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1752. Carta de Francisco de Sousa Caldas, abade, para destinatário desconhecido, abade.
Autor(es)
Francisco de Sousa Caldas
Destinatário(s)
Anónimo389
Resumo
O autor denuncia as práticas de certo curandeiro, de que ele próprio também usufruiu.
Texto: -
[2]
Meu amo e sor mto estimarei q vm logre a saude
q o meo afecto lhe ofereçe e sirvase da minha como
sua q fica certa as suas obdas
[3]
Meu amo dou conta a vm
em como no mes de 7bro passado estando Eu molestado e no
mesmo tempo conversando com joseph da silva meu Freges
e elle me dize sabia de hum Homem mto entendido
q hera da Frega de sam christovão do piquo de regala
dos e q fazia grandes curas com remedios da Botica
[4]
de que com efeito veio o do Homem falar comigo
e me afirmou me curava da minha queixa mas que
hera necesro dro de que logo lhe entreguei seis
mil e coatro centos para mezinhas da Botica
[5]
e vindo o do Homem com as mezinhas, pedio aru
da Alcrim salva, e folha de cana, e cozendo tudo
em huma panella me deu hum labatorio por todo
o corpo fazendo cruzes dos pes emthe a cabeça,
[6]
e ao de
pois pegando em mim me deu com as sellas dos pes
na padieira de huma porta,
[7]
e a agoa do labatorio
misturada com as mezinhas da botica cuja mistura
Eu vi a foi elle lancar em huma emcruzilhada
de hum camo, e depois me pedio a camiza que ser
vio no labatorio, e dize hera pa trabalhar com ella
pa trabalhar com ella sobre a queixa.
[8]
e ao depois
de tudo isto em huma quinta Fra pella meia
noute entre a quinta e sesta entrou a lancar
mostarda por todos os cantos da caza e dize que
se fora incenso toda a caza havia de tremer,
[9]
e no pon
to da meia noute fes apareçer no tecto da caza a figura
de hum passaro mto volante, dizendo o mesmo Homem
bota abaixo se não renuncio o pato,
[10]
e logo do forro
da caza cahio huma bolsa de estopa,
[11]
e logo e
lle dize çeça çeça de q logo se retirou a figura do tal
passaro,
[12]
e abrindo o do Homem a bolssa lhe
achou outra dentro de baeta preta que tinha dentro
em si varias couzas
[13]
e logo o do Domingos rebello da sil
va pedio grande segredo e q por nenhum modo
se revelase q pa elle hera grande perigo
[14]
o q tudo
prezençiou meu Fregues jozeph da silva e Andre
za Maria asistente no lugar da igra desta Frga
a coal elle amieçou mto q com elle o havia de
haver se o descobrisse ou denunciase ao santo offi
cio, a coal me da licença q denuncie
[15]
tambem por
ella e pa maior certeza desta verdade remeto a carta
incluza cuja letra conheço e reconheço ser do mes
mo Domingos Rebello da silva em a coal confessa que
depois de Deos me valera a minha vida e q lhe não
pagava inda q melhe dera a renda de hum anno
[16]
e mais me affirmou q tinha hum libro diabolico, e que tinha
todas as figuras dos Domonios e me Rogou pa de noute
hirmos a humas minas tirar dro
[17]
e Eu lhe Respondi
q procurase qm o acompanhase pois q Eu me
não atrevia a similhamte
[18]
e q elle havia de trazer
comsigo hum Homem pa tomar o pato
como tambem huma Maria pra da Frga de s pedro
de Abbade moradora no lugar da penna e termo
da Barca fes tambem huns labatorios com Ervas
e fazendo cruzes por todo o corpo com huma fou
cinha e hum saço, e sal e contas por donde reza
e levou hum lancol ao adro da igra e que lla
havia de fazer humas couzas que por hora me não
Lenbram,
[19]
porem me dize ella que tinha meio
pacto com o Demonio e q falava com elle debaixo
de huma ponte q tivese hum so arço
[20]
e de tudo
isto save tambem jo Jeronima da silva minha
familiar e me pede a denuncie.
[21]
e asim dou a vm
esta conta pa o servico de Deos e bem destas almas
e desencargo de nosas conciencias pa castigar somi
lhantes erros e dolitos tam grandes
[22]
Ds gde a vm
pellos annos q lhe dezo
[23]
S Miguel de Fiscal.
e oitubro 8 de 1752
[24]
De Vm amo e v mto amte
o Abbe Franco de souza caldas
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