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Maarten Janssen, 2014-

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1758. Carta não autógrafa de Rosa Maria Egipcíaca, escrava forra, para Pedro Rodrigues Arvelos, lavrador.

SummaryCarta de Rosa Maria Egipcíaca onde dá notícias e fala de assuntos de cariz religioso. Menciona uma doença contagiosa como "mal pegadiço".
Author(s) Rosa Maria Egipcíaca
Addressee(s) Pedro Rodrigues Arvelos            
From América, Brasil, Rio de Janeiro
To S.l.
Context

Há três fontes documentais e uma monografia que permitem contextualizar a personagem histórica de Rosa Maria Egipcíaca, bem como o círculo em que se movia: trata-se dos processos 2901, 9065 e 18.078 da Inquisição de Lisboa, arquivados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, e uma monografia da autoria do antropólogo Luiz Mott (Mott, L. 1993. Rosa Egipcíaca, uma Santa Africana no Brasil. Bertrand Brasil). As pessoas envolvidas nos processos 2901 e 9065 enquanto réus são Rosa Maria Egipcíaca da Vera Cruz, escrava forra (natural de Ajudá, na costa de Benim, África, de etnia courã e residente no Brasil), o Padre Francisco Gonçalves Lopes (português, residente no Brasil) e o Padre João Baptista de Capo Fiume (italiano, residente no Brasil). Os primeiros dois conheceram-se em São João del Rei (Minas Gerais), ainda Rosa era escrava. Segundo o seu testemunho, em 1748 converteu-se à vida religiosa guiada pelo Padre Francisco Gonçalves Lopes e abandonou um passado de prostituição. Afirmou à Inquisição ter sentido “invasões espirituais malignas” e ter sido exorcizada pelo padre. Alguns acontecimentos foram contribuindo para a crescente má fama de Rosa e para a desconfiança das autoridades em relação a ela. Em 1749, numa igreja, estando Frei Luís de Peruggia a discursar, Rosa levantou-se e gritou algo sobre os demónios presentes no local, caindo depois no chão. Foi imediatamente exorcizada, mandada prender pelo bispo e açoitada no pelourinho da praça pública, episódio que a terá deixado paralisada do lado direito. Depois disso não havia quem a confessasse e Rosa pediu uma audiência ao bispo de Mariana para provar a sua sinceridade. Foram feitas provas de exorcismo na presença de vários sacerdotes, mas a escrava não conseguiu convencê-los de que estava possuída. Vendo o seu desespero, o padre Francisco Gonçalves Lopes convenceu Pedro Rodrigues Arvelos ‒ um lavrador amigo de ambos – a comprar Rosa à sua proprietária, e assim a escrava foi trocada por um “moleque”. Em 1751, Rosa e Francisco Gonçalves Lopes decidiram ir para o Rio de Janeiro, dada a sua fama de "velhaca" em Minas, e segundo o testemunho do Padre Filipe de Sousa, próximo dos réus, porque quiseram fugir a um possível julgamento de Rosa. Foram vivendo em casa de amigos do padre e a escrava mudou de nome, acrescentando-lhe "Maria Egipcíaca da Vera Cruz". Em 1751, Rosa aprendeu a escrever com Maria Teresa do Sacramento. Há dois documentos originais da sua letra nos processos da Inquisição, ao lado de muitos outros de que foi autora mental por os ter ditado à sua mestra de escrita. O seu director espiritual passou a ser Frei Agostinho. Em 1754, Rosa, o padre Francisco, frei Agostinho e alguns patrocinadores fundaram o Recolhimento de Nossa Senhora do Parto. O bispo do Rio de Janeiro, Dom António do Desterro, nomeou como primeira regente Maria Teresa do Sacramento (de 28 anos, natural de Lisboa), embora fosse Rosa a verdadeira responsável pela instituição. O Recolhimento seria destinado "a mulheres pecadoras que nos confessionários diziam que tinham ofendido a Deus por não terem