Sentence view 1713. Carta de Manuel Mendes Cunha, homem de negócios, para o seu tio, Manuel Mendes Monforte, médico. Author(s)
Manuel Mendes Cunha
Addressee(s)
Manuel Mendes Monforte
Summary
O autor dá notícias suas e das dificuldades financeiras da sua família e dos seus negócios, notifica-o da partida de um primo seu, Duarte Mendes Ribeiro, para a Bahia, e da chegada de uma sua irmã, Juliana Maria, que estivera presa pela Inquisição. Justifica ainda um pagamento atrasado, agradece as mercês que ele e sua mulher têm feito à sua família e acrescenta que não será necessário fazer partilhas por morte da sua mãe, pois os bens que ela deixou não chegam sequer para pagar as suas dívidas.
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[1]
Meu thio e sor Dor Mel Mendez Monforte
[3]
Na escoadra que partio em o prisipio de Abril escrevi a Vmce
por duas ou trez viaz , e ainda que foi larguamte com
tudo não disse metade do que se me ofresia , nem ago
ra o poderei dizer , porque era mais pa vocalmte do
que pa escrito , mas contudo eixplicarmehei pello
milhor modo que puder ,
[4]
cheguei a esta corte ha 8 dias
a ezperar ma Irmam , aflitta , e desconsolada , que
Ds foi servido restetuirme ontem a ma vista depois
de vinte e dois mezes de abzensia ,
[5]
e he primisão devina
que o que se devia sentir cauza alegria e gosto na
consideração de que estamoz sogueitoz a maiorez em
fortunioz ,
[6]
aqui tirei algunz dias de demora , athe
a despacharem pa a levar pa a Bra , e falando com
ella me segura , cuidara mto em não fazer mal nem
inda a seuz inimigoz , o que bem se verefica pello
aperto , em que se vio , e a que hia cheguando ,
[7]
Ds nosso
sro que lhe deu luz , pa saber o que lhe comvinha
premita , tella de sua santa mão e a ella e a todoz
noz Livrar de nossos inimigoz
[8]
Meu Pro Duarte Roiz Mendez he o por
tador desta , que se rezolveu a hir e levar esse rapas
de ma thia Cna Mendez em sua compa , contra o meu
votto , por ser esta jornada sem aquellas condiso
inz , e forma com q Vmce o mandava hir ,
[9]
mas elle ve
ndose no mizaravel estado em que se achava se re
zolveo a vir a embarcarse ,
[10]
e vendo eu isto , o apa
relhei como pude , e não como era rezão por me não
achar com que poder fazello , que estão tais os ten
poz que não se pode coalhar vintem , como elle
a Vmce dira e foi presizo vender algunz guene
roz que thinha perdendo nelles , a fim de se poder
perparar , que ia fiarse hüa pessoa em que
em que cobrara de Po , ou Sancho que lhe deva pa
poder valerse deste dro ,
[11]
iso he ezcuzado , que pa
rese que he o mesmo fiar que perdello ,
[12]
e quando
Vmce se queixa deste mesmo mal , tendo outroz ca
bedais e outra emteligensia que eu não thenho , q
farei eu q não thenho , mais que o que he de Vmce
e de mim se fia , algumaz pessoaz , que me
fazem favor , sem mais cabedais que os alheios
a que he presizo dar satisfasão ,
[13]
mas não he po
ssivel seja nunca a tenpo ,
[14]
alfim , eu lhe
dei como pude 400 U e tantoz mil rs como
consta do seu Ro que mando , pa elle se apare
lhar e paguar algumaz dividaz que devia que
não paresia bem que indo elle pa a conpa de Vmce e pu
blicando , o mandava Vmce hir ficase devendo , na
da ,
[15]
do meu Pro que Ds premita levar a sa
lvamto dira a Vmce de palavra , mtas couzaz que
a mim me esqueserem , e reprezentara a Vmce
a mizeria , em que todoz noz achamoz , porque como
a mais da parenteira se acha tão pobre que não tem
hum pão que comão he forsozo que oz que tem
dem metade aos outroz por não pareserem
indoze pondo coaize todoz no mesmo estado
sendo os negosios tão poucoz , que nem a poder de
mto trabalho em a vida que hua , pessoa leva
se pode sustentar ,
[16]
e se agora com esta paz , que
Ds foi servido darnoz , as couzas não toma
rem outro caminho não sei que ha de ser
