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Maarten Janssen, 2014-

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1576. Carta de Julião da Costa, oficial da Coroa, para Maria de Almada, sua mulher.

SummaryO autor mostra-se confiante quanto à entrada da filha no mosteiro de Chelas. Além disso, dá notícias da sua estada na Índia e faz recomendações à destinatária, sua mulher.
Author(s) Julião da Costa
Addressee(s) Maria de Almada            
From Índia, Cochim
To Portugal, Lisboa
Context

Trata-se do processo de admissão no Mosteiro de Chelas de Francisca da Costa, posteriormente chamada de Francisca de Cristo. Deste processo, constam duas cartas do pai, Julião da Costa, oficial da coroa no Estado da Índia. Nelas, o autor dá as suas recomendações sobre a entrada da filha no mosteiro, além de outras notícias. A pedido do juiz do cível, ambas as cartas de Julião da Costa foram autenticadas por testemunhas.

Support quatro folhas de papel escritas em ambas as faces.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Mosteiro de Chelas
Archival Reference Maço 78, Documento 1541
Folios [17]r-[20]v
Socio-Historical Keywords Tiago Machado de Castro
Transcription Tiago Machado de Castro
Main Revision Catarina Carvalheiro
Standardization Catarina Carvalheiro
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2013

Sentence s-2 por via da Ilha da madra e do brazill lhe escrevi o q fizera por mill viaz se por tãotas me fora posivell
Sentence s-3 e o q agora mais sinto e não no poder fazer senão de ano en anno Ate q noso sor me tire deste cativeiro
Sentence s-4 ben creio snra q estareis esperãodo novas de minha viajen e saude as qs são fazerme noso sor nella mtas ms e darnos mto viajen e con saude de todos sen nos morer pa nenhũa
Sentence s-5 e viemos A goa en sinqo mezes e mo primro q todas as naos/ ainda q não tomamos mosaĩbique
Sentence s-6 mas não nos foi nesesario porq nos não falltou nada por aver senpre mta agoa pa os pobres
Sentence s-7 e a sobejou mta e galinhas e mtas couzas mais e conpartir con mtos q tinhão nesesidade ho q foi cauza de noso sor mo acresintar e serto asin paresia
Sentence s-8 fallar en minhas saudades quero escuzar pois e serto q cada de nos por sy pode jullgar ho q o outro podia sentir
Sentence s-9 e se tãoto A de custar apartarse A allma da carne como a custou ese apartamto des aqui e con mta rezão comesso a sẽtir e chorar esa teribill ora q lhe pormeto q en tall estremo me pos minha vinda q de todo estive detriminado A não vir a esta terra e deixar fazda e tudo o mais q della pertendia por sra não deixar a vos
Sentence s-10 mas teve tãota forssa a nesesidade pa comigo q me fez negar amor e vontade
Sentence s-11 não q en se pdese nenhũa destas couzas q digo mas porq vivemos de manra neste mũdo q pa nelle viver e nesesario deixar ho omẽ liberdade e võtade propia e entregarse no q elle pede e Requere
Sentence s-12 e porq isto não va mais por diãte e não mate a anbos escuzo de dizer couzas en q me deleitava porq ho tenho por milhor remedio q dizello
Sentence s-13 pois por ora se não escuza viver apartado de vossa conpanhia de tão dezejada de mto pouqa idade A q furtuna me foi me foi senpre tão contraira q me não nada do q tãoto dezeJava q ben lhe poso chamar nada pois q eses pouqos diaz q tive convosqo forão senpre tão inquietos e sen repouzo
Sentence s-14 lenbrame q deixei A meus fos A qn mto queria cujas lenbransas me dão tãoto sentimto q ho não posso dizer
Sentence s-15 mas coando chego sra as vossas acabo e não vivo mais porq estas são as q de tudo me tirão os sentidos ho ser e a vida e nesta pena viverei encoãoto viver vos não vir
Sentence s-16 mãodayme sra mtas novas de vosa saude e pa pois dellas vivo e de meu fo luis d allmada e se vay Ja ao estudo q na escolla ja não fallo
Sentence s-17 e asin as peso particullarmte de minha fa qn mais trago no sentido e mais trabalho me da porq he molher e algũ tãoto de sua condisão
Sentence s-18 della quero as novas mto meudamte q depois das vosas so nellas espero descansar se de meu gosto forẽ
