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Maarten Janssen, 2014-

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1619. Carta anónima para Duarte Dias Henriques.

SummaryO autor dirige-se ao destinatário pedindo-lhe uma esmola e ameaçando veladamente denunciá-lo como cristão-novo.
Author(s) Anónimo452
Addressee(s) Duarte Dias Henriques            
From Portugal, Coimbra
To Portugal, Lisboa
Context

Duarte Dias Henriques, cristão-novo morador em Lisboa, recebeu “das mãos de um moço” uma carta anónima em que se lhe pedia uma esmola. A própria carta mencionava um certo Sebastião de Matos, que o moço portador apontou como sendo a pessoa que, na expectativa da esmola, o tinha incumbido de levar a carta. Dirigindo-se à morada que lhe foi indicada, encontrou dois homens: Domingos Tavares de Vasconcelos e o referido Sebastião de Matos. Este último, numa primeira fase, recusou dizer quem era o autor da carta, mas acabou por mostrar uma outra (PSCR1309), à qual rasgou a assinatura, acabando por dizer que tinha sido escrita por um João Rodrigues da Guarda, que tinha conhecido um ano antes no cárcere da inquisição de Coimbra. Duarte Dias Henrique, que não conhecia ninguém chamado João Rodrigues da Guarda que lhe pudesse pedir dinheiro, suspeitou que o próprio Sebastião de Matos fosse o autor das missivas, de letra muito semelhante.

Durante o testemunho que prestou na mesa do Santo Ofício, Domingos Tavares de Vasconcelos reconheceu que tinha sido ele, a pedido de Sebastião de Matos, a escrever as duas cartas, que depois deveriam ir a assinar a Coimbra com o nome de um seu conhecido que precisava de esmola. Reconheceu que o tempo que passou entre a feitura das cartas e a visita de Duarte Dias Henrique não teria sido suficiente para elas receberem uma assinatura em Coimbra; testemunhou ainda que Sebastião de Matos tinha ameaçado Duarte Dias Henrique a ponto de este último acabar por lhe dar dois mil reais de esmola.

Também chamado à mesa do Santo Ofício, um Vasco Peres reportou ter sido vítima de uma extorsão semelhante.

Sebastião de Matos foi acusado de ter quebrado o segredo imposto pelo Tribunal do Santo Ofício ao ter revelado publicamente factos ligados ao processo que lhe tinha sido movido no ano anterior, em 1618 (TSO-IC, Processo 4470).

Support uma folha de papel dobrada, escrita na primeira face e com o sobrescrito na última.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 796
Folios 3r-3v e 6r-6v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2300678
Socio-Historical Keywords Tiago Machado de Castro
Transcription Maria Teresa Oliveira
Main Revision Rita Marquilhas
Contextualization Tiago Machado de Castro
Standardization Clara Pinto
Transcription date2016

Page 3r

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A estrema necessidade E mizeravel estado

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em q estou me obriga fazer esta pra
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Vm me socorrer com hũa esmola, que
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lhe sera mui açeita de Ds E de mim
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toda a Vida agardeçida, a qual Vm
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pode dar ao Portador que lhe esta
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entregar q he fiel, E me responderá
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com puntualidade. nas encomendas q lhe
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vão derigidas me compre pra meu reme
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dio, E tudo o mais que pudéra dizer
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calo pra quando vir a Vm, E me Remetto
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ao mesmo portador, E não aja falta
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nesta q peço porque não tenho nin
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guẽ senão a Vm E o socorro que
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me podia vir estaa longe, E não posso
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ir buscalo por rezão da penitencia, E
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habito q trago sem sair de hũa casa, E
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não faça Vm pouco caso desta como fez
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de algũas, assegurandose em dizer que
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he bom christão, E basta ser da nacão
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pra não poder falar afouto, E este
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moço não vai a outra cousa, que
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de entregar a Resposta a Bastiao
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de Mattos q nesa Cidade reside
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a sao bras em Casa de fco de magalhães Notario Apostolico com Domingos
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tavres de Vasconçelos Juiz dos orfãos da villa de nemão E Comissario do sto
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offo este Bastião de Mattos sahio neste acto da fee, E anda Reque
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rendo diante o Inquisidor Mor com hũas petições de algũs peniten
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çiados, a Ds que Gde a Vm Coimbra E de Janro 8 de 619
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E não me assino per não ser nçesso o portador dira quem sou de 619

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