casas para morar" (p. 42 do livro de Luiz Mott) e teve diversas recolhidas de várias idades. Maria Teresa não se sentiria como total regente, e, juntamente com Frei Agostinho cujos exorcismos não resultavam com Rosa, denunciou a africana ao bispo pelo seu comportamento estranho. Isto porque Rosa continuava com frequentes ataques e desmaios, chegando a agredir e maltratar quem estivesse por perto, necessitando de muitas atenções e diversos exorcismos, descritos por algumas testemunhas do processo inquisitorial. Frei Agostinho deixou de ser seu director espiritual, também por ter adoecido, e foram nomeadas outras pessoas para essa função. A fama de Rosa agravou-se também porque, estando numa igreja a assistir à missa, viu que estavam duas senhoras a conversar e avançou sobre elas. Destas duas pessoas, uma pertencia à elite do Rio de Janeiro (Dona Quitéria), o que fez com que, por ordem do bispo, Rosa fosse expulsa do Recolhimento de Nossa Senhora do Parto (1758). Dificilmente a ré se livraria da fama de embusteira, mas para que Rosa não recebesse nova sentença de açoites ‒ que teria, como escrava -, pediu a Pedro Rodrigues Arvelos a sua carta de alforria, e tornou-se liberta. Nos sete meses seguintes, Rosa viveu em casa de uma amiga, e depois na casa do padre Francisco Gonçalves Lopes, anexa ao Recolhimento. Entretanto, ficou como seu director espiritual Frei João Baptista, e durante este tempo Rosa disse ter a premonição de um dilúvio. Houve alguma expectativa em relação a esse acontecimento e, quando ele se deu, cresceu ainda mais a sua fama. Voltou a entrar para o Recolhimento sem explicação aparente (mas como na época o bispo estava doente, pode ter havido um aproveitamento da sua debilidade). No ano de 1759, as quatro filhas de Pedro Rodrigues Arvelos e Maria Teresa Arvelos entram para a instituição (Maria Jacinta, de 13 anos, Faustina, de 16, Genoveva, de 19, e Francisca Tomásia, de 11). Rosa era motivo de adoração, tal como as suas relíquias (dentes, sangue, cabelos, cartas, roupas e saliva, com que se faziam bolinhos para alívio das meninas que sentissem maus espíritos). Chegou-se a mandar fazer um retrato de Rosa para ser adorado na igreja, mas a Inquisição nunca o conseguiu encontrar. Já em 1762, a 22 de Janeiro, Dom António do Desterro pediu que Rosa e o padre Francisco Gonçalves Lopes fossem presos por culpas de heresia formal. Coube ao Promotor do Juízo Eclesiástico local, Dr. António José Correia, formalizar o auto de denúncia, levando a portaria a casa do Padre António José dos Reis Pereira de Castro (principal representante da Inquisição no Rio de Janeiro), que tinha sido já quem ordenara a sua anterior expulsão do Recolhimento. Não há indicação da causa de uma acusação formal repentina, mas, segundo Luiz Mott, seria por Frei Manuel da Encarnação ter sido eleito em 1761 Vigário Geral, e ter sido ele um dos que pressionaram o bispo para que punisse Rosa na altura do incidente com Dona Quitéria. Ao todo foram ouvidos no Rio de Janeiro doze homens e sete mulheres, sendo o primeiro o Padre Francisco Gonçalves Lopes, que relatou episódios passados com a ré, mas sem a acusar. No entanto, a maior parte dos testemunhos foram incriminatórios e o comissário declarou haver fundamento para um mandado de prisão, que foi dado a 4 de Fevereiro de 1762. Mais nove testemunhas foram ouvidas até ao dia 13 do mesmo mês, também elas maioritariamente incriminatórias. No dia 20 começou o interrogatório a Rosa, e o padre acabou também por ser detido a 8 de Março do mesmo ano. No dia 6 de Março, Maria Teresa Arvelos apresentou-se ao inquisidor e entregou-lhe 