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Maarten Janssen, 2014-

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[1600]. Carta de de Vicente Borges, frade, para seu pai, Salvador Borges, barbeiro.

SummaryO autor diz ao pai que foi preso por dois padres e que não tem outro remédio senão ficar onde está. Diz que tem estado muito doente e pede ao pai que trate de entregar uma carta ao padre provincial. Manda ainda recomendações para outros familiares.
Author(s) Vicente Borges
Addressee(s) Salvador Borges            
From Portugal, Santarém, Vila Nova da Erra, Convento de São Francisco da Erra
To Portugal, Lisboa, Rua dos Escudeiros
Context

Este processo diz respeito a Vicente Borges, acusado de exercício ilegal das funções eclesiásticas. O réu era natural de Lisboa e dizia ter professado na Ordem dos Frades Menores da Penitência no convento de São Pedro de Coimbra. As cartas inclusas no processo foram enviadas à Mesa da Inquisição pelo provincial de Santarém, o padre frei Marcos da Trindade. Sendo tido como mau cristão, mentiroso e ladrão, constam do processo várias acusações relativamente ao comportamento do réu: 1) que tinha fugido a cavalo levando três mil réis roubados e que já tinha roubado uma navalha e uma tesoura antes; 2) que já tinha sido castigado pelo provincial de Santarém por ter aberto uma carta do mesmo, escrita pelo irmão e de assunto reservado; 3) que se tratava com seculares sem permissão e que tinha escrito uma carta ao pai de um outro noviço a pedir dinheiro e comida; 4) que também tinha escrito uma carta falsa, em nome de Bernardo Drago, a uma mulher chamada Maria Leitoa, tentando levá-la a dar-lhe coisas; 5) que entrava na despensa sem permissão no tempo do frei José; 6) que tinha declarado ter morto voluntariamente um mancebo com um tiro antes de ser frade; 7) que era sodomita e tinha cometido o pecado nefando com outros noviços; 8) que com grande escândalo frequentava a casa de uma prostituta; 9) e que dava missa sem ter ordem sacra para tal, entre outras coisas.

No dia 25 de abril de 1601, Estêvão Rodrigues, morador em Sacavém, foi ao convento de Nossa Senhora de Jesus queixar-se de que frei Vicente de Lisboa lhe tinha roubado um macho pequeno preto com alguns pelos brancos. Segundo ele, o frei teria tomado o animal das mãos de um moço seu que andava a passear com o bicho. A 4 de maio o padre provincial, Marcos da Trindade, descobriu que o macho de que fala o escrito (PSCR0252) foi alugado a um António Antunes e tinha cor de rato e idade e quatro anos. O dito animal terá sido alugado em Sintra dias antes do dia de Ramos.

O réu foi preso, por mandado do licenciado João Peixoto de Sousa, em sua casa, diante do padre Álvaro de Brito, guardião do mosteiro de São Francisco. Na manga do seu braço direito foi encontrado um taleijo pequeno de estopa em que tinha cinco moedas de quatro vinténs e uma de oito, vinte e oito moedas em cobre, que o réu confessou ter roubado ao guardião do mosteiro nas duas noites em que lá esteve. Também foram encontradas as cartas abertas que o vigário depois entregou à Mesa. O réu foi excomungado pelos frades a 3.ª ordem para Angola, com sete anos de galés e ficou suspeito de heresia e apostasia.

Support meia folha de papel dobrada, escrita no rosto e no verso do primeiro fólio e no verso do segundo.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Évora
Archival Reference Processo 2196
Folios 14r-v; 15v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2364176
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Catarina Carvalheiro
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Catarina Carvalheiro
Transcription date2014

Page 14r > 14v

Snor pai e mai

Noso Snor de a Vosas merces mto boas saidas de festas quaresma E entradas de festas aquela saude e vida que todos os seus lhe dezejão desde o dia que de Vsms me apartei ate oje numca mais tive dia de saude, E a pouqua saude parese que não quis deus que eu fose pera onde hia e pois ele não quis seja ele lovado todas estas cousas. fico neste Convento da Erra E mui emfadado porque fico em atros e misero estado. a causa por que fico neste convento da Erra he porque me forão buscar dous frades ao caminho E foi malcinado asim que ja não tem Remedio senão aquele que o padre porvincial me quiser dar e que milhor for pera minha consolasão, E quietasão.

Com esta vai huã pera o padre porvincial o qual me a de VM fazer caridade de lha dar na sua mão, E pedirlhe não queira chegar comiguo ao cabo. E Comprir o que dise ao padre frei Paulo, E asim tambem que lhe não lembre o pasado E dandome esperansas de consolasão me aquietarei e procurarei proceder como frade. Eu fico mui desconsolado asim pelo estado em que fico como tambem por perder o meu saco os papeis que foi o dia em que os padres me forão a buscar, sẽ saber deles mas seja ds lovado, as pastilhas que maria de arenas me fes chegarão qua todas sans. E quanto ao que toqua aserca dos demais negocios não saiba ninguem nada



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