Sentence s-19 coãoto A ma preta ellas mas mãodara de sy q idade ten pa isso
Sentence s-20 mas todavia as quero e dezejo posto q nos não conhessamos ella e eu
Sentence s-21 quero deixar lenbransas q matão e não sven por ora de mais e vir a outras en qn espero restaurar parte de meus desgostos e saudades A ql he pidirvos sra q conformemos a ãbos nesta minha võtade pois o fezistes senpre no mais o q vos sra pesso por saber q tivestes senpre A mesma võtade q e daremos A nossa fa A parte de ma manella a quẽ xpo dise q escolhera A milhor parte en deixar tudo po tornar a elle e q se ds foi svido de trazer ese dinhro da mina q a metaĩs freira pois isto e o sto e bon
Sentence s-22 e ahi pode ganhar o paraizo q se ben lhe queremos isto e o q lhe devemos de dezejar
Sentence s-23 pois e isto e o q agora mais dezejo pa refugio de meus desgostos
Sentence s-24 ho q con ella gastardes quero q va A minha cõta e escrevemo sra porq logo vos mãodarei outro tãoto pa prardes en fazda e pa iso o buscarei e me enpenharei e levarei mto gosto en o fazer porq sendo isto como digo me poderme ey ir pa ese ne reino como acabar o meu cargo de ormũz
Sentence s-25 e d outra manra sera nesesario andar qua mtos anos pa poder partir con minha fa como e rezão ho q não podera ser senão A custa do q digo e con a vida senpre mui arisquada
Sentence s-26 pesovos sra q ponhais diante A vos e a vosa fa os trabalhos en q tendes e os q pasastes depois depois q convosqo cazey e q iso e o mais baste pa vos mover ao q digo
Sentence s-27 põde de tras saudades e auzensia de vosa fa q não saira da terra nen Ira sobre o mar/ e a sera iso parte de de me levar ds mto sedo a ese reino q pois sra sofreis a minha auzensia e por tãotos anos con a vida tão arisquada por amor de vos justo he q sofraes A de vosa fa tendo A tão perto e con a vida tão segura
Sentence s-28 fiqo mui confiado q na reposta destas me escrevera q são ja meus dezejos conpridos e fiqa minha fa no mostro q sobre estas esperãsas vou ja vivendo e descansando
Sentence s-29 e o digo a meus amigos todos q tenho hũa fa freira/
Sentence s-30 ao snor bpo pode pidir de minha parte toda A ajuda e favor pa isto e pa o mais q tall amor e võtade me mostrou senpre q creio delle q q en tudo o q se oferesser me fara mtas ms coanto mais en couza tão justa e de sviso de ds
Sentence s-31 e o mesmo fara don Jo A quen pode acupar en tudo
Sentence s-32 Eu sra conprey qa hũs moinhos por sinqoenta mill rs q rẽden sesenta alqueires de trigo e não sei coantas galinhas e pagão de foro quinze alqueirescomo como vera plas escreturas q mãodo por tres vias os qs conprei A paullo cabrall cunhado de po frz tronqro do arsebpo pa quẽ vão cartas con estas minhas
Sentence s-33 e nesesario q antes q lhe mãoden as cartas mãodeis chamar po frz mell frz e lhe digaes q Roge A po frz q aja esta venda por boa e lhe dares A cartas q vão pa elle e pa po frz e pidirão A po frz os titulos e escreturas dos moinhos
Sentence s-34 e asĩ e nesesario saber quen he o senhorio dos moinhos pa q lhe rogen pa algũa pa q os não queira plo presso
Sentence s-35 diz este mãosebo q ho molro e obrigado A trazer este trigo A lixa e q ao mesmo molro arendou os moinhos po este preso po nove anos con hũa tera q ten os moinhos po ẽtão a conprei con tudo o mais q ptencer aos moinhos os qs nove anos diz q se acabão Agora
Sentence s-36 se lhe la pareser ben darlho plo presso fasao ho q tudo sera p conselho do lesensiado fernão duarte
Sentence s-37 outro irmão deste paulo cabrall e cunhado de po frz anda qa e ten hũas teras de pão en punos as qs me quer vender
Sentence s-38 saibão de po frz o q renden e o q vallen pa lhas conprar
Sentence s-39 pesovos sra q não aja couza q fos fasa ver nen ouvir novas de pesoas aqui
Sentence s-40 con tãota rezão o deveis Asi de fazer
Sentence s-41 e não bastẽ pa iso apostolos nen outras pas pa acabarẽ convosqo couza q en tãoto sentirey valha eu e a rezão nisto con ella mais q todos nen baste poren ha nesesidades pa lhes valer p sỹ nen p outrẽ
Sentence s-42 llenbrelhe q não quis eu nũqa valer ao prezo sendo minha may prezẽte q me a mỹ mto magoava
