Sentence view 1576. Carta de Julião da Costa, oficial da Coroa, para Maria de Almada, sua mulher. Author(s)
Julião da Costa
Addressee(s)
Maria de Almada
Summary
O autor mostra-se confiante quanto à entrada da filha no mosteiro de Chelas. Além disso, dá notícias da sua estada na Índia e faz recomendações à destinatária, sua mulher.
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fiqo mui con
fiado q na reposta destas me escrevera q são ja meus deze
jos conpridos e fiqa minha fa no mostro q sobre estas espe
rãsas vou ja vivendo e descansando
e o digo a meus amigos
todos q tenho hũa fa freira /
ao snor bpo pode pidir de
minha parte toda A ajuda e favor pa isto e pa o mais
q tall amor e võtade me mostrou senpre q creio delle
q q en tudo o q se oferesser me fara mtas ms coanto mais
en couza tão justa e de sviso de ds
e o mesmo fara don Jo
A quen pode acupar en tudo –
Eu sra conprey qa hũs moinhos por sinqoenta mill rs q rẽden
sesenta alqueires de trigo e não sei coantas galinhas e
pagão de foro quinze alqueires como como vera plas
escreturas q mãodo por tres vias – os qs conprei A hũ
paullo cabrall cunhado de po frz tronqro do arsebpo pa quẽ
vão cartas con estas minhas
e nesesario q antes q lhe
mãoden as cartas mãodeis chamar po frz mell frz e lhe
digaes q Roge A po frz q aja esta venda por boa e lhe
dares A cartas q vão pa elle e pa po frz e pidirão A po
frz os titulos e escreturas dos moinhos –
e asĩ e nesesario
saber quen he o senhorio dos moinhos pa q lhe rogen pa
algũa pa q os não queira plo presso –
diz este mãosebo
q ho molro e obrigado A trazer este trigo A lixa e
q ao mesmo molro arendou os moinhos po este preso po
nove anos con hũa tera q ten os moinhos po ẽtão a conprei
con tudo o mais q ptencer aos moinhos – os qs nove anos
diz q se acabão Agora
se lhe la pareser ben darlho plo
presso fasao ho q tudo sera p conselho do lesensiado
fernão duarte –
outro irmão deste paulo cabrall e
cunhado de po frz anda qa e ten hũas teras de pão
en punos as qs me quer vender
saibão de po frz o q
renden e o q vallen pa lhas conprar –
pesovos sra q não aja couza q fos fasa ver nen ouvir novas de
pesoas aqui
con tãota rezão o deveis Asi de fazer
e não bastẽ
pa iso apostolos nen outras pas pa acabarẽ convosqo couza
q en tãoto sentirey valha eu e a rezão nisto con ella
mais q todos nen baste poren ha nesesidades pa lhes valer
p sỹ nen p outrẽ
llenbrelhe q não quis eu nũqa valer
ao prezo sendo minha may prezẽte q me a mỹ mto magoava
ãtes tinha gosto de lhes ver trabalhos e nessesidas
eu
dando q iso q iso seria parte se enmendar e chegar pa
ds e deixar o diabo
Eu sra não entro no meu cargo de ormũz senão daqui a tres A dous
anos porq ho q serve não entrou qoando coando ouvera
por hũ enbarasso q teve – do q fiquei tall q endey pder
o sizo mas espero en ds q ho ey de svir e me A de fazer
mtas ms pello q lhe vos sra mereses e eu vos pormeto
q q tãoto q ho acabar me va logo pa vos
asin ds me
sallve porq este e a minha võtade e dezejo e nisto
podeis viver sigura e confiada –
lenbrarvos sra q A nĩguen custa mais ho dinhro q A mĩ
tenho
por escuzado porq o sabeis pello q pasães q ben basta ser elle
parte de vos deixar nesa terra soo – q me custou como q se
me arãocara a allma do corpo e pa tãoto tenpo pa como
digo me custar mais mais q A todos ainda q deixen mo
