Sentence view 1723. Carta de António das Chagas, frade, para [António Ribeiro de Abreu]. Author(s)
António das Chagas
Addressee(s)
António Ribeiro de Abreu
Summary
O autor pede ajuda ao destinatário quanto às acusações de que tem sido alvo, já que havia mulheres que iam confessar-se com ele e o acusavam de solicitação, defendendo-se o autor, afirmando que foi enganado por essas mulheres, dizendo que tudo foi obra do demónio.
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[2]
Meu amo e sor Não me faltando trabos e afflicois na
occupação em q ando , agora me vejo na maior tribu-
lação q nunca me lembro tivesse ,
[3]
no papel incluzo vai
referido o motivo della ;
[4]
pareceme q vay na verde e tudo
o q me lembra sucedeo .
[5]
Tenho por sem duvida q isto he
obra do demo , o q assim como este fes por desacreditar ao Dor
de unlão lhe deo bem q servir ,
[6]
e isto so por elle tratar
e entender como hũ Asmodeu , q excutou o q lhe ameaçou ,
[7]
havendo eu consendido com 90 demos pouco mais ou menos
e havendo sido delles ameaçado mtas vezes , q podia esperar
não havendo em mim hũa suma cautela , vigilancia
senão o q agora experimento ?
[8]
estas malditas me cega-
rão de manra pa não ver a gravide destas acçois q
dellas nã faria caso ,
[9]
e creio q ja qdo da outra ves
lhe escrevi a vmce algũa cousa disto havia ,
[10]
porem eu
tal não pesava , ou não me lembrou , q se perdia isto
bem , crível la q ouvera esta diliga e não
esperava q me avisassem como me avisarão hontem
hũa das sobredas a D Bernarda dandome a entender
q se confessam com hũ frade de Pombro com o qual
se confessão galmte e q elle a obrigava a denunciar
de mim sobre certa couza q bom o mundo he isto ,
[11]
e mais
desta não me lembra senão o q no papel incluzo digo
[12]
os mais suponho fizerão o mesmo porq bastava tocar hũa na couza , o q faria , porq o mes-
mo demo lhe moverá escrupulos pa me fazer mal pa o pe examinar as outras .
[13]
A mim me pa-
rece se bem me lembro q Castro tem estas acçois por portuvas e q se não devem de
nunciar mas outros as reportão por graves por serem fortes em tal occazião :
[14]
suponho q
a denuncia está feita , e q lá chegará o longo passado ;
[15]
verá vmce se vay o papel
conforme p se remedear isto , q peçolhe como amo me avize se devo fazer mais algũa
couza pa minha segurança :
[16]
tambem creio q elas não dezião mais de q foi , e q o papel ,
se ajustará com a denuncia , porq do q me lembro , faço menção
[17]
na realide se discursa
para algũa couza , não he por malicia minha , pois he sem duvida relativisado na
verde
[18]
vmce faça nisto o q eu de vmce espero , pois bem sabe q abaixo da salvação
não posso ter couza de mais pezo q o credito .
[19]
do mais não digo nada , porq não estou agora
pa fallar em outra couza , e não sei como hontem preguei despois do avizo .
[21]
Paço de Borba 3 . de Mayo de 723 .
[22]
Mto amo de vmce
Fr Antonio das Chagas
[23]
Despois desta feita recebi a de vmce de 28 de Abril
e admito q não sei se o religiozo , de Pombro chamado Fr
Luis na denuncia fará algũa menção de sospeita de Moli-
nismo por eu não admetir as sogeitas nada ,
[24]
como eu não mandei
nellas escrupulo não lhe dizia nada , nem eu o farei ,
[25]
não faço
menção disto no papel , porq não entendo q nisto haja couza
, porq eu lhe disse nada em ordem a isto .
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