Voltando a Portugal de uma missão em Cabo Verde, dois franciscanos
(Província da Soledade), frei Pedro de Campeã e frei Dionísio de
Vila do Conde, foram à sua terra natal (Pederneira, Nazaré) em
romaria a Nossa Senhora da Nazaré. Isabel Pereira, legítima mulher
de Marcos Simão Perfeito, que ela sabia estar em Cacheu,
perguntou-lhes se sabiam dele.
Ficou então a saber que o seu marido, ausente de casa
havia 10 ou 12 anos e com quem vivera somente quatro meses, afinal
casara na costa da Guiné com certa mulher preta
viúva, de seu nome Ana Lopes. Na sequência desta descoberta, Isabel
pediu que os padres levassem uma carta para o seu marido. Mas esta missiva não chegou a ser entregue ao destinatário, já que aqueles religiosos a
encaminharam imediatamente ao Santo Ofício.
Semelhante documento constituía prova de vida da
primeira mulher, mostrando assim que Marcos Simão Perfeito ousara,
conscientemente, violar o sacramento do matrimónio, contraído 'in
face ecclesiae' em S. Martinho da Pederneira, por volta de 1711. Em
sessão perante os inquisidores, o réu declarou ter mantido contacto
com a primeira mulher através de diversas cartas, e que
recebera a notícia do seu falecimento quando
passou por Cacheu um navio proveniente da ilha da Madeira, cujo
capitão era natural da Pederneira. Foi então que, assumindo-se
disponível para casar, contraiu matrimónio com a
viúva do capitão Francisco Fernandes Carrilho. Contudo, as incongruências das
suas declarações, confrontadas com as revelações que Isabel Pereira
fazia naquela carta, não ofereciam dúvidas quanto às culpas
de bigamia e de como o seu marido deliberadamente quisera ocultar a
sua condição de homem casado, ignorando a sua primeira mulher no curso de uma
década.