Sentence s-43 ãtes tinha gosto de lhes ver trabalhos e nessesidas
Sentence s-44 eu dando q iso q iso seria parte se enmendar e chegar pa ds e deixar o diabo
Sentence s-45 Eu sra não entro no meu cargo de ormũz senão daqui a tres A dous anos porq ho q serve não entrou qoando coando ouvera por enbarasso q teve do q fiquei tall q endey pder o sizo mas espero en ds q ho ey de svir e me A de fazer mtas ms pello q lhe vos sra mereses e eu vos pormeto q q tãoto q ho acabar me va logo pa vos
Sentence s-46 asin ds me sallve porq este e a minha võtade e dezejo e nisto podeis viver sigura e confiada
Sentence s-47 lenbrarvos sra q A nĩguen custa mais ho dinhro q A
Sentence s-48 tenho por escuzado porq o sabeis pello q pasães q ben basta ser elle parte de vos deixar nesa terra soo q me custou como q se me arãocara a allma do corpo e pa tãoto tenpo pa como digo me custar mais mais q A todos ainda q deixen molher e fos porq pa o sentir tenho eu mais rezões q todos do q vos sra soẽs boa testemunha
Sentence s-49 isto digo somte pa qte que se alguen vos pidir o voso lhe ponhaes o q digo diante e a vos pa ho não dardes
Sentence s-50 e coanto ao q for nesesario pa vosa pa e caza lhe peso e rogo por vida minha q ho gaste mto largamte q eu pa iso quero o dinhro e não pa outra couza
Sentence s-51 e fazendo o asĩ averei q folgaes de fazer sra o q vos pesso q espero en ds q me A de dar vida e q vos não A de falltar
Sentence s-52 por iso en nenhũa couza reseberei mor gosto q en saber q levais mto vida e q não tomais nenhũ trabalho nẽ desgosto q ho sentirei mto q paresse rezão q bastẽ os trabalhos passados q ben entendo q so sra vos podereis con elles
Sentence s-53 e pois isto Asĩ he não fasais ho contrairo do q vos peso se quereis q viva con algũ gosto
Sentence s-54 e seja isto de manra q me escreva este ano q ven q fiqa mto gorda e ben desposta porq eu o mesmo fiqo ds seja louvado
Sentence s-55 e a sra dona ma peso q vos queira mexiriqar comigo se fareis o contrairo e mo escreva mto meudamte q espero en ds que vos A de dar senpre o nesesario
Sentence s-56 por isso não deixeis sra de gastar ho nesesario pa o q se faltar dro venda as pesas q eu levarei outras milhores
Sentence s-57 se vender esas mãode chamar fernão lopez e pgũtelle ho q p vall hũa pesa de chamalote con agoas e coanto covados A de ter e o q vall cada covado porq en ormũz A mtas q dizen me q ten valia en lixa
Sentence s-58 folgaria de ho saber pa mãodar algũas e se valerẽ mãodallas ey todos os anos
Sentence s-59 e não se esquesa de me responder A isto
Sentence s-60 Coando me escrever digão os sobreescritos q se darão en goa A dio carvalho notaro do vizorey ou a mell nunez A sãta luzia ou A dio froes A nosa sra da lũz e q se as naos tomarẽ cochin as den A migell de ganboa ou A mell callasa
Sentence s-61 A sra ca cara minha comadre beijo mil vezes as mãos e q me encomende ao sor en suas orasões q lhe encomendo seu afilhado
Sentence s-62 no caixão vai hũa pesa de touquinha pa veo re vormelha q me encomendou
Sentence s-63 e q dizeilhe q não ven agora as outras maiores q forão a vir mas q se esa basta pa o veo da freira q he mto fina e boa custou cruzado la vos avinde con ella
Sentence s-64 A ma d allmada q seu marido po caldra hia na nao q se pdeu o ano pasado e q levava corẽta mill cruzados
Sentence s-65 isto serto
Sentence s-66 e agora veio da perdisão porq se sallvou toda a Jente e en hũa nao q fizerão pequena na ilha onde se pderão en q se sallvarão e algũa fazda
Sentence s-67 dizen q con ho q lhe fiqava na India coando se enbarqou e con a pedraria e allmiquer e anbre q sallvou ten ainda perto de vinte mill cruzados e q não sey coando se ira
Sentence s-68 quero hũa carta sua de mtas folhas de papell en q mto largamte me de cõta de si e sua vida e o q A mister Ainda q o eu saiba e quen na vizita
Sentence s-69 e mãodaime sra pidir tudo o en q tiverdes gosto porq en vollo mãodar sera ho meu
Sentence s-70 e não ajais sra medo de pidir A quen tomastes por penhor ho prinsipall q nelle avia
