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Maarten Janssen, 2014-

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[1734]. Carta de frei André da Conceição, sacerdote franciscano, para Leonor Caetana, recolhida.

SummaryO autor escreve a dar vários conselhos na qualidade de diretor espiritual da destinatária e alude novamente a Margarida de Jesus, a Feia.
Author(s) André da Conceição
Addressee(s) Leonor Caetana            
From Portugal, Vila Real
To S.l.
Context

Acusado de solicitação e molinismo, o padre André da Conceição teria mantido atos torpes com as suas confessadas e filhas espirituais, faria demonstrações de pretensamente ter dotes de adivinhação e recomendaria o tocamento das suas mãos como bom remédio a certos sustos e superstições de que as mesmas mulheres padeciam. Adicionalmente, afirmava lograr certos favores especiais do Céu “e para encobrir o seu engano e persuadir o veneno da sua doutrina lhes mandava fazer muitas penitências e orações e visitar vias sacras”. Parte da correspondência trocada por este padre confessor em contexto de direção espiritual está guardada em dois processos distintos da Inquisição de Coimbra: 3326, em que ele é réu, e 9942, instaurado a uma das suas seguidoras, Margarida de Jesus, a 'Feia'. Desta produção epistolográfica, destacam-se vozes femininas – Leonor Caetana e Margarida de Jesus, a 'Feia' – mutuamente referidas nas cartas encaminhadas ao padre confessor. De sublinhar, contudo, a existência de duas cartas escritas pelo padre José Rodrigues de Morais (de origens muito humildes, homem bem procedido e “metido a beato”, ecónomo na igreja da vila de Torre de Moncorvo), muito embora assinadas por Margarida, sua autora mental. As constantes referências ao demónio como “meu moço” encontram ligação com o adágio popular «Até o diabo, quando era moço, era bonito».

A correspondência inclusa nestes dois processos inquisitoriais resulta de duas formas de incorporação em momentos distintos: Por um lado, deparamo-nos com parte do correio trocado entre André da Conceição e Leonor Caetana, o qual chegou ao conhecimento da Inquisição de Coimbra por entrega voluntária desta última a um padre missionário. Inclui, como vemos, a carta que esta lhe escrevera «ao depois que conheceu o erro e engano em que estava» (TSO, IC, proc. 3326, fl. 32r). A estas provas documentais somaram-se as declarações prestadas tanto por esta mulher como por Antónia Maria. Com efeito, a validade e credibilidade destas testemunhas saíram reforçadas à vista do teor das cartas escritas pelo denunciado e deram origem à instauração do processo.

Quanto às cartas e orações redigidas por Margarida de Jesus, foram encontradas entre vários papéis mantidos na posse do réu num momento posterior à saída deste em auto da fé. A ligação desta mulher ao réu remontava ao tempo em que ele estivera na Torre de Moncorvo, cerca de 1730. Margarida manteve contacto mesmo após a sua transição para outro convento, partilhando amiúde as suas experiências e práticas, nomeadamente os favores e revelações que cria receber de Deus, as perseguições do demónio e o teor de várias visões. Dada a relevância destes testemunhos manuscritos, foram prontamente encaminhados pelo padre provincial da Província da Conceição. Temia o comissário do Santo Ofício de Vila Real que o denunciado, «vendo que lhe faltavam cartas das confessadas» e sabendo a causa que contra ele se compunha, se pusesse em fuga.

Support meia folha de papel dobrada, escrita na primeira e na última face.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Coimbra
Archival Reference Processo 3326
Folios 22r-v
Socio-Historical Keywords Ana Leitão
Transcription Ana Leitão
Contextualization Ana Leitão
Standardization Clara Pinto
Transcription date2014

Page 22r >

[1]
Ss Ma

Filha Minha quatro tuas recibi este correio

[2]
dadas, por culpa do correio de Lamego: dellas fis
[3]
a estimacão que das minhas filhas faço sempre das
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suas novas, e mais quando ellas servem de con
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colação aos pais, vendo aporveitão, as suas doutri
[6]
nas, como agora me dizes tivestes grande nove
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na da Asumpsão, não poço deixar de o estimar
[8]
na alma, agora toma os sabbados da Conceição
[9]
tambem pella obediencia, com todo o recolhimto
[10]
posivel, e te louvo a caridade com os doentes, que
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por esta ocupação não importa que faltes a algu
[12]
s exercicios, q a caridade tambem exercicio de
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mta virtude, e mericimto. Agora minha Filha con
[14]
cidera bem o engano em que vivias, em tempo de
[15]
Fr Anto, e o engano com que o meu moso sega mtas
[16]
almas com lhe meter na cabeca, q se não tiverem
[17]
ali confesor perpetuo q não andarão pa diante
[18]
no servico de Ds, agora como isso he engano q
[19]
sem eu estar te não faltão as concolacoes q
[20]
dezejas, como vais exprimentando, sem q q||que pa ellas
[21]
seja nesecario mais q a virtude da sta obedien
[22]
cia em q vives, asim q te peço q não a desprezes em
[23]
todo o tempo da tua vida, e ao depois na outra ta
[24]
mbem de obedeceres, e de Fr Anto não facas ca
[25]
zo, q elle ta não serve, nem outro algum, q Ds
[26]
te hira encinando, o como se alcanca o caminho
[27]
da perfeição: e toma isto com rezulcão, de amares
[28]
podeceres, e obedeceres, sem mais nada, e canto a is
[29]
to não concintas em mais nada, q a Marga te man
[30]
da asim dizer da parte do seu minino, e não fa
[31]
cas cazo das couzas do mundo e todo o teu empenho

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