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Maarten Janssen, 2014-

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1765. Carta de frei José de Lemos para frei Agostinho de Jesus Maria.

SummaryFrei José de Lemos conta ao destinatário que certas mulheres de Salzedas andaram a dizer estarem possuídas por almas de defuntos, pedindo depois missas, romarias e esmolas aos parentes dos mesmos. O objetivo da carta era o de fazer chegar o aviso ao Tribunal do Santo Ofício.
Author(s) José de Lemos
Addressee(s) Agostinho de Jesus Maria            
From Portugal, Lamego, Salzedas
To S.l.
Context

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Support uma folha de papel dobrada escrita em todas as faces.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Coimbra, Cadernos do Promotor
Archival Reference Livro 402
Folios 171r-172v
Transcription Leonor Tavares
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Catarina Carvalheiro
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2008

Page 171r > 171v

J M J Rmo Sr Fr Agostinho de Jhs Maria

Meu Irmão e Sr sempre da ma especial veneração estimarei que Va Pe logre saude, para com ella fazer mtos serviços a Ds e se sirva da q me assiste em o que for de seu agrado. Amigo ja ha tempos, que ando com alguns estimolos na conciencia, q me obrigão a escrever esta, porq sei q em Va Pe esta prudencia capacidade, e segredo pa ponderar o que quero relatar-lhe. Lembrado estara Va Pe que ha perto de 2 anns ou couza q o valha que eu vi de hũa carta que Caetana Umbelina deste Lugar de Salzedas lhe inviou, pedindo-lhe certos suffragios pa haver de se salvar a alma da maỹ de Va Pe a Sra Maria teixeira: Va Pe como Religo amo e prudente me inviou proguntar, que arenga era aquella? suppondo q poderia ter, ou alcançar algua notícia; e não se enganou, porq tinha tido cabal conhecimto da arenga respondi a Va Pe o q sabia no cazo, q era hũa Maria de Ramos deste Lugar Va de Manoel Miz, q andava com aquellas invençoens, de propositos, ou delirios. E inclinando-me a piedade, julguei q aquillo erão fatuidades de molherinhas, que poderia ter emenda com dizer-lhe a doutrina, e verdes de nossa sta . Assim o fis a ella, mas mal aceito; e dei a entender a Va Pe q não acreditasse o dito de doudas como não acreditou. Como politico respondeu a tal Caetana da Umbelina (hoje cazada com João dos Aos) como devia responder; e eu lhe entreguei a tal carta, q a mandei chamar a Igreja pa lha dar, e tambem hua aspera correção sobre o seu falso zelo. E como a carta confirmava o q e dizia, e tinha dito, tambem o estimei, pa q visse q lhe dizia a verdade. Porem isto importou de pouco, porq sempre ficou no seu errado conceito, respondendo-me como por escarneo,: que sim seria tudo como eu dizia, q o q ella passava, so Ds o sabia, dando-me a entender q a tal alma tambem lhe cauzava suas dores. Emfim como vio, q eu era contra, disfarçou o q pode, e entendo q com as Sras Irmãas he q mais se declararia, porq como neste negocio era procuradora de Ma de Ramos havia de fazer as ptes mto bem feitas pa as capacitar a fazer os tais pedidos. Esta carta, q foi a Va Pe escreveo-a hum cleriguinho, q abaixo direi, q este merecia com hũas boas diciplinas por concorrer, e fomentar estes dilirios, a fim de comer, e do lucro de alguã missa.



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