Sentence s-71 lenbrame q hũa vẽz me encomendastes q me goardase das frutas da tera porq erão perjudisiaes e q me goardase de as comer no que serto sra asertastes q taes são elas q fazen ben de mall A quen as come
Sentence s-72 e mais A q venho custumado as boas desa tera q e o q me faz ter mor avorisimto a estas de qa
Sentence s-73 e por tãoben sra cunprir o q me mãodaes tenho detriminado e asi A de ser de as não comer
Sentence s-74 e nisto estou mui seguro e o mesmo podeis sra estar
Sentence s-75 vede sra mtas vezes As minhas lenbransas e fazei tudo ho q nella pesso
Sentence s-76 e não aserte de fiqar algũa couza de ver por falta de a ler e asĩ me escreva se arecadou todo ho dro q se me devia e se vendeo a roupa e por coanto
Sentence s-77 coanto A Jorge da Costa mãodolhe q en tudo lhe obedesa e q se venha pa qa asin o aconselhes de coanto estever en lixa pouze con minha tia ou con algũ amigo q não seja de caza do jeronimo pra ou onde quizer
Sentence s-78 ho mesmo follgaria q fizesen os maĩs ospedes porq são contrairo de gritos e desenquietasões e por asin ser custume a quen não ten seu marido en caza como sabe
Sentence s-79 o mesmo voso irmão ãto fragozo
Sentence s-80 e asin o uzão en caza de vco lourenso e mais porq hos ospedes são de condisões q fallão senpre e fazen couzas q eu não fallo nen fasso ho q e perjudisiall asin pa a vizinhansa como pa quen ten hũa fa molher A ql não e rezão q ousa mtas couzas q se fallão q dizen eles q não e nada
Sentence s-81 e do mais folgaria q ouvese mta conformidade e amizade
Sentence s-82 A sra vosa tia beijai por mtas vezes as mãos q seu fo luis d allmada anda mto ben desposto mas não ten dinhro q foi Agora daquy ãtes q eu viese pa malaqa con fazda de omẽ q he cazado con hũa prima de sua molher A sra Izabell de teves
Sentence s-83 e sua fa beijay por mỹ as mãos e o mesmo a minha tia e prima e a minha comadre ca do carvalhall
Sentence s-84 coando me escrever respondame A tudo o q lhe escrevo sen falltar nada e pa iso veja a ese tenpo as cartas
Sentence s-85 Coanto as encomẽdas q mãodo as pas do q troux outras vão no caixão q leva Jo gomez na nao Caraoja ho ql e marinhro della
Sentence s-86 pella minha lenbransa no cabo della vera ho q e pa cada ho q tudo sra mãodareis asĩ como o mãodo porq me vai niso meu credito
Sentence s-87 e se as porsellanas q mãodo ao bispo e a martỹ ao ao po quebrarẽ algũas seja A quebra d anbos pa q não fique con tudo e outro nada
Sentence s-88 as encomendas todas vão en quaixão q leva Jo gomez marinheiro na nao Caraoja q e nesesario l mãodar pidir a ãto soares ou A mell pĩto q v mãode recado aos goardas q ho deixen tirar seu ser A caza da india e tanben maodai recado ao bpo q mãodella pidir q não vão as suas encomẽdas A caza da india
Sentence s-89 e se forẽ paguẽ os donos das encomendas os direitos
Sentence s-90 eu mãodo A don Jo vinte e coatro aratẽs de q laqure e buzio lavrado da china q tudo vai dentro no caixão de minha q he fa e ma duzia de canas de bengalla
Sentence s-91 o q tudo lhe mãodareis con A minha carta e hũs carosos e pevides de laraõjas q elle mto A de prazar as qs não sei Ainda en q irão
Sentence s-92 se mãodar algũ dinhro disto tomaio e escreveme o coãto e o q faz e não lhe esquesa de mo escrever pa saber ho q ey de fazer
Sentence s-93 en antes outras encomẽdas suas Areqadareis de don jo martĩ ao cruzado de frete das encomendas e tres joas de po frz e se o bispo mãodar algũa couza tomaio q ja de qa vai pago
Sentence s-94 Jo gomez bertollameu de llemos vai este ano e ãto lopez q cudo q vos irão ver
Sentence s-95 escreveme sra quen vos vizita e ve pa saber A quen devo
Sentence s-96 mãodaime sra mtas novas de vos por me fazerdes m pq de dellas so vivo e nellas tenho minhas esperãosas Ate q noso sor aja por ben de me levar diante dos seus olhos A quen peso se lenbre de vos e de e de nosos fos pa seu sviso A quen cubra de sua grasa e de sua bensão
Sentence s-97 a quen e a minha bensão os cubra e a vos elle de vida por se não acabar a minha
Sentence s-98 beijo vos sra as mãos

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