PT | EN | ES

Menú principal


Powered by <TEI:TOK>
Maarten Janssen, 2014-

Visualización por frase

[1600]. Carta de Álvaro Vaz para Miguel de Castro, arcebispo de Lisboa.

Autor(es)

Álvaro Vaz      

Destinatario(s)

Miguel de Castro                        

Resumen

O autor dirige-se ao Arcebispo de Lisboa, dando-lhe conta das injustiças que dizia ter sofrido perante a Inquisição, pedindo intervenção na restituição da sua honra e bom nome.

Texto: -


[1]
Ilustrissimo Snor
[2]
Dee nosso Snor a Vossa S espirito de verdadeiro e sancto pastor ao qual officio convẽ não espedacar, mas apascentar, dar vida, cöservar defender, e por a vida com o verdadeiro pastor Xpõ meu sor, per impedir tantos peccados mortaĩs de testimunhos falsos quantos se cometẽ ca dia nas casas da Inquisisão de Portugal ho qual tanto se alegra o in-ferno ,(como a fe nos ensina) e tanto festejão os Inquisidores (como a ex-periencia fes conhecer)
[3]
q foi de scerta sciencia q servẽ as Inquisisões de Portugal de escolas pa ensinar judaismos, o heresias aquelles q não sabendo mais q ser christãos, erão mais catholicos q os Inquisidores,
[4]
ho q testimunho e sei de certa sciencia, q oje dia trabalho de redusir almas a Xpõ meu sor, as quais elles laa nas Inquisisões perverterão, ou forão a causa de sua perversão, e perdisão.
[5]
de modo q são as Inquisisões de Portugal alfandegas do inferno onde se se pagão aos demonios tributos de juramẽtos falsos, e testimunhos falsos, e tantos males se seguẽ, o qual an de pagar a Ds mui bem os Inquisidores, não ficando isentos de culpa hos q pelos Inquisidores indusidos, ou movidos de ameças ou per tormẽto, cometẽ as tais culpas, q isto sei de certa sciencia,
[6]
q o anno q injustamẽte como Anas, Caiphas, e Pilates, injusta e falsamẽte derão cõtra mim sentẽça, matarão tres pesoas tormẽtos, foão mel Thomas escrevẽte de Evora, frco d oliveira de Villa viçosa, e outra pesoa de Serpa.
[7]
E quãtos quantos testimunhos falsos forão queimados.
[8]
Ds vee, e affirmo q sofre mais os hereges de Gineva, e Rochela do q lhe agrada a Inquisisão de Portugal.
[9]
E ha VS pode escusar desculpa na morte de Xpõ nosso sor, os q podera excusar os Inquisidores da Inquisisão,
[10]
e quer saber VS quanto q ameaçando me, e fasendome diser testimunhos falsos disião q assistia naquella mesa da Inquisisão o spirito s
[11]
no q sei de certa sciencia q blasfemavão, porq o spirito sancto não pode assistir a falsidades, de modo q delles mesmos, per altos juisos de Ds, e pa perdissão sua, estao escondida a diabolica invenção q procedem.
[12]
Eu lhe escrivi quatro vezes retratandome dos testimunhos falsos q ameacos de morte desestrada me fiserão diser, obedecendo ao preceito de meus cõfessores.
[13]
VS pode ver a carta q a elles escrevo esta, e pesso q as mostre a mesa da consciencia, e aos snres guovernadores, e os desembargadores do passo e todos os doctores Theologos de Portugal
[14]
e obrigo a todos per preceito de charidade christã mandem, e fação restituir, e restaurar a honra de Ds causarẽ tantos males a seu sacerdote; e escandalisarẽ os Catholicos cuidando aver caido sacerdote culpas hereticas
[15]
e alem disto pa q outros per meu exẽplo não caiõ en culpas ou heresias, q falsamte me imposerão; e obrigo aos Inquisidores sob pena de maldição de Ds q me restituão toda a honra, e danos q causarão.
[16]
Alegrese VmS q teve seu Bispado cõfessor e sacerdote q ainda q não tam dignamẽte, todavia legitimamẽte fasia seu officio
[17]
no q a elle tocava, sempre tive intenção de celebrar, e cõsegrar, na missa,
[18]
sempre tive intẽcão de absolver nas cõfisões, tanto q acõtesia per escrupulo repetir duas veses a forma d' absolvição, e assi seria eu absoluto a hora da morte polo cõfessor como tive sempre intenção de absolver e assi nos mais sacramẽtos q ministrei, e recebi pelo q pesso a VS e ainda obrigo mande publicar isto as terras de seu Bispado pa honra de Ds a a qual deve prevalecer mais q o credito dos inquisidores,
