Resumen | O destinatário da carta é insultado e ameaçado por andar a maldizer um padre da terra. |
Autor(es) |
António Vidal Ferreira Pinto
|
Destinatario(s) |
António Simão de Oliveira
|
Desde |
América, Brasil, Maranhão |
Para |
S.l. |
Contexto | O capelão de Cururupú, o Reverendo António Vidal Ferreira Pinto, foi denunciado em 1813 por um lavrador inimigo, José Gonçalves Castelhano, enquanto culpado de uma série de crimes. O réu foi acusado de viver "escandalosamente amancebado durante mais de nove anos com Faustina Teresa, mulher casada com o alferes António dos Reis", e ainda "concubinado de portas adentro com a preta forra Maria Benedita." Disse-se ainda que era "muito remisso na administração dos sacramentos, como aconteceu com um homem branco, filho de Portugal, e com uma escrava chamada Iria do Padre António Alves Domingues", e também "um refinado negociante." Dava "conto e asilo a homens facinorosos e degradados, como um João Alves, homem de tão péssimo caráter que tem chegado a forçar algumas mulheres, dado pancadas" e era "costumado a apanhar cartas alheias para as abrir e ler e, por este meio, descobrir os segredos das famílias e dos particulares." Fazia "um notório e sórdido monopólio dos mesmos sacramentos, não batizando senão por mil e seiscentos réis, quando a esmola que recebe o pároco não excede a quatrocentos réis, e não assistindo ao sacramento do matrimónio sem que lhe deem três mil e duzentos réis." O autor do processo, no entanto, acusou também o dito padre de um crime mais banal. A 25 de setembro de 1812, o padre teria cometido contra si um "rigoroso furto": o roubo de um boi de carro, mandando-o matar "por dois dos seus agregados, com o pretexto de que tinha ido à sua roça", fazendo com que se enterrasse o coiro e a cabeça do animal "para que se não descobrisse o malefício" e conduzindo a carne para sua casa. Ao fim de um processo criminal que durou 6 anos, o capelão acabou absolvido. |
Soporte
| meia folha de papel dobrada escrita nas quatro faces. |
Archivo
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Casa da Suplicação |
Fondo
| Feitos Findos, Processos-Crime |
Referencia archivística
| Letra J, Maço 3, Número 17, Caixa 11, Caderno [1] |
Folios
| 37r-38v |
Transcripción
| Rita Marquilhas |
Revisión principal
| Rita Marquilhas |
Contextualización
| Rita Marquilhas |
Normalización
| Clara Pinto |
Anotación POS
| Clara Pinto, Catarina Carvalheiro |
Fecha de transcipción | 2009 |
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Sr Anto Simam de olivra
Irmam carissimo das santas almas, nunca
peguei na pena com tanto dissabor como na pre
zente ocazião
pa vos communicar o mto que sin
to o ruge ruge
dos vossos procedimtos
Dizem q estais feito hum Alma
nach desse
Cururupu, quero dizer hum Corro da
posta, q levais, e trazeis
novides e q sois hum
pesquizador excelente da vida alheia,
deterioran
do mtas pessoas no seu credito, sem atenção aos seus
carateres, e
dignidades, entre estas ao Pe desse Cu
rurupu, de
qm tendes falado com mta largueza, como
fizestes hua vez
na va de Guimes satirizando-o de
Tabalião do
Alfes Anto Martins por cauza do esque
cimto da asinatura
de hua carta, de que outros tão
bons, histo he pedantes, como vós
mofarão O tal
Pe teve logo qm o inteirasse das boas auzencias
que
delle fizestes, tanto nessa occazião como de outras, em
q
vós na mma Villa despejastes o vosso Papinho, tal foi
em dia de Natal em
caza de Mel Ignacio, q dormin
do vós na vespora, em caza
de Joaqm Mel estando ahi o
dito Pe o q lá ouvistes
o fostes pintar na Va mto diver
so do original,
o q vos faz objeto de irrezão e aborreci
mto Olhai Irmamzinho
das almas da santa Cari
Caridade, metei a vossa lingoinha no Cu, ou
pon
de hum freio na boca, e se não tiverdes algum que vos
sirva mandaimo dizer, pa vos
mandar fazer hum
q vos contenha no modo de falar, aliás
estais em
maos lansois; porq eu ouvi dizer ao dito
Pe
qdo veio a esta Cidade,
em q se falou em vós,
q
esperava ocazião de vos agradecer os vossos elogios;
lembraivos, q elle tem
amigos, e está na aceita
ção de mtas pessoas de
bem nesta Cidade, e q o acre
ditão mto e tambem he constante q o
Coronel de
Guimaraens he seo Ao a qm
o mmo Pe communica os
vossos dilirios, e
de outros, tambem, da vossa religião
lembraivos q sois mto verde, como vos
chamou o do Coro
nel, hua ves, q vos ameaçou com a cadeia, por seres
bacharel,
daqui podeis infirir, q he mor perder
por carta de menos, que por carta de mais: acom
panhai com os bons; vede
o cazo que fazem de vós;
lembraivos da supradita noute de Natal, em caza do
referido
Joaqm Mel, em q toda a noute asociastes com
o seleiro,
em q papastes por Albardeiro, e q cosmes
tes á
meza em pe, como oficial de Albardas, sen
do vós hum oficial de Malias:
tudo efeitos de
vós seres hum verdugo contra o Pe de qm o dito
Joaqm
Mel he mto amigo
Estas, e outras mtas notas q por
falta de tpo vos
não relato, me tem ferido os ouvidos,
e magoado o coração Meu rico Irmãozinho das ben
tas almas,
conciderai o q sois, não vos façais grande,
sendo da marca pequena, abatei essa bazofia, que
tendes de sabio, e esperto, sabendo todos q sois
hum
Asninho; dizeime, tendes ja ganhado algum ha
beto
de Christo pello oficio de marandubeiro? mas he
ja pençao q tem os da vossa estatura de
quererem
chegar com a lingoa, aonde não podem com o corpo
Sede pois, caladinho, não vos emporte a vida de
ninguem, e adquerireis a estima de todos. Emfim qm
esta
vos escreve, não he Ilheo, q vos furte
a Imoça q
comprastes por dois frascos de agoardente, nem qm se des
peque por
cartazios, nem a qm vós tinhais por homem
de
saco, e botige, nem a qm vós digais q dorme em cama
de folhas de
Joçara, he hum vosso parente mto chega
do por pte de
Pai, e Mai, q vos qr mto e continuamte está
com as camandollas
na mam, pedindo a Deos q abençoe
os vossos
progetos. Dezem me q cazara vossa Irmam, e q
achara bom marido, o q estimo
Dailhe lembranças mas e
a vossos Pais: E a
Deos, q vos faça milhor do q sois, e q per
mita
torneis a estima daquelles q tanto tendes agra
vado; e se vos não servir
esta carapuça; hide vos sepul
tar no obim, com mais de mil Diabos indegar cabou
cullas,
e pretas, pa lhe beberes os ovos, q han dem
ser
ser coadonados á vossa quiza.
Vosso Servo
Godinho de Aboquerque
Maranhão
25 de
Janeiro de 1809