Summary | Frei José de Lemos conta ao destinatário que certas mulheres de Salzedas andaram a dizer estarem possuídas por almas de defuntos, pedindo depois missas, romarias e esmolas aos parentes dos mesmos. O objetivo da carta era o de fazer chegar o aviso ao Tribunal do Santo Ofício. |
Author(s) |
José de Lemos
|
Addressee(s) |
Agostinho de Jesus Maria
|
From |
Portugal, Lamego, Salzedas |
To |
S.l. |
Context | Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros. |
Support
| uma folha de papel dobrada escrita em todas as faces. |
Archival Institution
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Tribunal do Santo Ofício |
Collection
| Inquisição de Coimbra, Cadernos do Promotor |
Archival Reference
| Livro 402 |
Folios
| 171r-172v |
Transcription
| Leonor Tavares |
Contextualization
| Leonor Tavares |
Standardization
| Catarina Carvalheiro |
POS annotation
| Clara Pinto, Catarina Carvalheiro |
Transcription date | 2008 |
J M J
Rmo Sr Fr Agostinho de Jhs Maria
Meu Irmão e Sr sempre da ma especial veneração estimarei
que Va Pe
logre saude, para com ella fazer mtos serviços a Ds
e se sirva da q me assiste em o que for de seu agrado.
Amigo ja ha tempos, que ando com alguns estimolos na conci
encia, q me obrigão a escrever esta, porq sei q em Va Pe
esta prudencia
capacidade, e segredo pa ponderar o que quero relatar-lhe.
Lembrado estara Va Pe que ha perto de 2 anns ou couza q o valha
que eu vi de hũa carta que Caetana Umbelina deste
Lugar de Salzedas
lhe inviou, pedindo-lhe certos suffragios pa haver de se salvar a alma da maỹ
de Va Pe a Sra
Maria teixeira: Va Pe como Religo amo e prudente me in
viou proguntar, que arenga era aquella? suppondo q poderia ter, ou alcançar al
gua notícia; e não se enganou, porq tinha tido cabal conhecimto da arenga res
pondi a Va Pe
o q sabia no cazo, q era hũa Maria de Ramos deste Lugar Va
de Manoel Miz, q andava com aquellas invençoens,
de propositos, ou delirios. E
inclinando-me a piedade, julguei q aquillo erão fatuidades de molherinhas, que
poderia ter emenda com dizer-lhe a doutrina, e
verdes de nossa sta fé. Assim o fis
a ella, mas mal aceito; e dei a entender a Va Pe q não acreditasse o dito de
doudas
como não acreditou. Como politico respondeu a tal Caetana da Umbelina
(hoje cazada com João dos Aos) como devia responder; e eu lhe entreguei a tal
car
ta, q a mandei chamar a Igreja pa lha dar, e tambem hua aspera correção sobre
o seu falso zelo. E como a carta confirmava o q e
dizia, e tinha dito, tambem
o estimei, pa q visse q lhe dizia a verdade. Porem isto importou de pouco, porq
sempre ficou
no seu errado conceito, respondendo-me como por escarneo,: que sim
seria tudo como eu dizia, q o q ella passava, so Ds o sabia, dando-me
a entender
q a tal alma tambem lhe cauzava suas dores. Emfim como vio, q eu era con
tra, disfarçou o q pode, e entendo q
com as Sras Irmãas he q mais se declara
ria, porq como neste negocio era procuradora de Ma de Ramos havia de fazer as
ptes
mto bem feitas pa as capacitar a fazer os tais pedidos. Esta carta, q foi a Va Pe escre
veo-a
hum cleriguinho, q abaixo direi, q este merecia com hũas boas diciplinas
por concorrer, e fomentar estes dilirios, a fim de comer, e do lucro de alguã missa.