lher e fos porq pa o sentir tenho eu mais rezões q todos
do q vos sra soẽs boa testemunha
isto digo somte pa
qte que se alguen vos pidir o voso lhe ponhaes o q digo diante
e a vos pa ho não dardes –
e coanto ao q for nesesario
pa vosa pa e caza lhe peso e rogo por vida minha q ho
gaste mto largamte q eu pa iso quero o dinhro e não pa
outra couza
e fazendo o asĩ averei q folgaes de fazer
sra o q vos pesso q espero en ds q me A de dar vida e q vos
não A de falltar
por iso en nenhũa couza re
seberei mor gosto q en saber q levais mto vida e q não
tomais nenhũ trabalho nẽ desgosto q ho sentirei mto q pa
resse rezão q bastẽ os trabalhos passados q ben entendo
q so sra vos podereis con elles –
e pois isto Asĩ he não fasais
ho contrairo do q vos peso se quereis q viva con algũ gosto
e seja isto de manra q me escreva este ano q ven q fiqa
mto gorda e ben desposta porq eu o mesmo fiqo ds seja
louvado
e a sra dona ma peso q vos queira mexiriqar comigo
se fareis o contrairo e mo escreva mto meudamte q espero
en ds que vos A de dar senpre o nesesario
por isso não deixeis sra de
gastar ho nesesario pa o q se faltar dro venda as pesas q eu
levarei outras milhores
se vender esas
mãode chamar fernão lopez e pgũtelle ho q p vall hũa pesa de
chamalote con agoas e coanto covados A de ter e o q
vall cada covado porq en ormũz A mtas q dizen me q
ten valia en lixa
folgaria de ho saber pa mãodar algũas
e se valerẽ mãodallas ey todos os anos
e não se esque
sa de me responder A isto –
Coando me escrever digão os sobreescritos q se darão en
goa A dio carvalho notaro do vizorey ou a mell nunez A
sãta luzia ou A dio froes A nosa sra da lũz e q se
as naos tomarẽ cochin as den A migell de ganboa
ou A mell callasa –
A sra ca cara minha comadre beijo mil vezes as mãos
e q me encomende ao sor en suas orasões q lhe encomendo
seu afilhado –
no caixão vai hũa pesa de touquinha
pa veo re vormelha q me encomendou
e q dizeilhe
q não ven agora as outras maiores q forão a vir mas
q se esa basta pa o veo da freira q he mto fina e boa
custou hũ cruzado la vos avinde con ella –
A ma d allmada q seu marido po caldra hia na nao q se
pdeu o ano pasado e q levava corẽta mill cruzados
e agora veio da perdisão porq se sallvou toda
a Jente e en hũa nao q fizerão pequena na ilha
onde se pderão en q se sallvarão e algũa fazda
dizen q con ho q lhe fiqava na India coando se
en
barqou e con a pedraria e allmiquer e anbre q
sallvou ten ainda perto de vinte mill cruzados
e q não sey coando se ira –
quero hũa carta sua de mtas folhas de papell en q mto lar
gamte me de cõta de si e sua vida e o q A mister A
inda q o eu saiba e quen na vizita –
e mãodaime
sra pidir tudo o en q tiverdes gosto porq en vollo
mãodar sera ho meu
e não ajais sra medo de pidir
A quen tomastes por penhor ho prinsipall q nelle
avia –
lenbrame q hũa vẽz me encomendastes q me goardase das frutas da
tera porq erão perjudisiaes e q me goardase de as comer no que
serto sra asertastes – q taes são elas q fazen ben de mall A
quen as come
e mais A mĩ q venho custumado as boas desa tera
q e o q me faz ter mor avorisimto a estas de qa
e por tãoben sra
cunprir o q me mãodaes tenho detriminado e asi A de ser de as
não comer
e nisto estou mui seguro e o mesmo podeis sra estar
vede sra mtas vezes As minhas lenbransas e fazei tudo ho
