PT | EN | ES

Main Menu


Powered by <TEI:TOK>
Maarten Janssen, 2014-

Sentence view

1759. Carta de João Correia de Araújo Santiago para o seu irmão, António Correia de Araújo Portugal, entalhador.

SummaryO autor pede ao irmão que lhe diga o que deve fazer em relação aos negócios, e que lhe envie dinheiro e bois se puder.
Author(s) João Correia de Araújo Santiago
Addressee(s) António Correia de Araújo Portugal            
From América, Brasil, Bahia
To América, Brasil, Pernambuco
Context

Este processo diz respeito a António de Araújo Correia Portugal, de 52 anos, filho de Miguel de Araújo e de Ana Correia, acusado de bigamia. O réu era natural de São Miguel de Sande (Braga), onde ganhava a vida como entalhador, tendo ido depois viver em Icô, no Ceará (Brasil). A sua primeira mulher, Felipa Maria da Silva, filha de Manuel Jorge da Silva e Sebastiana da Silva, viveu com ele por cerca de seis anos e tiveram três filhos (dois filhos e uma filha). No seu depoimento, disse que o marido usou uma certidão de óbito falsa para se poder casar uma segunda vez, e que o irmão dela, Pedro Ribeiro da Silva, tentou impedir esse casamento. A 4 de outubro de 1759 o réu confessou as suas culpas. Contou que embarcara para o Brasil em 1732, instalando-se na Bahia, onde passou a comprar e vender fazendas. Durante dezassete anos recebia cartas da mulher, escritas pela mão do seu cunhado, António da Silva Portilho, às quais respondia enviando também algum dinheiro. O seu filho mais velho fora entretanto ao Brasil pedir-lhe em nome da mãe que voltasse, mas como o réu estava na altura responsável por uma obra numa igreja, não podia regressar a Portugal. Enviou então o filho de volta à terra, na companhia de um escravo, e deu-lhe instruções e procuração para a compra de uma propriedade. Depois disso, não voltou a saber dos filhos ou da mulher. Na sequência de algumas informações de que Felipa Maria estava morta, ele vestiu-se de luto e mandou dar missas pela sua alma. Decidiu então casar de novo, desta vez com Joana Rodrigues do Ó. Estas segunda mulher faleceu a 31 de Agosto de 1759, quinze dias depois de ele se ter separado dela, decisão que ele tomou por ter recebido umas cartas dizendo que a primeira mulher estar viva. Nessas cartas, é explicado de onde veio o equívoco: quem afinal tinha morrido era a mulher de um irmão dele. O réu foi preso a 14 de maio de 1761 e foram-lhe apreendidos vários papéis ( entre os quais, as cartas transcritas) juntamente com outros objetos. Foi condenado a abjuração de leve, degredo para Castro Marim por 5 anos, penitências espirituais e pagamento de custas.

Support meia folha de papel não dobrada escrita no rosto e no verso.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 6269
Folios 40r-v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2306316
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Fernanda Pratas
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Fernanda Pratas
Transcription date2015

