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Maarten Janssen, 2014-

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1680. Carta de Manuel Borges da Silva para Manuel da Silva Pereira.

Author(s)

Manuel Borges da Silva      

Addressee(s)

Manuel da Silva Pereira                        

Summary

O autor dá notícias sobre diversos acontecimentos, factos para os quais pede ao destinatário o máximo silêncio. A primeira parte da carta é dedicada à situação da casa do senhor Mendo Fóios, onde se encontra um mordomo-correeiro pouco sério.

Text: -


[1]
Amo e sor este Correo não tive carta de Vm por cuja cauza fico com cuidado por imaginar q andava ocupado com a sua jornada q he a couza q eu mais sinto ter a Vm tam longe, por cuja razão fico com muita pena ainda q ma alevia o saber q Vm logra Saude porq asim mo escreveo o Amigo Don Sebastiam de Miranda q logo me mandou entregar as 12 patacas as quais o amigo dom Sebastião de Miranda digo Dom gabriel Luis deu logo com a maior pontualidade q se pode pelas quais beijo assim a mão Muitas e repetidas vezes pelas honras e mces q me fas:
[2]
eu ja hoje foi o pro dia q sahi fora porem tam fraco q não poso andar,
[3]
fui a comfessarme q he o q devia fazer em pro Lugar, despois ds ajudara.
[4]
hontem escrevi hua carta ao sor Mendo foyos em q lhe dezia q as cauzas por q não quiz ate gora açeitar a comida q Sua mce me queria dar havião sido por me parecer q esta enfermidade não fose tão larga,
[5]
e porq me achava em comvalesensa em a qual me hera neçessario fazer mais gasto lhe pedia me mandase asistir da cozinha pa ajuda de convaleser.
[6]
Respondeo q me desem tudo o q me fose necessario:
[7]
esta suplica lhe fiz porq me diserão q estava enfadado comigo por eu não haver querido açeitar o q me mandava dar, por e eu por saber se era asim, e se persestia no mesmo emfado lhe fiz fiz esta suplica para q em cazo q eu não me mandase dar nada me mudar de caza, porq não era rezão q eu estivese aqui comendo a minha custa, e com sua reposta fiquei sosegado, e me deixei ficar.
[8]
Sem embargo q eu em o papel q lhe escrevi dava aquela disculpa porq não havia aseitado, não era aquela a cauza.
[9]
a cauza era, porq aseitando eu a primeira vez a comida q mandava dar, vi q o picaro do corrieiro q he o q governa, me mandou ao jantar meijo aRatel de carneiro sem mais pam, e a noite não mandou de sear couza nenhua,
[10]
como vi isto ao outro dia vindome perguntar q queria iantar, e isto as duas horas depois de meio dia, lhe Respondi q nada, elle gostou mto e não me mandou couza nenhua mais, nem entrou mais a verme sendo q o sor Mendo foyos me veio a ver sinco vezes o o seis, este cavallero he mto bom fidalgo
[11]
porem não sabe governarse da porta para dentro, pelas rezois q direi.
[12]
Primeiramente o seo Mordomo q he o corrieiro he o descredito desta caza, porq faz ofiçio de Mordomo, faz Ofiçio de comprador, faz Ofiçio de pagem pegando nas tochas, e indo comprar a carne o asouge, e o pexe a prasa, e o q pode furtar furta e o emvia a putas:
[13]
os outros dois gentis homens q trouxe são pagens, e são gentis homens porq tomão as tochas com capa e espada, servem a meza Levando a comida com capas e o corrieiro tambem faz o mesmo e serve a meza e leva os pratos com capa
[14]
e hua noite foi alumiar ao sor Conde de Oropeza com hua vela:
[15]
finalte paramos deste Corrieiro
[16]
murmarão todos e não so castelhanos, como portuguezes do descredito da caza, e he tal q manda pedir pais paens emprestados a vezinhança pera por ao senhor na meza a horas de comer:
[17]
os Lacayos zombão dele, porq dizem q hu corrieiro não he pessoa para os poder mandar, e todos clamão pello sor Duarte Ribeiro e por Vm , e não so os Lacayos como a vezinhansa:
[18]
o sor Mendo foyos ia sabe alguas couzas delle, e ia o ouvera emviado para Portugal se não fora hum frade q aqui esta dentro de caza Portugues, q o desculpa.
[19]
a sala sempre esta fechada não se abre senão quando vem algua vezita, e quando vem a vezita andão buscando quem tem a chave e não parese nenhum, e a vezita aguardando, e elles metidos todos em caza da tabaqueira,
[20]
porem sabendo o sor Mendo fojos hu dia destes o q pasava em caza da tabaqueira, e me parese q hum se afeiesou a filha q receando se cazava com ella, mandou q nenhum entrase la mais, nem de caza da tabaqueira viesem aqui, e q se viese alguem q lhe desem com hu pao, com q ia não vão, menos o corrieiro q a furtadelas vai.