de todos noz com tantaz e tão grandez obrigua
soinz , a que deixado por não dar a Vmce tantoz
motivoz de sentimto paso , a outra materia
[17]
grande he a rezão de queixa q Vmce tem contra mim
em não aver dado a Rodrigo de sande oz 1320 e tantos
ris que pagou por Vmce da letra que sobre elle veio de
roma , e nenhuma desculpa há que me livre desta
falta , maiz que a de não ter , e por esta cauza he q
me emvergonhava , e ezcondia delle ,
[18]
suposto que
elle ha de confesar que em serta ocazião vindo eu
a esta corte e trazendo hunz tafettas pretoz de caste
lla que sendo bom guenero não thinhão saida , o fui
buscar a sua caza , e lhe dise , que eu me via emver
gonhado com sua mce em não averlhe emtregue
aquelle dro , que eu thinha na minha mão de Vmce mto maior
coantia , e que o não tenho dado não era porque a mi
nha mizeria , cheguase ainda a termoz grasas a Dz
de que me não achase com cabedal pa poder fa
zello , mas que este não estava liquido a dro pois trazia
hum negosiozinho pa castella , e que este todo , se
reduzia a trocoz e mais trocoz que pa elle só me
tia algunz tostoinz que podia ajuntar , e que delle
não tirava mais que fazendaz , que eu me achava
com huaz , pesas de tafetaz que quizese tomallaz
por conta deste dro e que az vendese , pello que qui
zese que por qualquer preso que oz vendesse
lhe faria a conta que nisto não thinha perda
alguma ,
[21]
procurei a venda aos tafettas ,
[22]
achei o oca
zião de fazer hum troco a ellez , a gueneroz que me
servião pa castella ,
[23]
não tive nunca ocazião de
ajuntar dro que cheguase a esta qta pa darlho que
he tal a mizeria como isso , nem thinha ouro ou
prata que empenhar , pa podello fazer , que a von
que a vontade , era , e he grande de satisfazer a da
letra , e sem que Vmce me digua , que tendo na ma
mão dro seu o devia fazer , porque acharme
com elle , mto mais depresa o avia de dar se o não
tivera , de Vmce em meu poder de que tendo ,
[24]
e so
bretudo , achei que seria menoz culpa , a de
faltar a Rodrigo de Sande de que a de deixar
de dar as esmollaz que Vmce e nosso thio e sro
Mel Mendez Monforte me ordenarão dese
cujaz dei 342 U como se ve dos Resiboz q
mando ,
[25]
estaz são as rezoins que thenho pa não
ter dado o tal dro Vmce relevara minhas fal
taz , que a saber e conheser bem , oz contrate
npoz q tem avido talvez , me não escrevese tão apa
ixonadamte neste particular .
[26]
Vay a conta corrente da solla e caixaz
que veio a meu poder na frotta de 710 e por
ella vera Vmce esto , 900 U e tantoz mil ris
ficando inda alguma sola em ser , e outra fiada
em cujoz termoz não pude fazer nesta ocazião
o que Vmce me ordenava , e asim pouco a pouco
irei remetendo , o que puder pa me ir dezenpe
nhando ,
[27]
e da conta que mando a meu Pro o sro
Marcoz Mendes , Vmce vera me resta do 122 U e ta
ntoz ris .
[28]
estez pode Vmce cobrar e abonar na ma
contta .
[29]
Ao fo do Ramalho pode Vmce dizer que
Mel Rois da Costa m entregou hum fxo d asucar
sem me dizer o que dele avia de fazer , que asim
que elle me avizou , emtreguase seu prosedo a seu
a seu Pay , que prontamte fiz como elle lhe avizara
[30]
Custodio da Cunha se foi outra vez em
bora segundo as notisias que ha
[31]
a cauza que teve
pa fazello , dira meu Pro , com que ao que elle a Vmce
devia não ha mais que perder as esperansas pois as
demandas que trazia , se lhe comfiscarão agora todaz
[32]
e minhas Irmanz , tambem nesta divida tiverão per
da na ezmolla que de lla lhe mandava dar nosso thio
e sro Mel Mendes Monfortte , que Dz lhe pague a boa
vontade e ellas ainda tem a ezperança de que do
sro lhe ha de fazer a mesma esmolla suposto não
tivese ifheito esta cobransa .
[33]
o Bispo saldanha morreo ha mt como
Vm ja sabe ,
[34]
e falandolhe Mel De Aguiar na divi
da nunca foi posivel pagualla dizendo , lhe não
lenbrava de tal .