[19]
e não os tema VS q isto he obrigação de direito natural, q tẽ força cõtra tudo ho positivo
[20]
e digo mais q envejando o demonio as confissões invalidas, q pela pregação do Evangelho da na terceira dominga da quaresma, me vinhão a mão, e sabendo como Eu ẽcaminhava as almas, misit in cor eorum, ut traderer ego: vierãome cõfissões de dous annos; de anno; de sete, e de desoito, hũas per vergonha de culpas, outras per ignorancia de cõfessores,
[21]
isto quis o demonio me pedir, mas Ds tirando de males, bens da a aprender diversas linguas pa q tendo Eu todo o mundo per aposento em diversas linguoas sirva a Ds q en hũa per ameassos dos Inquisidores ho offendi
[22]
faça VS merce escrever e ẽcomendar ao prior da igreja de S Pedro de Torres Vedras q mande cõprir as dividas, e obrigações q lhe pesso pa ho qual mãdo dar algũ dinheiro.
[23]
E esta fara VS merce mandar ao Sor Arcebispo de Evora pa q elle seu Arcebispado mande faser e publicar a mesma restauração q os Inquisidores são obrigados a faser, publicarẽ como injustamente fui preso, e cõdenado como ser de certa sciencia q forão tãtos de Evora, e outras partes.
[24]
do q fiqua claro q todos os males seguintes de hũa falsidade forão injustamẽte causados,
[25]
e faça VS merce mandar dar ordem q o meu patrimonio seja restitudo, per q não deve cousa algũa a Elrei, e quero q seja per ẽtretanto dado, e q o q se a Molher de Duarte pinto, e filha do Ldo Jorge Nunes de torres vedras não ouvera de deixar o sor Dom Luis de Portugal de ver e ajudar os filhos do doctor Lopo Vaz q lhe afirmo q forão sempre e são mais christãos q elle, e q he elle obrigado a pagar cõsciencia cento e setenta mil rs q a sra condessa devia a meu pai,
[26]
e isto de dinheiro ẽprestado, ho qual he obrigado o sor Dom Luis a pagar a Diogo d oliveira meu cunhado
[27]
e os theologos q outra cousa sentirẽ, não sentẽ bem na cõsciencia.
[28]
O padre frei João de Portugal q ouvera elle mais de crer a experiencia de toda a vida do Doctor Lopo Vaz e seus filhos, q as falsidades causadas per invẽção e ameaços dos Inquisidores, os quais pa remedio de sua salvação tem necesidade de restituirẽ tambem honras, vidas, bens q per meios injustos, e illicitos forão causa, q fossem diminuidos, quãtos injustamẽte ensambenitarão, quãtos queimarão testimunhos falsos, q pa diser mõte, Mestre Alvaro surgião fui condenado e queimado trinta ou quarẽta testimonhas todas falsas,
[29]
e he isto certo.
[30]
Cuidavão os Inquisidores de acreditar sua Inquisisão comigo e não fiserão outra cousa q publicar ao mundo minha christandade, e manifestar, e faser notorio a todas as nações as falsidades e juramẽtos falsos q nas Inquisosões de Portugal cada dia se cometẽ, de q os Inquisidores darão a Ds a estreitissima conta q ha no mundo q se ganhẽ bispados a conta de destruir minha honra?
[31]
a Ds deixo a vingança.
[32]
O Sor Dom Theotonio de Evora não pagou bẽ a Roma pois retorno das verdades Catholicas q de Roma recebemos, elle lhe pagou livros ou cartapassios de testimunhos falsos, e de falsidades e mentiras q os Inquisidores fiserão diser; q chegão a festejar tãtos falsos testimunhos q ẽvolvendoos velludo carmesim lhe dão o proprio lugar q a igreja Sancta e mai minha, daa e ordem aos Evangelhos de Xpõ Jesu, pa serẽ publicados.
[33]
Ds vee, aguarda, e dissimula q a VS de longa vida ã seu servisso, e sua gloria.
[34]
porq per modos injustos causão os Inquisidores jurarẽ huns falso cõtra os outros
[35]
per isso digo assima q injustamente ẽsambe-nitão, e queimão os mui Catholicos.
[36]
Criado Alvaro Vaz Ao Sõr Arcebispo de Lisboa E meu Sõr

Edit as listText viewWordcloudFacsimile viewManuscript line viewPageflow view