Copyright 2009, CLUL
quarto de folha de papel não dobrado escrito no rosto e com sobrescrito no verso.
três linhas em branco antes do início do texto.
O autor denuncia um caixeiro de armazém de vinhos, acusando-o de se manifestar contra o governo de D. Miguel e de possuir um exemplar da Carta Constitucional.
Reproduções não dispensam licença da DGARQ/TT
Vivia-se o reinado de D. Miguel, rei que desenvolveu um vasto aparelho de espionagem (visível aliás na correspondência para o ministro da Justiça) e cujos métodos repressivos ficaram célebres. O ambiente de perseguição encheu de presos as cadeias de Lisboa e muitos aí pereceram, como os liberais Pedro Melo Breyner e Manuel Borges Carneiro. Mais modesto era o réu deste processo: a Guarda Real da Polícia, depois de recebida a denúncia anónima aqui publicada, prendeu prontamente o denunciado, Manuel Luís Pereira, caixeiro de armazém de vinhos (taberneiro) e deu parte dele à justiça. No processo está incluído, como prova sobre a qual o réu foi interrogado, um exemplar da Carta Constitucional (Lisboa. Na Impressão Regia, 1826). O processo inclui um documento ("Parte da Guarda Real" de 8/1/1832) em que se relata a atuação dos guardas: “Em consiquencia de huma annonima que hontem foi emtregue ao Commande. da Guarda da Praça da Figra. pr. hum indeviduo q. logo se retirou, na qual o delinqte. é acuzado de dezafecto a sagrada cauza da rialeza, o fiz prender hoje pelas 6 horas da mmanhaã no mencionado armazem, pelo sobredº. sargento, cabo, e soldºs., sendo-lhe emcontrada em hum armario q. tem no indicado armazem a carta constitucional impreça, a qual como a mmª. annonima, e delinquente, faço apprezentar a Va. Sa. q. determinará o que for servido.” O réu reclamou sempre a inocência, mas teve por pena sair de Lisboa e recolher-se à sua terra de origem, Valadares.
Anonymous letter to a Police Real Guard corporal.
The author denounces a wine warehouse clerk, accusing him of speaking out against the government of Dom Miguel and of having a copy of the constitution charter.
Those were the times of the king Dom Miguel, who developed a vast secret services apparatus and whose repressive methods were much well-known. The persecution practices filled the Lisbon jails with prisoners and many perished there ‒ this was the case of the liberals Pedro Melo Breyner and Manuel Borges Carneiro, among many others. Much more modest was the defendant in this process: the Royal Guard of the Police, after receiving the anonymous letter published here, promptly arrested Manuel Luís Pereira, a wine warehouse clerk. The defendant always claimed his innocence, but nevertheless was condemned to leave Lisbon and retiring to his homeland, Valadares.
«Finding of a Liberal in Travessa da Palha, in a retainment warehouse number 24. For further evidences of truth, he just got out of Limoeiro. And more: as soon as he is arrested, he must be frisked, since he has a constitution charter in his wallet, a letter pretty much against our Government and against religion. As soon as he is arrested, I will reveal my identity, and I will also tell you who this friend is. You will be forced to hand him in to the Commander. He's Manuel Luís Pereira. Lisbon, 6th January 1832»