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Maarten Janssen, 2014-

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1690. Carta de Manuel de Almeida Veloso, comissário, para a Mesa da Inquisição de Coimbra.

SummaryO autor fala de uma família de judeus que tinha tentado fugir.
Author(s) Manuel de Almeida Veloso
Addressee(s) Inquisição de Coimbra            
From Portugal, Guarda, Vila de Melo
To S.l.
Context

Este é o processo de Clara de Gouveia, de 27 anos (em 1690), três quartos de cristã-nova, casada com José Nunes, tendeiro, natural do lugar de Dornelas, termo da Vila de Pena Verde, e moradora na Vila de Melo do Bispado de Coimbra. A ré foi presa a 2 de setembro de 1690 pelo familiar do Santo Ofício da Vila de Melo, Inácio Jorge Cardoso, e entregue a Leonardo José da Costa Coelho, alcaide dos cárceres. Segundo consta no processo e na carta transcrita, Sebastião Rodrigues e sua mulher Beatriz Soares, juntamente com Maria de Gouveia e seu marido Jerónimo Cardoso, e Clara de Gouveia e seu marido José Nunes, iam fugir para Castela. As três mulheres eram filhas de Gaspar Rodrigues (parte de cristão-novo) e Filipa Soares, e irmãs de Isabel de Gouveia, de Cecília Soares e de Branca Rodrigues, que se encontravam já presas nos cárceres da Inquisição por culpas de judaísmo.

Clara de Gouveia fora casada com Lourenço de Almeida, cristão-velho, mercador, e por ter ficado viúva voltou a casar, desta vez com José Nunes. A sua prima Clara de Matos era filha de Jerónimo da Rocha (irmão da sua mãe) e Maria de Matos. A ré tinha três irmãos e seis irmãs: Duarte Rodrigues, Manuel de Gouveia, Gaspar (morreu ainda criança), Brites Soares, Ana Soares, Isabel de Gouveia, Branca Rodrigues, Maria de Gouveia e Cecília Soares. Cecília Soares era tecedeira, casada com Nuno Fernandes; Isabel de Gouveia, com Francisco Grácia; e Branca Rodrigues, com Manuel Rodrigues. Sebastião Rodrigues e Brites Soares eram pais de Manuel Rodrigues, que em depoimento disse ter uma tia paterna de nome Clara da Silva, casada com Dom António e moradora em Castela. Talvez por isso tivessem tentado fugir para lá.

Clara de Matos, casada com Domingos da Rocha, tratante, era prima de Clara Gouveia e também foi presa. Testemunhou na Mesa do Santo Ofício em como ela e Clara de Gouveia se haviam confessado em sua casa como crentes na lei de Moisés. Grande parte desta família foi interrogada e presa na Inquisição de Coimbra.

Em confissão (a 06.09.1690), a ré diz que sete anos antes, no lugar de Arnas, termo da Vila de Sernancelhe, em casa de seu irmão Manuel de Gouveia, cristão-novo, sendeiro, casado com Maria Cardosa, cristã-nova, natural da Vila de Almandra e moradora no dito lugar das Arnas, estando a sós com a cunhada, esta lhe disse que devia crer na lei de Moisés para salvação da sua alma. A partir dessa data, Clara de Gouveia começou a crer na dita lei, fazendo os jejuns e as cerimónias respetivas, acreditando que a cunhada lhe ensinava o que era certo.

A ré foi condenada a ser recebida no Grémio e União da Santa Madre Igreja com cárcere e hábito perpétuo, a ir ao Auto da Fé na forma costumada e nele abjurar os seus heréticos erros em forma. Os inquisidores aplicaram-lhe ainda uma sentença de excomunhão maior, determinando que todos os seus bens fossem confiscados para o Fisco e para a Câmara Real. Foi também sentenciada em todas as penas de direito, penitências espirituais e instrução ordinária, sendo tida como herege pela sua confissão.

Support folha de papel dobrada escrita no verso do primeiro fólio e no rosto do segundo.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Coimbra
Archival Reference Processo 1118
Folios 10 v e 11r
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Cristina Albino
Standardization Catarina Carvalheiro
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2008

Text: -


[1]
Cheguo o caminho a esta Villa pellas des horas de 4a fra e loguo despus as reizois com a exclução q se fes na forma q VSa me mandou, exçepto a de Sebastião Roz e sua mer Briatis Soares, q na noite de dominguo passado se forão fugidos pa Castella
[2]
expoe informalos q tomei, e noticias q se me derão tam livres
[3]
achei ser impossivel darlhe alcançe porqto forão mto a Leveira, e tinhão passadores por via de seu irmão medico q assiste em Sevilha
[4]
e he çerto q os q estão prezos farião o mesmo pois se lhe não achei dro pa a leva, nẽ pessas de ouro ou prata tendoas,
[5]
e estavão pa partir os maridos prezos na Cadea pa a feria de S Bertholomeu de Madreuguada, se he q não seguirã os passos dos outos, q como tenho ditto forão tanto a Leveira q deixarão os filhos em caza de Mel Henriques e Clara da Silveira cristãos novos moes nesta Villa e dois delles são ja de idade q vendião na logea as fazendas,
[6]
e se dis e ha fama de q os hão de mandar buscar, e ambos se chamão o nome de Mel
[7]
circuinstançias q me pareçerão acerto declarar a VSa; como tambẽ de q os fugidos tẽ irmãns e cunhadas em a Villa de S Marinha, e em o Luguar de Arcuzello,
[8]
e me dizẽ q se vierão despedir delles a esta Villa, e tãbẽ tẽ as mesmas no Luguar das fréixedas, e Vila de Çernheco, q todos se comunicavão e vezitavão.
[9]
e esperuo os q são na feria pa fazer o dro pa a leva dos prezos e seguirei e ordenarei tudo o mais q VSa me manda e a pena em a vida q me assiste de não se lograr em cheo
[10]
tudo ssó ds o sabe;
[11]
este snor gde a VSa sempre
[12]
Mello e de Aguosto 23 de 690
[13]
Capellão de VSa Mel de Almda Vellozo
[14]
Ouve equivocação na informação q me derão dos filhos q a VSa diguo, porqto avizarei, de çerto q os filhos das prezas são os q estão na Caza de Mel Henriques, e os dos fugidos q assima relato estavão em caza da Ma de Gouvea sua tia e de seu marido Hieronimo Cardozo, q me informarão estão em caza de Anto glz de figdo christão velho e de sua mer Mariana Mendes christã Velhea desta Va
[15]
e fazendo deligençia pa os reter ate avizo de VSa achei çertamte q fugirao vindo do luguar de Nabais como lhe disserão estavão prezas as tias
[16]
e me affirmão forão pa caza de Raphael da Silva seu tio da Va de Çernache,
[17]
ainda mando fazer deligençia q achandoos os mando reter e depozitar em huã caza até vir avizo de VSa por quẽ levar os prezos q estarão em esta Inqam athé 3a fra q vẽ qdo a VSa não pareça mandalo pzo

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