q nella pesso
e não aserte de fiqar algũa couza de ver
por falta de a ler e asĩ me escreva se arecadou
todo ho dro q se me devia e se vendeo a roupa e por
coanto –
coanto A Jorge da Costa mãodolhe q en tudo lhe obedesa
e q se venha pa qa asin o aconselhes de coanto este
ver en lixa pouze con minha tia ou con algũ amigo
q não seja de caza do jeronimo pra ou onde quizer
ho
mesmo follgaria q fizesen os maĩs ospedes porq são
contrairo de gritos e desenquietasões e por asin ser cus
tume a quen não ten seu marido en caza como sabe
o mesmo voso irmão ãto fragozo
e asin o uzão en caza
de vco lourenso e mais porq hos ospedes são de condisões
q fallão senpre e fazen couzas q eu não fallo nen
fasso ho q e perjudisiall asin pa a vizinhansa
como pa quen ten hũa fa molher A ql não
e rezão q ousa mtas couzas q se fallão q dizen eles q não
e nada
e do mais folgaria q ouvese mta conformidade
e amizade
A sra vosa tia beijai por mĩ mtas vezes as mãos q seu fo luis
d allmada anda mto ben desposto mas não ten dinhro
q foi Agora daquy ãtes q eu viese pa malaqa con
fazda de hũ omẽ q he cazado con hũa prima de sua
molher A sra Izabell de teves
e sua fa beijay
por mỹ as mãos e o mesmo a minha tia e prima
e a minha comadre ca do carvalhall –
coando me escrever respondame A tudo o q lhe escrevo sen
falltar nada e pa iso veja a ese tenpo as cartas
Coanto as encomẽdas q mãodo as pas do q troux outras vão no cai
xão q leva Jo gomez na nao Caraoja ho ql e marinhro
della
pella minha lenbransa no cabo della vera ho q
e pa cada hũ ho q tudo sra mãodareis asĩ como o mãodo
por
q me vai niso meu credito
e se as porsellanas q mãodo ao
bispo e a martỹ ao ao po quebrarẽ algũas seja A quebra d anbos
pa q não fique hũ con tudo e outro nada –
as encomendas
todas vão en hũ quaixão q leva Jo gomez marinheiro na
nao Caraoja q e nesesario l mãodar pidir a ãto soares ou A
mell pĩto q v mãode recado aos goardas q ho deixen tirar seu
ser A caza da india e tanben maodai recado ao bpo q mãode
lla pidir q não vão as suas encomẽdas A caza da india
e
se forẽ paguẽ os donos das encomendas os direitos –
eu mãodo A don Jo vinte e coatro aratẽs de q laqure e hũ
buzio lavrado da china q tudo vai dentro no caixão de minha q he
fa e ma duzia de canas de bengalla
o q tudo lhe mãodareis con
A minha carta e hũs carosos e pevides de laraõjas q elle mto
A de prazar as qs não sei Ainda en q irão
se mãodar algũ
dinhro disto tomaio e escreveme o coãto e o q faz e não lhe
esquesa de mo escrever pa saber ho q ey de fazer
en antes
outras encomẽdas suas Areqadareis de don jo martĩ ao hũ
cruzado de frete das encomendas e tres joas de po frz e se
o bispo mãodar algũa couza tomaio – q ja de qa vai pago
Jo gomez – hũ bertollameu de llemos vai este ano e ãto
lopez q cudo q vos irão ver
escreveme sra quen vos vizita
e ve pa saber A quen devo –
mãodaime sra mtas novas de vos por me fazerdes m pq de
dellas so vivo e nellas tenho minhas esperãosas Ate q noso
sor aja por ben de me levar diante dos seus olhos
A quen peso se lenbre de vos e de mĩ e de nosos fos
pa seu sviso A quen cubra de sua grasa e de sua ben
são
a quen e a minha bensão os cubra e a vos elle
de vida por se não acabar a minha
de coçhin
A 3 de dezro de 1576
de voso marido
Jullião da costa
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