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1833. Carta de António Anacleto de Seara, tenente-coronel de engenharia, para Vicente António da Silva Correia, brigadeiro.
Author(s)
António Anacleto de Seara
Addressee(s)
Vicente António da Silva Correia
Summary
O autor, que enviuvou recentemente, conta ao destinatário como sofre pela morte da mulher. Dá também notícias sobre as lutas liberais.
Text: -
[2]
Amigo do C Afinal vereficou-se o que eu tanto
temia,
[3]
ja não existe minha Mulher a qm tanto
amava!!
[4]
Eu estou conforme com os Decretos da Provida
[6]
ella não seria victima se
eu tivesse chigado a Lxa a tempo de a poder salvar,
mas esta dura Ley Militar, foi o seu assassino,
[7]
e Ds queira não faça ainda mais victimas.
[8]
Ah meu amigo sofrêr tanto com
huma doença tão impertinente e doloróza, estar a
inda convalecendo, e seportar, sobre tudo isto, hum
golpe tão factal pa mim, e ainda viver he não
ser chorão e babão.
[9]
Os meus cuidadosdesvelos agora se empregãosão sem ha
rotina,
[10]
sua May nos ultimos instantes a recom
mendou aos meus cuidados,
[12]
eu sei
quaes são os meus deveres;
[13]
mas coitada qual não tem
sido tambem a sua aflição, a perda de hu
ma May amiga e estremoza, a lembrança de
não ter outro amparo, senão o meu, que lhe pode
faltar, faltando-me a vida;
[14]
o desemparo em q
ficaria então;
[15]
tudo a deve atromentar, e fazella
digna de compaixão:
[16]
estes poderózos motivos, espero q
sejão capazes, de animar-me e fazer com q não se
cumba a huma dõr tão aguda;
[17]
o meu estado de
saude he ainda percario,
[18]
he precizo que a razão
tome grande parte neste negocio,
[19]
Ds o queria; e
que não tenha ainda chegado a Licença!
[20]
e eu q
continue a seportar a tirania mais fatal, e que
tão funesta me tem sido.
[22]
Eu agradeço a V Exa os bons officios
que me tem prestado,
[23]
sei q concorrão com as
despesas do enterro, e logo q chegue a Lxa serei
pontual em satisfazer:
[24]
mto senti que o Dor An
drade estivesse duente, q não podesse hir
ver ma Mulher
[25]
des q eu escrevi a V Exa a tal
respto talves q elle tivesse feito o sigund mila
gre.
[26]
A respto da guerrilha sei o segte pe
lo prnonciar; ontem 12 do corrte pelas 11 horas da manhã
chegou a Elvas o Juis de Fora e Provedor q tinhão sahido da
qui com o mais Povo q os quis acompanhar,
[27]
dirigirão-se
a Sé aonde estava o Governador, o seu Estado Maior, e
mta gente, e alli derão acçoes de graça por haverem
desbaratado a guerrilha, segundo dizem;
[28]
ouvi dizer q tra
zião prezos 37 guerrilheiros, mas sei q não entrarão ne
nhuns;
[29]
querião hir ao Trem matar os malhados prezos,
mas o Juiz de Fora os dissuadio desta empreza.
[30]
Consta
estar em Porto alegre o Brigado Raimundo, em Cavallara
e os Ilheos da 3a q estavão em Salvaterra; que se apanha
rão alguns da guerrilha q vão a ser fuzilados na da Cide
e q outros se recolherão à Hespanha,
[31]
mas de certo nada
sei porq humas notas desmentem as outras:
[32]
a respto
de estarem em Campo maior, julgo não ter lugar porq
hum guerrilha não entra impunemente em huma
Praça de guerra;
[33]
ontem houverão luminarias nesta, cide
e por isso julgo ser verdade a distruição da guerrilha, ou pelo menos q entrarão na Hespanha, e he provavel q os desarmem.
[34]
Terá a bondade de saber se pela outra banda, ou por algum sitio em redor de Lxa não tem chegado o terrivel mal, porq neste cazo alugáva alguma caza pa tirar ma filha daquella q esta impestáda,
[35]
e eu indo pa a Cide me poupava em vêr objectos q me desgostem.
[37]
eu só dezejo que rezista a tão grande tempestade, e q seja sempre mto e mto felis.
[38]
o seu
Ame
Anto Seara
Elvas 13 de Julho de 1833
PS Foi precizo abrir a carta depois de fechada, pa lhe dizer q ja falei ao Dor Fernando, o q se recomenda a V Exa e ficou de me mandar o mandado pa receber, logo q haja ja o dro pa se repartir
[39]
Dizem q há outra Guerrilha em Serpa Cumandada pelo Pe Gões, q será de 300 homens; mas sedo se aniquilará com a chegada da Tropa
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