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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0704

[1798]. Carta de Martinho Afonso Henriques de Melo para José da Cunha Fialho, corregedor da comarca de Torres Vedras.

Author(s)

Martinho Afonso Henriques de Melo      

Addressee(s)

José da Cunha Fialho                        

Summary

O autor queixa-se ao destinatário, o corregedor da comarca de Torres Vedras, de João Pimentel, que, tendo aforado recentemente uma propriedade no Bombarral, destruíra um antigo caminho público que a atravessava.
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Sr Dezor Jozé da Cunha Fialho

Sinto na minha alma, que a primeira vez que aparesso a VSa por algum modo seja em taes circonstancias: Sendo certo, que mto tempo, que eu respeito o nome de VSa e tenho inveja as pessoas, que tem a fortuna de tratalo. Como foi percizo dar parte a minha Sobrinha do dezacordo do Reytor desta terra, era necessario que ella me informasse do que passou com o Sr Siabra, e que fora avizo a VSa para conhecer sobre o cazo acontecido: como não vi a petição, que se fez em Lisboa, e pello amor, que tenho a verdade queira desculpar que eu fazerlhe huma carta comprida.

O Reytor, que está nesta terra hum anno, e em todo este tempo me tem devido toda a casta de obzequio, e defeza , e devo confeçar que eu ignorava que mtas vezes se toldava com vinho ; a sangue frio no terceiro Domingo da quaresma pos na porta da freguezia, o Edital, que julgo seria a VSa remetido, e com a circonstancia de vir jantar comigo, e outroz Prez nesse mesmo dia, chegarão ellez, e o Edital ao mesmo tempo julguei eu que o nome era suposto, e elle logo portestou que o fizera, e que o puzera, eu na maior ademiração lhe respondi, e o dezpedi: Sem em-bargo de que o ditto Reytor desde que aqui chegou tem recebido de hum malvado Irmão, que tem, que se chama João Pimentel , este hum homem atróz, e o outro Leve , todaz az aleivozias, falcidades, e injuriaz asim mesmo os mais solidos indicios para se julgar que foi induzido pello seu Irmão, e pello seu inimigo a fazer huma tal dezordem. Queira VSa confinar emquanto ao Edital, ou cartáz es-teve pregado, o dito João Pimentel, que da porta da sua Taverna o via Ler aos que entravão na Igreja, dezia para os que estavão na mesma taverna com a maior satisfação "o Edital pequenino desmente o Edital grande, eu tenho mto dinhro rezervado para gastar com o Diabo" e aqui acrecentou outraz coizas de pervercidade da sua Lingoa sendo ouvintes Manoel Simoens Moleiro: Antonio Nunes: Jozé vieyra; Antonio filho do cabeça, e outroz muitoz.