[21]
fora obra boa se se lhe puderão tirar de caza este corrieiro
[22]
isto so sua Alteza lho podia mandar.
[23]
hum dia foi o corrieiro comprar carne e entrou no asouge a cavalo, o q não se acostuma ca,
[24]
os carniseiros q tal virão derãolhe hua surriada e elle apunhou a espada, e perguntadolhe quem era
[25]
soubese q era Mordomo do sor Mendo fojos, e o senhor Mendo fojos soube disto, e desde q o soube numca mais o levou no coche consigo.
[26]
com o que a vista disto não se fala em outra couza mais q no governo do sor Duarte Ribeiro, e de Vm, e na sua modestia todos a hua boca,
[27]
crea Vm q estas dezordens desta caza tem dado mayor credito Vmces, q sem embargo q ficarão em bom credito he agora quatro vezes maior com as dezordens desta caza azerca dos pagens
[28]
tambem não faltou quem ia disese ao sor Mendo fojos q neçesitava de dois meninos pequenos q servisem de pagens e ia estava niso, e o frade lho tirou da cabesa dizendolhe q para q queria mais gastos.
[29]
Veja Vm q politico he o frade para tomarem seos conselhos
[30]
tambem fora obra sua q aqui não estivera este frade fora do seo comvento.
[31]
mto mais ha q dizer ira em outro capitolo porq he materia q requere ir em outro apartados.
[32]
eu sinto mto dizer, isto porq não paresera a Vm bem q estando eu em hua caza de portas adentro conte as faltas della,
[33]
porem eu não digo mal do sor Mendo fojos, digo mal do mao governo de quem o governa, pelo zelo q tenho de q não censurem a este sor
[34]
a cozinha nunca tem forma de carvão q estão os negros chamando e o corrieiro o da a quem quer:
[35]
e so a Vm e ao sor duarte Ribeiro disera eu e contara estas couzas a quem estou tam obrigado, e porq não paresese mal a Vmces o contalas o hia dilatando, e bem conheso q pella parte de Vm e do senhor duarte Ribeiro estou seguro de que se saiba q eu faço este avizo, e com tudo isto o Receava fazer,
[36]
o mais q tenho q dizer ia q comesei ira no correo quem como ia dise.
[37]
A esta hora me emviou dom domingos pinheiro aqui hua carta de Vm que me livrou do cuidado com q ia disse a Vm ficava de me não escrever:
[38]
domingo esta sangrado e me mandou dizer o desculpase para com Vm de lhe não escrever:
[39]
Vm da minha parte beijara a mão ao sor duarte Ribeiro pella mce q me faz das cartas q me diz
[40]
a do duque sera mto boa e q venha com encaresimento, e ia q falamos em o duque me alembrou q pode ser q lhe de alguas notiçias da comunicasão q pode suceder tenha em esa corte Frco de Mendonça q ca esta em caramanchel aonde ficou qdo Vm se foi;
[41]
e o porq digo isto he porq recolheo e tem em caza aquele portuges q se chama thomas da costa. com quem Vm falou em caza de dom frco de la puebla, este tal he de Cluos , e he mto da parcialidade do Padre Antonio Vaz da companhia q la prenderão e foi com elle daqui a ingalaterra,
[42]
e Anto Vas era mto do Mendonca, e o thomas da Costa mto de Antonio Vas.
[43]
e agora este tal thomas da costa foi os tempos atras a lisboa, e o quizerão la prender por traidor dizendo que acompanhava daqui ao Pe Antonio a inglaterra, e outras couzas de q eu tenho alguas notiçias, e se as averiguar farei avizo a Vmces e tambem ao duque por fazer em isto serviso ao noso Prinçipe.
[44]
e porq estas materias são de tanta importançia como Vm sabe não as comonique com ninguem, nem a dom Sebastião de Miranda fale em thomas da costa
[45]
nada sobre thomas da costa porq||porque he seo amigo;
[46]
e tambem me parese q Vm me escreva em nome mudado daqui por diante e seia o nome Amador dias da Costa e seia pelo Correo e não por outra via, q eu as irei buscar ao correo pesoalmente
[47]
e com isto me pode escrever seguramente e falar mais largamente sobre os negoçios q lhe pareser, e me quizer perguntar e saber:
[48]
escuzado era fazer a Vm estas advertençias porq sabe o que ha de fazer,
[49]
porem mais vem quatro olhos q dois.
[50]
o demais guardo para o Correo q vem:
[51]
ao sor duarte Ribeiro não escrevo porq fazendo a Vm he o mesmo.
[52]
Ca prenderão estes dias muitos Judeos.
[53]
e prenderão pela inquisisão ao Aguazil Agostinho da Silva e a sua mulher quem tal pensava.
[54]
Não posso mais a ds q gde a Vm
[55]
Madrid em 4 de Abril de 680
[56]
Amo e servidor de Vm q s m B Mel Borges da Silva

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