[35]
nos Resiboz que mando das esmollas falta o de
160 que Vmce mandão dar a D Justa que este não
vay porque como inda ontem sahio não lhe pude
falar mas ira na pra ocazião que em saindo das
escollas lhe darei o dro e lhe pedirei o Resibo ,
[36]
os mais a qm
faltão por se dar as esmollas como se não cobrou
couza alguma de sequines não se pode dar
a todoz e se foi atendendo aos mais nesesitadoz
athe segunda ordem de Vmce .
[37]
em qto a clareza e obriguasão que Vmce me pede lhe
mande pa que conste o que eu devo a Vmce ou a caza de meus
Pais pella fiansa que por noz pagou a D Pedro gomes
acho , he escuzada , pois esta divida consta , da mesma
obriguação e fiansa que Vmce e nosso thio fizerão por noz
ficandolhe senpre a deretto , pa poder aver de mim
o que constar paguarão e pela da fiansa , e a mim
e a mim a obriguação de satisfazello , em todo , o te
npo , que Dz for servido darme com que poder
paguar , que he so , o fim pa que dzo ter alguma
ordem devida ,
[38]
e se Vmce lhe parese , que não basta
o que digo com seu avizo , mandarei ezcritto , meu
ou ezcretura , em que me obrigue a paguar e meus
Irmaonz , na mesma forma , aquella quantia q
Vmce pagou a D Pedro , que bem sintto que
asim , susedese ,
[39]
maz lá esta na terra a verdade
qm foi a cauza de ma destruição que se fora só com
perda ma me contentara maz ainda quiz a fortuna
cheguase a Vmce que he o que mais me deu e da cuido
e maiormte peloz disgostoz q Vmce me diz teve neste
particular , e em mim sera contino , se a ma pou
ca fortuna for adeversa , que não possa satisfazer
com a ma vontade e obriguação que estimara
mais que tudo que Vmce viese no conhesimto
qual he , e foi senpre a ma vontade , e tensão .
[40]
Com rezão me deve Vmce desculpar
em lhe não escrever em todoz os Navioz de avizo que deste
Reino partirão o anno pasado , na consideração de que
d alem de minhaz continuaz aflisoinz , com que
me achava , estava abzente da corte desde 7 de Ja
nro de 712 . e não sabia nem avia tenpo pa se me
avizar de que partião tais avizos pella pressa e se
gredo com que ao depois de saidoz me avizavão par
tirão ,
[41]
e suposto que em huma ocazião me achei
nesta corte em que partio hum pataixo , pello
coal escrevi a Vmce maz pasado pouco tenpo veyo
notisia de ser tomado pelloz fransezes , que asistir
que asistir eu nesta corte , bem deve Vmce ter conhesido
pellas mais ocazionz , que nunca perdi nenhuma de
dar a Vmce novaz minhaz e pedirlhe mas contenuase
de sua saude que esta estimarei grandemte logre
Vmce livre das molestias e queixaz com que me avi
za ficava , e não menoz ma sra thia a Sra Ma Ay
rez da Pina , em qm suas sobrinhaz saudozamte se rre
comendão com mil saudadez , fazendo o propio em meus
queridoz Primoz ,
[42]
e da pte de ma Irmam Juliana Ma
dara Vmce a da sra oz agradesimtoz da esmolla que lhe
fez , que bem sabia sua mce que qm como ella sahia
de tão grandes trabalhoz , tudo lhe era nesesario ,
[43]
e Dz
nosso sro lhe dara o pago , pellaz mcez e favores que
continuamte noz fazem , e todoz nos estamoz resebem
do .
[45]
se me lenbrar mais algua
couza direi em carta a pte
[46]
fico pedindo a Dz que
gde a Vmce ms anns como lhe dezo .
[47]
Sobro de Vmce o mais amte q mais a Vmce
estima e venera
Mel Mendez Cunha
[48]
ezquesiame dizer a Vmce
que era ezcuzada a recomen
dasão que Vmce me faz de que
por morte de ma May que Dz
thenha em gloria , não era ne
sesario fazer partilhas nem
sorte aoz orfaonz , que estas so se fazem
quando oz beis do cazal cresem daz dividaz que elle
deve
[49]
mas se estes não só não cheguavão mas ainda erão
tão lemitadoz que seria vergonha fazerse partilha
como avia eu de cuidar em tal ja que foi Dz ser
vido que nenhum de noz tivese legitima de Pay nem
de May a , não sendo a nossa caza daz que menos thenha
grasas ao sro , na noza terra ,
[50]
mas he tão grande , o animo
com que me acho , e a confiansa que thenho em Dz , suposto
o meu pouco meresimto que não desconfio inda de que me
ha de secorrer , e lenbrarsse da orfande de maz Irmanz
que mtoz nasem , sem couza alguma , e vem a ter mto
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