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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0622

[1770-1772]. Carta de Bernardo da Silva do Amaral, padre, para Ana Maria de Jesus, freira.

Autor(es)

Bernardo da Silva do Amaral      

Destinatario(s)

Ana Maria de Jesus                        

Resumen

O autor, padre, aconselha a destinatária a não tirar a sobrinha de sua casa, assegurando-lhe que não há razões para escândalo.
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Sra Ana Maria mto ma Sra

Dezejo a vmce toda aquela paz, e socego; todos aqueles alivios, to-dos aqueles augmentos spirituaes, e graças Divinas, q pa mim mesmo posso pedir, e rogar a noso Bom e Todo poderozo Ds

Sra Vmce me perdoe a confiança de lhe escrever; e pa este perdão me pode valêr a intenção, com q pego na pena: e vem a ser socegar a Vmce, atender pelo seu bem, e de sua sobrinha; e sobretudo obedecer, a qm governa ma alma, e agradar a meu Ds

Tod o cuidado de Vmce, tod as razões suas, e de outras pesoas pa persuadir a sua sobrinha, q largue pa caza, pa onde veyo; se fun-dão no reparo, na nota, e escandalo do mundo. Não he isto verde não tem duvida; pois asim o diz a sua carta, asim o dizem ou-tros, ainda pesoas Reliozas: pois sabendo eu mta couza (q nada no mũdo vem sempre a estar oculto, como diz Jezus Cho) nunca tive noticia se falase, ou suspeitase mal de sua sobrinha por estar onde está, nem por se comunicar comigo. He verde q sujeito houve, q a infamou: porem como odio, paixão, e ma vida do tal sujeito são couzas claras, e notorias, e q á mesma virtu-de de sua sobrinha tem aversão: ja se ve, q nenhũ homem prudente deve fazer cazo dos ditos; ou pa milhor dizer da vontade da tal creatura. N Sr de a este homem mil bens; os quaes todos os dias lhe peço, e eu sempre lhe perdoei, e perdo-o de todo meu coração os gravisimos testemunhos, q me tem levantádo.

Como pois o escandalo do mũdo, o meterem-se almas no in-ferno (como Vmce diz) por estar sua sobrinha na caza, onde mo-ra; he todo o alvo dos seus cuidos, escrupulos, e deligencias: peço-lhe Sra Ana Maria pelas chagas de Jezus Cho me ouça com atenção nesta carta. Bem dezejava eu falar com Vmce; mas como por ora não pode ser, peçolhe ouça as ptes, emqto Vmce me não con-cede licença de me por a seus pes na sua prezença.

Pronũciar sentença sem ouvir as ptes não he licito, não he bom; he antes prejudicial, e reprovado por todos Direitos natural, e positivo. Sua sobrinha de Vmce estava morãdo em tal caza, tal penuria, e tal dezãparo temporal, e spiritual, qual direi; pa q se abrão os olhos a razão. Primeiramte vivia so, sem companhia al-guã. Oh juizos humanos! Huã moça de poucos anos estar so em huã caza, sahir so; indo so onde lhe era prescizo: isto não cau- cauza reparo ao mundo: viver em companhia de huã mulher velha, de boa vida, e de todos sabida, a qual a criou; isto he q escandaliza qtos homes, e mulhe-res Ds criou! porq? porq esa mulher velha está em caza de Padre. Pois o P não he confesor de ambas velha, e moça? pois huã May ainda de cre-ação não pode viver com sua filha, esteja a May, onde estiver, comtanto q não seja caza ruim? Pois não se supoem guardada, defendida, segura, livre de peri-go huã filha diante de sua May; ainda q na caza onde vão, estejão homẽs perdidos? Podese imaginar, q huã May de creação, mulher velha, mulher sta, mulher mto, e mto amte de sua filha ha de ser consentidora de couzas ruins etca Não he isto, o q estámos vendo em tantas cazas de Padres, sem nota, sem reparo, sem escanda-lo de pesoa alguã? Pois como so este Padre, q escreve, chamãdolhe todos bom, he o desgraçado, q o mũdo ha de praticar com ele outros direitos, os quaes o mesmo mundo não uza com Padre dos quaes não tem bom conceito? Ora o certo he q neste negocio anda Demonio solicitador, Demonio envejozo do bem das al-mas.

Dirá Vmce: estivese Clara com ma sobrinha; ou vivese ela em compa de seu cunhado; ou viese pa onde estão seus parentes. Ao pro respõda Clara, q he mto boa testemunha, a qual diz q não quiz, nem quererá; porq não he tola, pa estar morrendo a fome, e dezamparo; tendo de comer, e vestir, Mir Caza boa onde morar, Misa, e confi-ção a tod a hora, confeçor de caza, e interro feito. Ofereceuse Clara pa vir tratar de mim por hũs dias emqto ensinava o meu preto a cozinhar. Nunca o quiz en-sinar, nem se quiz ir de ma caza por mais q lhe dei a entender. Não quiz correr eu com ela podendo: porq sabia as necesides q pasava em compa de sua sobrinha; e porq não sou ingrato; e tirano visto o bem, q me servio, e amor, com q cuidou de mim, depoes q veyo pa ma caza. Estar sua sobrinha com seu cunhado, he o mes-mo q querer perder o temor de Ds: porq era tão sem cautela, q ouvindo-se tinha acto matrimonial com sua Irmãa, e fazia a vista de todos outras couzas inde-centes com sua mulher, sem aproveitar avizos etc. Bastava a caza andar revol-ta sem comer, nem durmir a horas eta pa q sua sobrinha não podese servir a N Sr em compa de tal cunhado. Cazamto, apartamto[ diz o ditado] bastava esta razão so, qdo não houvese outras mtas e mtas Ir pa caza de seus parentes ao pa-recer era mto sto, mas ponderado tudo, eralhe mto mto e outra vez mto prejudicial. Segure-me Vmce mta solidão, mto recolhimto, mta abstração de creaturas em caza de- seus parentes [sem o qual tudo não pode pasar sua sobrinha por ser chamada de Ds] segureme o sustento, e vestido [palavras, e promesas não são obras, e deve acreditar mais obras, q palavras] segureme frequencia de sacramtos duas vezes e tres na semana no mato, segureme Director existente sempre no mato per-to, e capazisimo[ pois sua sobrinha carece comunicar Director com toda frequencia] segureme, q mudanças não prejudicão ao spirito, e tãobem mudanças de confesor[ o q todos reprovão] segureme outras mtas couzas bem necesarias a qm trata de perfei-ção: e eu então lhe seguraria a ida de sua sobrinha pa caza de seus Parentes.


Leyenda:

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