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Maarten Janssen, 2014-

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1663. Carta de Jacob José Henriques para Simão Mendes de Almeida, mercador.

SummaryO autor dá conta ao destinatário da existência de boatos a seu respeito, boatos esses que permitem desconfiar da sua lealdade para com o povo judeu. Dá-lhe a oportunidade de os desmentir.
Author(s) Jacob José Henriques
Addressee(s) Simão Gomes de Almeida            
From Holanda, Amesterdão
To Inglaterra, Londres
Context

Este processo diz respeito a Simão Gomes de Almeida, cristão-novo, de 35 anos de idade, acusado de judaísmo. O réu era mercador, filho de Francisco Carvalho e de Brites Gomes, casado com Guiomar Serrana, também cristã-nova, e morador em Londres. Quando o réu tinha 12 anos e vivia com os pais na Guarda, conforme testemunhou, o pai falou-lhe na Lei de Moisés, dizendo-lhe que devia fazer o jejum do dia grande que vem na lua de setembro, os três da rainha Ester que vêm na lua do mês de março, e que jejuasse sempre que alguém morresse. Disse-lhe também que depois do jejum não poderia comer carne e que não devia trabalhar ao sábado, devia vestir camisa lavada à sexta-feira à noite, não devia comer porco, lebre, coelho ou peixe sem escama, entre outros rituais judaicos. Assim, declarou-se judeu e viveu vários anos como tal. Após a sua ida para Londres, apercebeu-se de que desejava ser cristão e decidiu converter-se, tendo disso avisado frei Cristóvão do Rosário, religioso da Ordem dos Pregadores e Pregador da Rainha de Inglaterra, também residente em Londres. As cartas do processo foram entregues como prova disso mesmo.

O réu tinha quatro irmãos e uma irmã: Diogo Carvalho, mercador, casado com Grácia Mendes, António Carvalho, viúvo de Isabel Dias de Almeida, Francisco Carvalho, mercador, casado com Grácia Fernandes, Ayres Carvalho, mercador, solteiro de 24 anos de idade, e Guiomar Serrana, casada com Manoel Gomes Lisboa, mercador. Diogo Carvalho, foi o primeiro a ser preso pela Inquisição, pelo que os outros ainda tentaram fugir. No entanto, Manuel Gomes Lisboa, Francisco Carvalho e a mulher foram apanhados a caminho de Castela. Mencionado como judeu em processos de judaísmo de alguns familiares e amigos, o réu optou por se apresentar à Inquisição com as cartas que havia escrito e recebido; queria assim provar a sua conversão ao cristianismo após a ida para Londres. Julgava que, apresentando-se, poderia conseguir o perdão e alguns benefícios na sua volta a Lisboa com a família, o que de facto aconteceu. Em auto-da-fé de 23 de julho de 1664 o réu foi sentenciado a abjuração em forma, instrução na fé católica, penitências espirituais e pagamento de custas. Cinco dias depois, foi solto.

Support meia folha de papel escrita no rosto.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 2836
Folios 46r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2302767
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcription Leonor Tavares
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Clara Pinto
Transcription date2016

Text: -


[1]
Simam Gomes d almda
[2]
amsterdam 10 de agosto 663 @
[3]
ha mtos dias que dezejo de escrever a vm sobre o que nesta digo por me pareser conhesendo sua creasam numqua, em vm poderia caber a minima coiza das mutas que todos os que desa vem dizem
[4]
E tinha pa commigo vm se inzentava de declarar por algus respeitos que por agora o que tanto em seo corasam era bem estivese estampado E seos pais E avos senpre obraram mas passa a couza em tanto escandallo que porcuram apartallo da comonicasam do gremosa de que deus livre a todo israel couza que soo se uza com algũ depravado blasfemoso que repuna a lei mental E dispusisam de nosos sabios.
[5]
E isto a deus grasas mais raramte acontese, mas o que cair en tal disventura o nam podera remediar sem grande mostra de arrependimto E aseitando a penitensia que se lhe der,
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E suposto que conheso a vm de criasam E seu bom prosedimto, ao que vejo falar me da motivo que como nosso, o podia pervalicar algũ maldito carraim couza tamto contra deos E escandallo de seu povo,
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a resam que ha de proneio E amistade con que sempre nos tratamos me da confiansa a falar con Esta clareza porque me emvergonho do que ciso,
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E assi convem que desde logo sem se lhe por nenhũ respeito que pertenda por diante mostre vm nam he o que se dis E que nam desgenera de qem prosede, para que todos fiquem desenganados que por imaginasam lhe não podia pasar tam maldoso intento,
[9]
E querendo eu em alguã ocaziam disculpar a vm me responderam que mutas pesoas que vivem por estas ptes por alguãs pertensois que tem em portugal E castella se nam declaram do que o servam, mas que nam dam escandallo nem falam o que nam he mas antes con os nosos se desclupam E vm que o fas ao contrario galanteando, disso couza que nem os que sam de deferente religions fazem
[10]
para qen ten Juuzo basta o que nesta digo
[11]
E assi me nam alargo a maes
[12]
gde ds a vm e dee o que lhe dezejo
[13]
Jaco E Juzep Enriques

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