55 cartas que ela e seu marido tinham recebido em São João del Rei (26 ditadas por Rosa, 22 do Padre, 4 de Maria Jacinta e 3 assinadas por Faustina, ambas filhas dos Arvelos), bem como um manuscrito que relatava algumas visões da ré. A 12 de Março foi a vez de seu marido se apresentar, procedimento comum na época, pois quem tivesse relação com um réu auto-incriminava-se, já que os arrependidos ou confessados podiam ter a condescendência do Tribunal do Santo Ofício. Rosa e Francisco Gonçalves Lopes estiveram presos durante um ano seguido à espera de ordens de Portugal. O único bem confiscado ao padre foi inexplicavelmente o seu escravo Brás, que por causa das acusações contra seu senhor também foi preso. Foi leiloado em Agosto, e do processo consta o "Auto de Arrematação do Mulato Sequestrado do Padre Francisco Gonçalves Lopes", que foi vendido por 510 réis. A 1 de Março de 1763, o escrivão deu os autos como conclusos, pois da parte da justiça do bispo já não se poderia actuar. A 29 de Março do mesmo ano, o Comissário António José dos Reis Pereira e Castro determinou a remessa dos presos para o Tribunal do Santo Ofício de Lisboa. As despesas da viagem foram pagas com o dinheiro conseguido com a venda do escravo Brás. Chegaram a Lisboa a 2 de Agosto de 1763 (a viagem terá demorado cerca de três meses) e foram encaminhados para os cárceres da Custódia. Foram revistados e o que confiscaram ao padre foi: uma caixa de tabaco velha de prata, um breve de marca com seu cordão, tudo em ouro, um garfo e colher de prata, 60 réis e um lenço com um embrulho de papéis. Ainda nesse dia foram transferidos para os Cárceres Secretos. A partir de 19 de Outubro, Rosa foi ouvida, mas o padre adoeceu, de modo que passou um ano até ser interrogado pela primeira vez. Na sala de audiências estariam o réu, os guardas que controlavam as saídas, um inquisidor e um notário. Rosa teve seis sessões de interrogatório muito espaçadas, que decorreram até 4 de Junho de 1765 (ano dos seus 45 anos) ficando sempre presa no cárcere inquisitorial. A Mesa pediu que todas as onze testemunhas do Brasil voltassem a ser inquiridas e que se encontrasse o terceiro réu do processo, Frei João Baptista de Capo Fiume. Mandou também que se procurasse o retrato de Rosa que era adorado no Rio. Quanto a Frei João Baptista, o familiar responsável disse ter procurado o sacerdote, mas os que o conheciam disseram que tinha voltado para Itália (terá falecido em 1786, em Bolonha, no seu convento, aos 74 anos). Quanto aos interrogatórios feitos ao padre Francisco, esses tiveram início a 29 de Março de 1764. O réu tentou desresponsabilizar-se alegando que tinha sido enganado por Rosa e pelo crédito de que ela auferia, enquanto santa, da parte de sacerdotes com posição hierárquica superior à sua. Entretanto, descreveu no processo as experiências vividas com aquela ré, chegando inclusivamente a relatar um episódio em que Rosa o terá tentado seduzir. A Mesa conclui que o réu seria culpado, suspendeu-o de confessor e de exorcista, obrigou-o a orações diárias e condenou-o a cinco anos de degredo em Castro Marim. Permitiu, no entanto, que continuasse a celebrar missa. A 24 de Março de 1766, o sacerdote partiu para o degredo, mas o facto de ter adoecido em Castro Marim levou a que lhe fosse autorizada a transferência para a sua Beira natal. O processo de Rosa ver-se-ia prejudicado pelas novas audiências às testemunhas do Brasil, na sua maioria desfavoráveis à sua libertação. Este processo termina com um escrito de Ana do Coração de Jesus (rapariga recolhida no Rio de Janeiro) com acrescentos ao seu depoimento.

