Copyright 2005, Ediciones TREA
A autora regozija-se com as notícias que julga ter recebido do marido, preso pela Inquisição. Fala-lhe também dos filhos de ambos.
Reproduções não dispensam licença da DGARQ/TT
Segundo o depoimento feito perante a Inquisição por Manuel Leitão de Oliveira, de 12 anos, filho de Filipa Grácia, falecida, e do licenciado Sebastião Rodrigues de Oliveira, advogado, preso com os seus irmãos e tios na Inquisição de Évora, três cartas deste processo são apócrifas. Para acalmar a madrasta (e também para receber umas prometidas alvíssaras), resolveu forjar cartas do punho de seu pai, supostamente emitidas da cadeia pública de Elvas. Quase todas as mulheres da casa (a avó, a madrasta e uma tia) acreditaram, e ditaram cartas de resposta, as quais, obviamente, nunca chegaram ao destino. Toda a correspondência foi ficando na mão de Manuel Leitão, que acabou por entregá-la à Inquisição ao ser obrigado a ilibar o pai e os tios da culpa de revelar o segredo do Santo Ofício. Manuel Leitão justificou assim a sua conduta: vendo que sua madrasta estava sempre chorando, desejando saber novas de seu marido e pai dele, e prometendo muito a quem lhe desse essas novas, ele por sua ignorância lhe disse que escrevesse ela um escrito, que ele tinha por quem o mandar, e asim foram e vieram três escritos e três respostas, e eram os que ali mostrava (fls. 357v-358r).
As cartas foram inicialmente publicadas em Marquilhas, Rita (2005) "Una gran sala con la puerta abierta: cartas imaginarias desde la cárcel de la Inquisición (Portugal, siglo XVII)", Castillo Gómez, A. e V. Sierra Blas (eds.), Letras bajo sospecha. Gijón (Asturias), Ediciones TREA: 43-75.
Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.
Family letter dictated by Maria da Mota to her husband, Francisco Rodrigues de Oliveira, prisoner.
The author shows her satisfaction towards the news she believes to have received from her husband. She also tells him about their children.
Manuel Leitão de Oliveira, the twelve-year-old son of Filipa Grácia and Sebastião Rodrigues de Oliveira decides to write fake letters, on behalf of his father, who was in jail. He claimed he did it to soothe his stepmother, who was always crying and longing to receive news from Sebastião. He also admitted having written the letters expecting to receive some compensation for bringing good news.
The Inquisition archives contain, apart from the around 40 thousand individual proceedings ("processos"), a collection of scattered charges, for which the Inquisition "Promotor" had to decide whether or not to prosecute. Complaints, confessions, letters by the commissioners or about different stages of each proceedings are some of the document types that can be found in these books. This letter has been kept among such documentation.
Sir Francisco Rodrigues Oliveira,
I was very pleased to hear news from you, since it was the thing my sons and I wished the most. I am truly relieved to hear such good news from you. The boys are well and Francisquinho is always crying for you. Many greetings to your brothers, especially to the licentiate Sebastião Rodrigues Oliveira. My concern is to ask God to look after you. May God keep you as He can.
Elvas, from home, 26 of September, Maria da Mota
de
viada
Cados