obrigar a se esquecerem das vantagens perdidas em sua patria; um homem, que no meio da indigencia fizesse apparecer a abundancia, que na falta dos recursos soubesse desviar a necessidade; um homem emfim cuja presença, cujas palavras, cujas maneiras fossem outros tantos motivos de prazer e de satisfação para esses miseraveis proscriptos. O eminentissimo Sr. cardeal Callepi achava-se então em Roma; quem poderia disputar-lhe a honra da escolha e o merecimento da preferencia? Sim, eu já o admiro á frente d' essa tribu de emigrados; eu já ouço de todas as partes mil vozes, que exclamam nos mais vivos transportes: Nós achamos no seio de Roma uma nova França, graças ao immortal Pio VI; na pessoa do illustre Callepi, elle nos deu a doçura, e a afabilidade no seu génio ! Vós conhecerieis melhor a força e a verdade d'estas exclamações, si eu depositasse sobre este tumulo os planos, que o eminentissimo Sr. cardeal Callepi traçou para providenciar a subsistencia d'esses infelizes entregues á sua vigilancia. Entretanto que elle apparece todo occupado d'este grande plano, pedindo aos pés de Fernando IV o auxilio de suas armas, seu zêlo tenta uma nova empreza, servindo-se da mediação do cavalheiro Hamilton, do incomparavel almirante Nelson, e do illustre marquez de Niza para libertarem o santissimo padre Pio VI, annunciando-o do meio das lanças que guardavam sua pessoa na cartuxa de Florença; empreza que seria realizada com o triumpho, si a victoria do despotismo consentisse que se roubasse à sua gloria a coroa de suas humilhações. A igreja triumpha emfim pela eleição do santo padre Pio VII, momento celebre tanto mais glorioso quanto eram maiores os receios de uma prolongada viuvez, e o anjo defensor da esposa vai esperar em Pesaro para ser o conductor até ás portas de Roma. O nome de monsenhor Callepi enchia as praças d'aquella côrte, e a vista de sua pessoa, a gratidão, o enthusiasmo da alegria publica, os transportes mais sublimes da sensibilidade chamavam as novas honras e as dignidadeS, que vieram recompensar os seus trabalhos. Eu o vejo, senhores, aos pés do solio pontificio recebendo das mãos do santissimo padre Pio VII a cruz do arcebispado de Nisibi e a commissão para a nunciatura apostólica para o reino de Portugal.» E passa a terminar n' estas eloquentes exclamações: «Sua vida entre nós foi uma prolongada enfermidade, ao mesmo passo que nós viamos ainda viçozos os louros que cingiam sua testa, a pallidez de seu semblante nos assustava; seu silencio parecia mostrar, que elle se apromptava para descer á região dos mortos: aquelles que haviam sido sempre inseparaveis de sua pessoa diziam: « Náo, já não é o mesmo homem.» Oh! morte, como são infalliveis os teus annuncios. Oh ! Oh ! morte. . . Cahio a victima, senhores, já não existe o eminentissimo Dr. cardeal Callepi; o golpe foi repentino, mas nós já o presenciamos; elle mesmo já o esperava de muito tempo.» E ainda haverá á vista do que acabámos de publicar, quem se atreva a negar, que frei Francisco de Santa Thereza de Jesus Sampaio não foi um genio do pulpito, um brilhante planeta do claustro de S. Francisco?» (pp. 95-98) |
Suporte | meia folha de papel escrita nas duas faces. |
Arquivo | Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository | Casa da Suplicação |
Fundo | Feitos Findos, Processos-Crime |
Cota arquivística | Letra A, Maço 8, Número 2, Caixa 23, Caderno [1] |
Fólios | 273r-v |
Socio-Historical Keywords | Rita Marquilhas |
Transcrição | Cristina Albino |
Revisão principal | Cristina Albino |
Contextualização | Cristina Albino |
Modernização | Rita Marquilhas |
Anotação POS | Rita Marquilhas |
Data da transcrição | 2007 |
1809. Carta de Monsenhor Lorenzo Caleppi, Núncio Apostólico, para Vicente da Silva, prior dos carmelitas do Faial.
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