O processo 18.078 consiste na minuta da certidão da fé de notários e auto de falecimento da ré Rosa Maria Egipcíaca e nele pode ler-se: "Em o dia de hoje doze do prezente mez de outubro do prezente anno de mill setecentos e setenta e hum fomos ambos chamados aos carceres secretos desta inquizição e indo em companhia do guarda António Bapstista e dos digo que serve de Alcaide do Medico e mais guardas ao carcere da cozinha nella achamos hum corpo morto que reconhecemos ser da preta Roza Maria Egisiaca contheuda nestes auttos na qual se achava preza aqueles ditos Medico Alcaide guardas nos foi dito que ella tinha falecido de sua morte natural originada de varias molestias que padesia complicadas com achaques e que for a vezitada pelo nosso medico e cerurgião administrandoselhe varios remedios neçessarios para a dita enfermidade e recebera o sacramento dascensão de que se pasou esta certidão que asinamos em os ditos doze do corrente mez de 1771 Manoel Ferra. De [Mez.]".

Support uma folha de papel dobrada e meia não dobrada escritas em todos os fólios.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 14316
Folios 13r-15v
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Rita Marquilhas
Contextualization Rita Marquilhas
Standardization Raïssa Gillier
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2008

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[1]
J M J A J
[2]
Meu mto querido filho e Sor Pedro Roiz Arvelos
[3]
meu Senhor Repare bem nisto q digo aRojandome a chamarlhe filho, não ja por gloria do meu Coração senão por gloria do Coração de meu Snor jezus Christo
[4]
se não fora o conhecer ja esa lus por sua mizecordia divina e o Comténtamento q se Recebe; em qualquer pecador q com veras me chamar may
[5]
ele me permete q pelos merecimentos de suas santiçimas chagas q o ha de ele tomar por filho seu
[6]
e perguntandolhe eu se antes diso todos não herão seus filhos Respondeume q sim mas q pecados q exzercitavão nos Corasoins ficavão longe desta grasa e desmerecedores de sua amizade
[7]
e q aqueles q comtritos e aRependidos sem fingimento me procurasem a mim por may q permetia fazelos bem aventurados na gloria do seu Coracão;
[8]
e desde esta hora que me fes esta pormesa pa ca he tal o fervor e empulso q sente o m meu coracão e dezejo ardente de hir por hese mundo todo q me tomasem por may
[9]
e comtritos e aRependidos viesem commigo, q eu lhe permetia da pte do mesmo deos fazer com eles huã ETerna liansa do amor de jezus maria joze joaquim e anna pa asim todos lhe formarmos huã coroa de gloria acidental unida aos seus sacraticimos merecimentos toda matizada com o infinito preso do seu preciozo sangue pa q oferecido nas maos da virgem sacraticima e ela oferecendoa o seu Amanticimo filho e ele oferecendoa O ETerno Pay por nos;
[10]
mas como isto não poso fazer ficame so o dezejo q lhe ofereso todas as horas por mim e por todos;
[11]
tãobem me fica a pena de ver tantos pecadores caminhando segamente pelo abismo do terror desprezando as merces da caza dos meus santicimos corasoins a qual fundou pa salvasão das almas a qual o inferno todo com licensa do alticimo esta conjurado contra ela por ver e conheser o seu carater e o preciozo do seu ouro
[12]