Text: -


[1]
Meu Ir e Snr
[2]
Receby huã carta de vm pelo Natal passado, a ql mto estimey, por vèr lograva vmce saude perfeita.
[3]
Vejo o que vmce me diz a respeito de Portugal: de propozito fui a Ba, e as novides de as verá vmce na incluza: lhe explico o engano, q vmce teve pa se cazar.
[4]
Sobindo Diogo de Abreo da Praya a Praça, topouse com Pedro Barboza, e lhe disse o Diogo estas formaes razoens: o magante q está em Prapicurù, ou anda, podesse cazar; porque lhe morreo a molher em Portugal.
[5]
Entendeo o Barboza, q fallava com vmce, por cauza de lhe ficar vmce devendo, q por isso lhe dava o epỹteto de maganete;
[6]
porêm elle fallava commigo, qm qm falleceo foy ma companhra;
[7]
adescendo o Barba por caza de Theodozio Machado, lhe disse, que vmce podia se cazar, q sua mer era morta;
[8]
e por isso he, que Theodozio Machado foy la a esse ijaquaribe com essa vòz, publica e vm, e mais o Vizor levados da pouca informação se cazou vmce:
[9]
porêm alto: ao por fazer, conselho; e ao feito, remedio.
[10]
Vay a carta de Pedro Barba pa vmce por ella vér com se ha de arrumar.
[11]
Tãobem vejo vmce mandar-me dizer, q lhe saiba dos seos creditos, q trouxe Mel da Costa: e elles lhe não posso dàr sahida, porque estão em mão do Corregedor, q lhos entregou Mel da Costa, por huã pinhora, q elle fèz nelles, e na Fazda dos campinhos:
[12]
e querendo pòr a Fazda dos campinhos na Praça, Mel Frra pedio vinte por parte da penhora de Mauricio de Carvalho,
[13]
estâ na cide correndo pleito sobre isso;
[14]
a ditta penhora foy feita pelos auztes, pelos bens, q vmce tenha em seo poder do Defunto Mel de bayrros;
[15]
e ainda, que eu queira dar algum remo a isso, não tenho o Rol dos bens do do Defunto,
[16]
nem sei delle, q a saber, poderia se segurar quanto bastasse pa pagar o importe dos dos bens, e não fazer huã segurança tamanha, pa tão poucos bens.
[17]
Os mais, que ficarão pela villa, andão por huãs mezas.
[18]
Em Jeromuabo, o Rdo Vigro foy o seo herdro, tanto de Boys mansos, como de enchadas, fousses, e finalmte tudo, q vmce deyxou.
[19]
me fallou Mel da Costa a respeito do Concerto da Igreja do Jerumuabo:
[20]
eu lhe disse, q estava prompto, mandando vmce com q a possa concertar;
[21]
porq se eu fosse abestado de bens, hiria concertalla a ma custa por vmce ser meo Ir, e dezejar servillo:
[22]
mas como vivo mto alcançado por cauza das mtas doenças, e imfortunios, q tenho tido, o não posso fazer;
[23]
q bem podera Vmce (ao menos por andarmos ambos em hum ventre) tèr-me ajudado, sem perder nada do seo, como mandar-me huã Boyada, ou huã cavallaria pa eu nella ganhar alguã couza, e mandar-lhe o seo dinhro, q mtos nesta terra tem fiado de mim na mesma forma, qto mais vmce sendo meo Ir.
[24]
Eu não vou pessoalmte aos pès de vmce pois jutey com Po Bar hir com a reposta destas, q a vmce remetto pa a Cide:
[25]
e assim, vmce mande logo reposta, e juntamte o com q se fassa algum dinhro pa se negociar todos estes negocios;
[26]
e se quizer remetter-me huã Boyada, pa eu nella ganhar alguã couza (pois as tem de Dizimo) lhe saberey agradecer,
[27]
e se não fassa o que quizer.
[28]
Mande-me explicar com clareza, o q qr, q eu fassa em todos estes particulares q lhe escrevo;
[29]
e me mande huã ordem especial, pa eu poder procurar alguã couza, q for seo.
[30]
Prometti ao por, que leva estas cartas 400U: vmce lhos entregue.
[31]
Remetta-me a reposta, logo, logo, logo.
[32]
se me poder arrendar o sitio dos campinhos ao capm Crispim de Montes, e aos Herdros mande-mo a arrendamto por certa conveniencia.
[33]
O mais fica pa a vista, q pertendo seja depois de vmce me remetter as repostas destas.
[34]
A saude de vmce hey de estimar seja prospera, q eu a q pessuo està toda dedicada ao serviço de vmce q Ds Gde ms annos
[35]
Missão da Cannabra aos 3 de Abril de 1759
[36]
De vmce Ir mto amte e Cenor João Correa de aro Santiago
[37]
vmce me mde o Rol dos Creditos que deo a Mel da Costa

Edit as listText viewWordcloudFacsimile viewManuscript line viewPageflow view