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Maarten Janssen, 2014-

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1659. Carta de Francisco Carvalho, artilheiro, para Sebastiana da Silva, vendedeira de peixe, sua mulher.

SummaryFrancisco Carvalho, marinheiro, escreve do Estado da Índia, da Ilha de Moçambique, comunicando à mulher que está vivo.
Author(s) Francisco Carvalho
Addressee(s) Sebastiana da Silva            
From África, Moçambique, Ilha de Moçambique
To S.l.
Context

Francisco Carvalho, filho de Agostinho Domingues, lavrador, e de Maria Brás, lavadeira, nascido em S. João da Cruz, Coimbra, casou em 19 de setembro de 1652, na Santíssima Trindade, em Lisboa, com Sebastiana da Silva, de 32 anos, mulher que vendia peixe, natural de Cheleiros, filha de Bastião Alves e de Catarina Jorge. Tiveram dois filhos, Manuel e Maria. Em março de 1657, Francisco Carvalho, que servia de homem de pé a D. Francisco de Almeida, embarcou para a Índia "no pataxo de Nª Srª da Boa Memória com praça de artilheiro". A mulher afirmou ter tido “novas” só quase dois anos depois, no Natal de 1658, “as quais lhe deu uma irmã de seu marido [não sabe o nome] casada com Bernardo Rodrigues que serve nas danças e nelas faz figura de Rei David dizendo que o dito seu marido era falecido e que morrera ferido de uma bala no galião S. Tomé [...] e com estas noticias se resolveu ela a casar segunda vez com Antonio Pereira homem de pé de Manual Correa de Lacerda [...]. Para efeito de contrair segundo matrimonio se fez apregoar por viúva”. O segundo casamento de Sebastiana da Silva foi a 29 de setembro de 1659, na freguesia do Loreto em Lisboa. A Inquisição interrogou vários marinheiros e soldados para confirmar que tinha mesmo corrido a notícia falsa da morte de Francisco Carvalho. Um deles, Manuel da Costa, disse que lhe tinham pedido que “jurasse que Francisco Carvalho era morto [...] que importava assim para sua mulher cobrar uma herança”, mas recusou-se a fazê-lo porque quando estava embarcado como artilheiro com Francisco Carvalho no galeão S. Tomé “vira lançar-se ao mar o dito Francisco Carvalho e ele declarante fora tomado prisioneiro dos holandeses”. Já João da Costa, soldado da Índia, disse que “se embarcaram ambos na barra de Goa no navio S. Tomé a pelejar com o Olandês que em efeito pelejou e no cabo se queimou e na peleja matarão ao dito Francisco Carvalho e ele testemunha o viu com as pernas quebradas e morto”. Outra testemunha: “... a pelejarem com o Olandês na barra de Goa onde o mesmo navio se queimou e deu-lhe huma bala nas pernas ao dito Francisco Carvalho de que faleceu e dentro no mesmo galeão se queimou e ele testemunha escapou a nado”. A 21 de agosto de 1660, Sebastiana da Silva recebeu uma carta de Francisco Carvalho; segundo uma testemunha, dizia-se que a primeira reação da mulher fora de incredulidade: “ouvira dizer que punha ela dificuldades a ser esta carta de seu marido, e que alguém fingira a carta por lhe fazer pessa”. Já segundo Isabel Gonçalves, tecedeira, mulher do referido Bernardo Rodrigues, irmã de Francisco Carvalho, a cunhada “lhe mostrou uma carta da letra do dito seu irmão que bem conheceu”. Segundo a própria Sebastiana da Silva, “apartou-se do segundo marido [no próprio dia 21 de agosto] porque naquele dia se lhe deu uma carta do dito seu primeiro marido pela qual lhe contou que ele he vivo [...]. Entregou-lha um moço, que lha dera um homem que ha pouco tempo chegou do Brasil, que ali lhe tinha dado outro homem que tinha chegado da India”. Meses depois, em dezembro de 1660, o próprio Francisco Carvalho fez uma denúncia à Inquisição, prestando testemunho na Fortaleza de Moçambique em como tinha acabado de saber que um grumete, José Rodrigues, inventara em Lisboa a notícia de que ele tinha morrido no desastre do galeão. Segundo mais duas testemunhas, Francisco Carvalho, que afirmara na carta de 1659 estar a tentar voltar a Portugal, não chegou a sair de Moçambique porque aí terá morrido no início de fevereiro de 1661.

Support meia folha de papel dobrada, escrita no rosto e no verso do primeiro fólio.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 137
Folios 23r-v
Transcription Ana Rita Guilherme
Main Revision Rita Marquilhas
Contextualization Ana Rita Guilherme
Standardization Sandra Antunes
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2008

Page 23r > 23v

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Jesus Maria Juzephe

por se ofereser esta oChazião não

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quis deixar de fazer estas duas reg
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ras pa q saibais que eu indo sou
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vivo suposto que eu vos não hes
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Crivi na Caravela em que eu vim
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foi porque eu estava em tera
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de moiros agora querara Des
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que eu va em outro pataxo que vai
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atras desta Caravela asim quere
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ra des que pesuais a saude que es
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te voso marido vos dezeja em Com
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panhia de meus filhos eu de sa
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ude fico mas ben me pude
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reis vos esCrever nesta Carave
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la a india não tem que dar
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di si eu eu de fazer mto por me
[17]
tirar dela sabereis Como me
[18]
u irmão he morto moreo no
[19]
espital de goa não pasiou ma
[20]
is q dezoito dias qua falei Com
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o condeestavel da Caravela que
[22]
[23]
porq era grande amigo de noso Compader antonio de Carvalho
[24]
asim que lhe dareis mtos recados e a nosa comadere a todos e a to
[25]
dos que por min perguntarem qua me dise meu irmão, que
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manoel que ja hia a esCola querera des darlhe intendimto
[27]
pa ser gente asim que a minha bemsão e a de des os Cubra e da
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minha filha não me dizeis nada e tambem tomara saber

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