e tãobem os homens todos cegos do demonio ignorão e poem taixas e veneno tudo instigado pelo demonio
[13]
e vmce não ignora q os demonios nada podem nada se não tivesem os homens por seus alcoviteiros e mansageiros das suas emboscadas mentiras e emRedos
[14]
por hiso o snor nos fas mce mostrar grande multidão de almas q ceguem a lucifer com as obras dos se seus corasoins
[15]
e o snõr me deu a entender q a fee na cristandade estava como huã harvore seca sem fruto
[16]
e asim dou a vmce o parabem e a ma srã e vmce dẽ parabem a sii de ter aqui na caza do snor dois soldados como Estrelas do ceo da ma alma e como duas flores do jardim do meu Coracão isto mesmo he dizer q são do jardim do coracão de jezus
[17]
pesa vmce a Ds q pervaleção nelas mais mais e mais o amor e a constancia e huã sincera comfisão desta mesma verdade porq se noso snor jezus cris Christo chamou no apostolado os seus apostolos pa depois confesarem a verdade isto mesmo ha de suceder;
[18]
e esta mesma comfição hão de fazer elas todas
[19]
não elas mas todas as q com veras me chamarem May; esprimentarão logo nova mudansa e novas emclinasois e nova fee
[20]
isto esta todos aqueles q sem vacilarem na lus desta verdade e sem trocerem a constancia e sem darem houvidos os demonios nem os seus mensageiros
[21]
e dis de novamte os ha de fortificar porvenindoos de esperansa e caridade Contra os seus inimigos
[22]
e asim vmce e ma srã sejão dos dois q sempre se estejão alegrando no sor por esta sua pormisa q fas a todos;
[23]
mas eu me emtristeso mto porq vejo q poucos se hão de aporveitar porq a maior pte dos pecadores; paresem como comendo em tinas
[24]
e dis o snor q a tina segnifica o discuido e esquecimto q os homes tem do seu primeiro novicimo
[25]
e asim estão todos descuidados; comendo a maçã da culpa athe q a morte q os degole e dem com eles nas grelhas do inferno donde ETernamente se estarão asando
[26]
e asim a ponderasão desta verdade o coração de compaixão dos pobres pecadores como a mim Meu senhor não papel nem penas que posão escrever tantas merces que o senhor me fas a esta vil pecadora cheia de culpas e emgratidõis
[27]
mas porem caregada das suas merces tomara eu espalhar pelo mundo todo estas suas mizericordias e beneficios asim como esta espalhada A infamia da minha vida
[28]
mas ja que não poso o senhor Remedei a todos
[29]
mas o que digo he que as minhas filhas hão de servir de Teror o inferno e de quebranto os homens faladores porque estão em huã caza donde não mentem nem podem mentir; he a caza da verdade e sala do dezemgano
[30]
e por hiso mesmo o senhor tem tomado a sua conta não haver nelas defeito nem mentira
[31]
e as que cahem neste defeito logo sentem em sii novidade conhecendose Reos de culpa e logo se vão humilhar e comfesar e pedirem penitencia;
[32]
asim todas vivem sugeitas e humilhadas a divina porvidencia asim como Deos vive com os Anjos
[33]
ainda que pecadoras todas se comsagrão a padeser todos os trabalhos do mundo do que apartarse do senhor e da sua caza;
[34]
e no que Respeita a mim estou muito contente e espero que vmce e minha senhora, que agora e sempre deẽ as grasas o senhor por mim que lhe não ha de caber o corasão no peito com gozo louvando a Deos por mim.
