O autor transmite ao destinatário as suas suspeitas sobre a relação do bispo do Algarve com um livro proibido em circulação.
Snr Inquizor Antonio Ribro de Abreu
Meu amo, e meu snr de todo o meu affecto, e veneraçam:
gratifico a VS este grde bem
das suas boas noticias, ainda q com
ellas chegam neste corro algumas tam formidaveis, q aos q esti-
mamos a Religiam
Catholica obrigam á pena, de q tantos tem a
culpa. Eu confesso a VS, q qdo contrapézo na balança da des-
criçam
os continuos, e interruptos trabalhos da minha perseguida
caza com os destemperos publicos, q respeitam á Fé, e Religiam,
me parecem os proprios leves arestas;
porq aos comuns avalio
por grosseyras traves; principalmte qdo considero verem os eccle-
ziasticos os facctores, e motores de tam
perniciozos escandalos.
E se se nam verificar o oportet hereses esse de S Paulo, pa q
mais se exalte a Fé, chorammos sem remedio
a desgraça ulti-
ma de hum Reyno, q ainda q fosse menos observante dos man-
damtos, sempre foy o mais pontual na defensa do
credo.
Eu considero, q esse livrinho, ou cartilha do inferno,
he natural desta cide, e q essa he a execuçam, q se
promettia
ao Muratori simulado; e assim o Autor, e o protector nam
se destinguem mais q pa q possa entender o vulgo nam ser
o
mesmo compozitor pela destinçam da pessoa, a qm se dedica.
Eu, nam com leves fundamtos, sempre estive no pensamto
de
q havia matra, em q se trabalhava sobre este ponto, pa q com
estes servicos se fortificasse o valimto
a fim de se perpetuar