A presente carta tem uma nota que diz: "Esta carta deu o Famar. Mel. gomes Louro, dizendo q. ja nesta materia falara ao sor. Inqor. Joam Alz. Soares." Ao que parece, a carta teria sido entregue a este familiar em nome de uma suposta pessoa, dando parte de Manuel de Bastos Cardoso, alfaiate, casado na cidade de Coimbra. Este mesmo homem teria casado uma segunda vez em Lisboa estando a sua primeira mulher (com a qual se teria casado oito anos antes) ainda viva e em Coimbra. O familiar disse conhecer o dito Manuel de Bastos Cardoso por este ter sido seu oficial de alfaiate, mas que o delatado teria ido novamente para Coimbra havia quatro anos, levando a sua primeira mulher, de nome Isabel, para um olival e dando-lhe depois várias facadas, deixando-a quase morta. A mulher escapou e tornou-se ama de estudantes, enquanto o dito alfaiate não só não foi preso, como continuou a viver em Lisboa e a trabalhar (na época do processo) em casa do alfaiate de um duque. Neste processo consta ainda a descrição física do acusado como baixo de corpo, de mediana disposição, cara redonda, alvo de rosto, com sinais de bexiga, cabelo preto e de mais ou menos trinta anos de idade.
Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.