[35]
e Rogue a Deos por este piqueno Rebanho do senhor que samos soldados estamos na campanha Meu senhor,
[36]
agora falo que Resebi a a carta de vmce e de minha senhora com muito gozo
[37]
depois de quarta feira santa para ca foi a primeira foi a primeira que Resebemos eu e o meu padre
[38]
eu e ele nos alegrarmos muito pois quer eu quer ele andavamos mortos por ter noticias suas
[39]
e esta tal foi feita a 23 de maio e outra que Recebemos em dia de nosa senhora das merces
[40]
na minha estimação pareceume huã fruta nova em tera velha pois o meu afecto não sabe mentir nem zombando e tanto se alegrou o meu coração com o titulo de mai
[41]
vmce me manda pedir na sua que lhe a minha vida a senhor
[42]
a minha vida he muito estensa como hei de Relatala a vosa merce a vmce
[43]
vou corendo como navegante sobre o mar com muita temppestade no que Respeita o mundo porque ja o tenho Renunciado a ele seus seus bens e os seus Respeitos e com muita felicidade no que Respeita o meu jezus
[44]
e asim ele he por mim e nimguem he contra mim
[45]
e para eu contar a maldade de e a bondade do outro não ha papel em que caiba
[46]
hu como maú me quer sumirgir outro como bom não o pormite
[47]
e asim espero na senhora Santa Anna chegar com vitoria o fim da navegasão com felis suçeso pois Deos: não emgana nem pode emganar
[48]
faltara o ceo e faltara a Tera não ha de faltar a primisa de christo
[49]
e asim creio em Deos espero em Deos e comfio em Deos com toda a feé
[50]
por hiso as vezes me Rio deste louco mundo das suas embustises porque metese como taralhão a quererem adevinhar os segredos do meu Jezus
[51]
porque apezar de Luçifer e de todo os seus sequazes eu hei de lhe quebrar a castenha na boca
[52]
e eles junto com os seus siguidores hão de comfesar o poder dos meus santicimos corasois de Jezus Maria Joze Joaquim e anna
[53]
não os demonios do inferno nem os homens viventes na terra mas tãobem os mortos hão de confesar todos a grandeza e o poder de deos
[54]
e vmce dẽ grasas a deos por mim e Rogue a deos pela alma do meu Padre comfesor porque hera filho de são fransisco e a virgem santisima
[55]
sempre havia de alcansar mizericordia para ele porque espero em deos que aquilo que for meu não va o inferno por perdido sim se deos tem gloria no inferno hireimos la louvalo
[56]
mas se não tem não havemos la hir porque os nosos patroins são mui forticimos para nos valer
[57]
eu na carta que mando a minha senhora la aponto a alguã couza da minha vida e o meu Padre apontara milhor porque este maldito m mundo e os seus seguidores querem que eu minta para o seguir
[58]
e eu portesto não mentir nem seguilo com ajuda de Deos porque tudo o que tenho nada he meu nem he dele
[59]
asim portesto de dar o seu d a seu dono que he deos;
[60]
la mando a vmce mimo da senho Santa Anna he o que tenho para mandar que ela me deu na sua novena
[61]
peso a vmce que o exzercite com todo o fervor e toda a sua caza e o espalhe pelas pesoas de que he de muito agrado da santa
[62]
comesara vmces hu Rozario ou terso comforme a suã emclinasão e devocão se emclinar ou quem Rezar Rezara o Ato da contrisão que esta no principio da sua novena
[63]
e quem o não sober fasa outro Ato de contrição para principiar o Rozario ou o terso postos de giolhos e de dizerem deus in adjetorium meu emtende digão logo o gloria Patri e amado Jezus Joze Joaquim ana e maria sede minha lus e minha sede minha guia governaime amparaime eu vos dou o meu corasão alma e vida
[64]
fasa peticão a santa dizendo Santa Anna comsedeime huã me memoria vid viva emtendimento Recto e huã vontade abrazada no amor de Deos e na caridade do meu proximo
[65]
Reze logo o padre nosso e ave maria e o gloria Patri
[66]
em lugar das des ave marias dira senho Santa Anna soberana avo de Jezus Christo socorei os mizaraveis e asim hira pasando as des contas com estas suplicas
[67]
e chegando o Padre fasa a mesma suplica que está posta no principio
[68]
e asim hira Rezando e no fim do terso Rezara a salve Rainha
[69]
oferesa com oferecimento da senhora Santa Anna e Reze padre noso e ave maria
[70]
