1741. Carta do frei Francisco de Assis, padre, para Maria Antónia da Encarnação.

Ma rica manna, e adorada Ma e não sei se diga, q neste mdo o meu Dz plaz atençoens com q estudei de dia de sta Cata the o fim da ma vida tratarvoz; poiz retrato do mesmo Sr voz contemplo. e asim nao será offença sua, amandoo em vóz, e com tanta singularide ca só eu sei reconhecer; e Basta ma rica manna, q voz persuadieis a q estava eu mal comvosco; pa tanto nas vosas cartas mo repetires; e escreveresme ahinda esta ultima com esses recehios e por isso asim como desconsoladinha; o certo he ma querida Maria, q tudo voz desculpo pla falta da experiencia, pretexto, q sempre voz dize me fazia a mim algum mal, não teres aqle conhecimt q qualquer sendo mais experta o podera já ter; entendieis q me não custará, e custaria se em vós devisaze a minima novide; e qm duvida, q asim havia ser; porq de outra sorte seria descuidarme eu de vós e darme pouco do vosso querer; o q talvés succedesse à outro qualquer, e tendo as ocazioens, q aqui se me tem offerecido, nä digo bem metido plos olhos; porem caprixei, e caprixo em nä pôr pé fora senä como gam com q me livro de mtaz vezitas, e nä menos conrespondencias; porq estas só sä pa qm em mim empregua todas as suas devidamte.

Não há duvida q qdo me apartei de vós, en esses dous dias, q lá estive ou fosse por não estares boa, o q sentia em mo nä dizeres, ou por falta de continuação, e querervos meter no coração, e delle voz nä apartar hũ só instante, he verde q senti a falta dos vossos agrados; e posto q estivestes the as duas horas, bem sabeis, q nesse tempo nä me podieis dar noticias vossas, tä particulares, respeitando à manna Joanna, pois sei q nem da propria caminsa já hoje se pode nimguem fiar; nem imagineis, q eu me lembro pa a Dz N Sr offender de obrares por mim a fineza de me teres a vossoz virginaes peitos, e nelles como o proprio, e entranhavel fo me reclinares; nä, nä voz pareça q me servio isso nem serve de inquietar a consiencia nem me levar semilhante lembraça aos péz do confessor; antes sim de me ratificar tanto mais e m sem fim vos querer, q desprezando tudo o q vejo, e se me offerece, só me recordo do bem q Dz foi servido em vós darme pa me desviar de todo o mal; e se eu fui, e sou hinda o q só vos quis e dezo todo todo o bem, como presumis, q em mim haveria o contrario; pois ássas tendes visto, o qto tenho feito por voz roubar todas as atençoens, sem mais fim, q olhando pa a fragil natureza de molher, não fosseis tä desgraçada, como tem socedido, hinda a milhores juizos, q o vosso, precipitaremse mizeravelmte; e sendo eu o q voz propús, q de actos lascivos, o q depois redundava era aborrecimto e odio, como me passaria pella imaginaçä similhante couza; olhai; qm me dera, q vós agora viseis a ansia, com q voz digo isto, olhai era eu capas, áo nunca visto amor, q vos tomei e dos estremos eternos com q voz protestei querer, era eu capás de se tal me viesse sequer à imaginaçä com hu cordel lançalo áo pescozo, e afogarme, ou dezaparecer, em forma, q nunca mais de meus olhos fosseis vista; e nesta pte já vos podieis fazer conta, q nem eu pa vós era homẽ, nem nunca por tal me tive, qdo comvosco me tenho visto só, e asás bem o tendes conhecido; e vos podieis já dezenganar, de q na materia de semilhantes escrupulos deixame falarvos asim, haveis de advertir q sou capado. e já vos dize q se a ma inclinação, ou genio fora o apetite lascivo, bem entendeis vós de vós pa vós q se eu quizesse ou procurasse hinda couza de supoziçä, q o alcançaria nä só com pouco trabalho, senä tambẽ com menos vigias; porẽ nem o meu genio, nem a ma pessoa álem de o nä apetecer, nunca por tal dei hua só pasada; e nesta certeza voz podieis ratificar, pa me nä dizeres q se me agravava a consiencia ou a inquietava vendonos de perto vós sempre mo dizias, qdo vós mesma precensiastes q hindo nas ocazioens em q podieis imaginar, q eu como homẽ me inquietase, viste tanto plo contrario, q parecia hua pedra.