VSa ha de pormeter para melhor eu fazer a inha deducão, que eu debuche o retrato deste gigante de maldade. Empobreceo seu Pay furtando-lhe deolhe, e o tratava no maior desprezo, ouve quem dicesse isto a huma pessoa, de quem o seu interesse dependia, vem buscar o Pay, e a Madrazta, que a todo o mundo se queichavão destas insolenciaz permetelhe amor, e dinheiro, pede-lhe huma certidão de filho obedien-te, passalha o extontiado Pay, falo melhorar pouco de fortuna, percegue a Madrazta depois de viuva athé a morte; porem com huma certidão fal-ça foi desmentir hum conto verdadeiro. Este Irmão Reytor foi dezacomodado pello mesmo em Lisboa para vir ser aqui Parroco, e para a sua caza, onde não esteve 24 horaz porque trazendo comsigo, ou por caride ou por tolice hum menino de quatro annos, filho de Pais mto honrados, a quem o tal João Pimentel conheçia e hera obrigado, expalhou o tal Pimentel nesta freguezia que o rapaz era filho do Irmão dezacreditando, e injuriando aleivozamte os seus verdadeiros Pais, e correndo por estes contornoz a noticia mandou o Reytor a Lisboa buscar a Certidão do Bauptismo, que leo aos seus freguezez no Lugar, em q lhe faz az estaçõens. O mesmo João Pimentel tem Taverna, e tenda onde os pezoz, e medidas todos são falceficados, manda deitar e deita muita agoa no vinho, e quando se vay algum criado, que desconfia contará esta manobra, publica que o despedio porque furtava ao povo. Hum tal homem aforou a 8 annos ao Hospital das Caldas hum prazo, daqui vem o motivo originario da questão, e fiz conhecer a VSa pello que fica dito a boa que se pode esperar delle: Estava o dito prazo perdido, plantoulhe huma boa vinha, e hum carreiro de posto, que havia sobre a mota do ryo cuidou logo em embaraçalo, neste cazo o povo costumado aquelle tranzito fez-lhe atraveçadoiro pella vnha, recorreo aos meios da justissa pozeram se editaes, veio o Juis de fora fazer a vestoria porparousse o intereçado com teztemunhas porparadas por elle, que iminente em az porso-adir em jurarem, o que elle quer, não tiverão ocazião de falar; porque nimguem se opoz; da mesma sorte que tendo huma fazenda chamada a Gafa, e fazendo nella hum valado imenço ficaramlhe dentro grandez pedaços de fazenda de Jozé Cordro da Sa Torrez, de Leandro Lavrador, de hum Almeida Empheteuta do Marquez de Angeja, e de Jozé Ribro das Lamaz, todoz se queichão, maz athé aqui elle oz defructa. Eu devo explicarme a VSa eu não sei se a ley dos atrevessadoiros está a favor deste homem, não tenho duvida que a caridade, e a rezão está ofendida por este porcedimento, se huma pessoa habil, e intiligente falasse pello povo na ocazião da veztoria devia dizer que o carreiro de posto sobre a mota do ryo huma vez que fizesse o mesmo, que Frco da Fonceca praticou com outra q vezinha tapando-sse mto bem, deichando ao povo aquelle pequeno secorro, secorro que os mais antigos herdarão por huma posse immemorial, secorro, que todos sabem que ainda naz grandez inchentes deicha passage Livre para duaz pontes az gentes que do sanguinhal quizerem vir a ezta terra buzcar não comestiveis, maz cirurgião, e Botica, e emfim devia fazerlhe aprezentar o Tombo do prazo, que segundo julgão oz antigos não demarcado com o Ryo, maz sim a mota que fica Livre a serventia do povo, como se emudecerão todoz não tirou o caminho, maz formou huma valla de 80 palmos de alto, e 10 de largo sobre elas uzurpado a hum menino filho do capam mor da Lourinhã para o que mudou marcos, e asim forteficado disse a João Crespim que agora os passageiros ou passassem pello Inferno ou morressem afogados no ryo; e isto asim feito entrou a espalhar pello povo que as terras des-ta caza, que ficão do outro lado do Ryo q erão obrigadas a serventia, contra a verdade, e athé contra a rezão natural: neste cazo foi percizo que o procurador de minha sobrinha fizesse hum requerimento, para embaraçar esta novidade, e seguiosse o Edital, e a este o Cartáz do Pe Reytor.

Devo dizer a VSa hum incidente, que me magou extremamente: na noite do dia, em que se pos o Edital relativo a esta caza, entulharão huma pequena porção da dita valla, e diz o dito João Pimentel, que lhe deicharão ficar huma carta em que o dezcompunhão mto e ameaçavão: eu que conheço a aleivo-zia daquelle homem senti logo o meu espirito aflicto, porq sem embargo, do que aquella acção era propria de canalha disse a mim mesmo em segredo, que o meu nome seria talvez ultrajado dizendo o tal Pimentel que eu lhe mandaria fazer aquella obra pa mim tão indecoroza, e tão ofenciva a honra, que todos sabem, com que eu tenho vivido: não me consta comtudo que elle diga claramente o meu nome, o que eu dezejava saber, mas quaze que o explica. Se tenho pervenido a VSa tambem o tenho emcomodado, torno a rogar a VSa que desculpe a hum doente, que athé não pode fazer ezta por mão propria. Eu jámais fui, nem quero ser algóz de pessoa alguma, mas em taes circonstancias calarmehei? Se VSa quizer emformarse da scena que passei com o Reytor, de dois Religiozos, que estavão comigo, hum que se chama Fr Jozé da Soledade asiste nesta terra. Devo adevertir a VSa que tal e qual João Pimentel alguma gente canalha tem devoção com elle, todoz sabem quanto eu tenho referido a VSa, maz ainda mal poucoz são capazes de juralo. Se VSa ouvir Franco da Fonceca esse tem inteligencia, e não depende delle. Como não sei athé onde se lemita o requerimto de minha sobrinha, pode ser que eu tenha feito aqui escrever coizas desnecessarias.

Tenha VSa quantas felecidades merese, e eu lhe dezejo como quem

De VSa Affectivo Venerador Martinho Affonso Henriques de Mello

P.S Agora sei que VSa se apozenta no sanguinhal cuja terra a mais porjudicada se VSa se quizer emformar com o Pe Franco de Matos unico Clerigo, q tem o Bombarral com o dito Franco da Fonceca, com Joaqm Pra desta terra; maz emfim eu não sei qm lhe nomei, to-doz sabem a verdade, maz Ds me livre de negocios, que dependem do povo, e dos juramtos delle ea.


Legenda:

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