o senhõr São Joaquim permete a santa grande adigitorio a quem Rezar o seu Rozario principalmente para a hora da morte
[71]
dis ela que o devoto que lhe rezar este Rozario na hora da morte apartara dele todos os demonios sete mil e setenta os surmigira debaixo da terra deichando o imferno livre de tentasoins
[72]
e que lhe vira asistir o seu e trara comsigo Jezus Christo seu Neto e maria santicima sua filha pasara desta vida em pas livre de seus inimigos;
[73]
e se for espiritual que lhe alcansara do grasa para que se aumente mais e mais na vertude
[74]
e se for mundana alcansara do seu Neto auxilios Eficacisimos athe que venha a penitencia aborrecimento as culpas athe que alcanse a contrisão
[75]
este Rozario no ceo prostra os Anjos porfundamente em adorasoins no trono da santicima Trindade e no inferno terror e susto temor tromento fortisimo os demonios
[76]
de maneira que no ceo cauza nos Anjos e santos veneração na tera justos e pecadores secoro e Remedio os seus males prezentes e foturos
[77]
dis ela que os sete mil serão em lovor dos sete imimigos capitais
[78]
este he o feito que fas este Rozario para a vida e para a morte
[79]
e os setenta sera em louvor da gloria do corasão de São Joaquim que viveu mortificado e penitente
[80]
quer a mesma santa que eu multiplique este Rozario pelos devotos
[81]
chamase Rozario de fedilidade
[82]
para todos os que Rezarem com feé e devosão na portesão da santa e ainda para aqueles que o não Rezarem com a devida Reverencia he socoro geral para os vivos e os mortos que estão no purgatorio
[83]
athe o Rezar por morebundo que esta na hora da morte dis ela que lhe ha de valer e apartar dele os inimigos
[84]
dis ela a emvocasão deste Rozario cauza tres glorias no inpirio huã a santicima Trindade outra a sua santicima filha virgem Maria senhora nosa outra a ela mesma na invocasão de Jezus de dizer senho santa soberana avo de Jezus Christo socorei os mizeraveis que o que cauza no ceo gloria cauza no inferno Terrebilidade de pena os demonios e cauza no inpirio alegria os Anjos
[85]
e asim mando a vmce este prezente como unica prenda de estimasão que me deu a senho Santa Anna
[86]
dou a vmce e a minha senho o agradecimento ou os meus santicimos o darão por mim do cuidado e lembranca que tiverão de me mandar aquela esmola Christ Aquela esmola da farinha que ainda tenho athe hoje quantia de prata e meio dela
[87]
e asim vmces não se esquesão nem se emmendem de quando houver e tiver ocazião de se lembrarem de mim porque com ela melhor me dou do que com a de mandioca;
[88]
e esta minha petisão não he perseito que obrigue senão esmola se e poder ser senão não, aseite
[89]
vmces e minha senho muitas e muitas saudades das minhas filhas todas juntas espicialmente de anna do coracão de jezus e de anna do coracão de maria e da irmam Anna Francisca do sacramento e da Madre Regente que foy;
[90]
e elas se prostão, a seus pes e lhe pedem a suã Bensão como mais velha
[91]
e de mim aseite vmce e minha senho muitas e muitas e muitas saudades minhas e me protro a seus pes e das senhoras mosas todas
[92]
e lhe peso a sua Bensão para seguir a minha Viagem no caminho e da priguinasão que sou huã alma perigrina Solitaria acompanhada com o meu Padre Francisco
[93]
não falo nas meninas e em minha may porque elas hão de escrever e mais o meu Padre
[94]
eu estou agora junto com ele porque a caza da mulher donde eu estava a Raynha a Rapariga que tem em caza tem mal pegadiso e demais diso o meu Padre sempre anda doente
[95]
vmce pesa a Deos por ele
[96]
deulhe huã dor de Repente que lhe mandou o medico huã medisina para tomar e que se não pasase com ela que tratase de se sacramentar e porse bem com Deos
[97]
este foi o maior motivo por que vim para sua companhia
[98]
e asim torno a pedir que Rogue a Deos por ele que abaicho de Deos he noso socorro e ele he que me ajuda a levar a tromenta
[99]
espero midiante a emtreçesão da senho Santa Anna cheguemos com felis suceso
[100]
e vmces não vivão com sustos no que Respeita as meninas porque estão com quem as chamou porque vmces não forão as que as trocerão nem mandarão Deos foi quem as chamou

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