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1727. Carta de José de Moura, mestre de gramática, para [um membro da Inquisição de Coimbra].
Autor(es)
José de Moura
Destinatario(s)
Anónimo343
Resumen
José de Moura escreve da prisão uma confissão e pede misericórdia
Texto: -
[1]
Por me achar Eu Jozeph de Moura fo le
gitimo de Mel dos Reis e de sua mer
Sr Crasinta de mora naturais de Va Real
por me achar em prizam faso esta Lista por
ma Letra e nalla me asignarei Com as Couzas de
que pertendo aCuzarme ao S oficio
[2]
ComCorrim e fis hũa Cartta fingida e nella
dizia alguas palavras desonestas Como forão
huas a Respto de me dizer hũa tal molher que
lhe dava hum mal e q lhe antrava pellas
unhas dos pes e por galhofa fis hũa cartta
fingida e suposta Como q ma Remetia hũ
Amo a pedir me as unhas dos pes
[3]
e o nome do
parricho que a Batizara a fingia na da cartta
q sabia de hũa mer q tinha hum Cristto na
boca
[4]
e tudo istto eu fingi em matiria de ga
lhofa pa lhe dizer q tinha hum Cristto
na boca q Dicece o Do parricho de quem se
pedia o nome na da cartta q a tornace a Batizar
pellas unhas.
[5]
Comfesso que fis tudo isto em galhofa
e não por ofender a Sta fée do q peso a VSa mizeriCordia
[6]
mais digo que perguntandome hum Clerigo por hũa
emformasam que me perguntava de hũa mer pa
ver se sabia que ela Curava ou benzia pesoa
que ca não conhecia e saindo pa fora donde me foi
preguntada a tal couza dice a hum amigo que
se perguntava por a da mer pa aCuzarem o Sto
ofiçio
[7]
e fis isto não por ofender a santa fee
[8]
hu
distto peso a VaSa meziricordia
[9]
e Mais Comfeso e acuzome que tinha Comverças Com
hum engles q blafamava e dezia mtas palavras
Contra a nosa Sta fee e eu lhas ouvia e consentia
em tudo no que elle dezia por me não por com elle a
defendella
[10]
por eu ser emCapAs emCapas diso
e elle ser hum homem q parecia ser doudo
e por alguas palavras que eu ouvia deste tal
faramengo emtendia que elle Cuidava que eu
queria viver na lei em que elle falava
no que se enganava Como doudo q me parecia
[11]
E Chamandome este varias vezes a sua caza me de
zia que elle queria governar o mundo e que
deos no seu e elle na terra e me não fiace eu
no pe santto q hera hum homem emgana
dor e que se eu quizece viver na sua lei que
elle apontava que foce a sua caza que elle mo
deria
[12]
e eu comfeço que lhe ouvia tudo e me
deixava ficar donde elle por me ver Calado
Cuidava que eu ficava pello que elle dezia
[13]
e o que tudo aqui Comfeço ter ouvido mas
deClaro que não ofendia a Sta fee e todas
as mais couzas q ouvi q me não Lembra todas
aqui ei por expresas e declaradas Como que
se de cada hũa dellas fizera expacifica men
sam
[14]
e de tudo o que tenho ouvido emthe o dia
de hoje peso a VSa mizericordia pois em
nada disto concentia pa ofender a Sta fee
[15]
E declaro que o tal emgles Chamavan Joam
Listau
[16]
hoje
portto
17 de setbro de 727 a
Eu me asigno; com o meu signaL
Jozeph de Moura
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