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[1717]. Carta de Ivo Pinheiro, carpinteiro de navios, para um destinatário não identificado.

SummaryO autor pede que lhe seja enviado um chapéu.
Author(s) Ivo Pinheiro
Addressee(s) Anónimo567            
From Portugal, Lisboa
To Portugal, Lisboa
Context

Processo relativo a Ivo Pinheiro, cristão-velho de 39 anos de idade, carpinteiro de navios, filho de Manuel Pinheiro e de Isabel João, natural de Sapataria (Lisboa) e morador em São Salvador do Rio de Janeiro (Brasil). Foi acusado de bigamia por se ter casado uma primeira vez com Madalena Rodrigues, filha de António Lourenço (pescador) e de Margarida Rodrigues, e uma segunda vez com Luzia Rosa, filha de Manuel da Fonseca do Amaral (lavrador) e de Marcela Alvarenga, estando ainda viva a primeira mulher, com quem estava casado havia 16 anos (fazendo vida marital por sete anos) e de quem tinha dois filhos (Sebastião e Maria). O réu disse ter casado com Luzia Rosa porque um primo da mesma os surpreendeu em «amizades ilícitas» em lugar e hora suspeita. Em consequência, os familiares de Luzia Rosa ameaçaram-no de morte se com ela não se casasse. A noiva levou um dote de 150 mil réis e o réu fugiu com o dinheiro para a cidade do Espírito Santo após saber que era procurado. Ao ser apanhado, confessou o crime e repôs o dote. No seu depoimento, Ivo Pinheiro disse ter mudado de nome por ter uma dívida por saldar no Brasil e ter medo dos seus credores. Segundo o réu, teria ido para o Brasil levando consigo uns escravos para vender, escravos esses que tinha comprado com o dinheiro de um empréstimo que fizera no Brasil. Como alguns dos escravos morreram pelo caminho, ficou sem ter como pagar a dívida. Fugiu para São Salvador, onde esperava não ser achado devido à mudança de nome. Disse também que pensou que a sua primeira mulher tivesse morrido porque esta vivia «achacada» e tinha-lhe escrito uma carta em que se dizia gravemente doente. A carta escrita pelo réu a Manuel Domingues Leal (PSCR0556) foi entregue pelo destinatário à Inquisição para confirmar o seu juramento. O réu foi remetido preso na galera de António Luís Branco de volta para Lisboa e, em auto-da-fé de 16 de junho de 1720, foi condenado a abjuração de leve, a ser açoitado publicamente pelas ruas de Lisboa "citra sanguinis effusionem", a degredo para as galés por cinco anos, penitências espirituais e pagamento de custas. A carta que escreveu na prisão (PSCR0555) não tem qualquer menção em todo o processo.

Support um quarto de folha de papel escrito apenas no rosto.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 8204
Folios 10r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2308310
Socio-Historical Keywords Raïssa Gillier
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Raïssa Gillier
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Raïssa Gillier
POS annotation Raïssa Gillier
Transcription date2015

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