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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1259

1623. Carta não autógrafa de Dom Luís da Gama para o seu irmão, Dom Francisco da Gama, 4º conde da Vidigueira.

Autor(es)

Dom Luís da Gama      

Destinatário(s)

Dom Francisco da Gama                        

Resumo

O autor dirige-se ao seu irmão, vice-rei da Índia, comentando diversos assuntos relativos à defesa daquele estado e às circunstâncias do seu cativeiro no reino de Nápoles.
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meu irmão Como tem faltado as minhas cartas a VS he rezão q lhe de a causa por q lhe não pareca q foi feito adrede e assĩ he necesso dar conta de mỹ. desd antes q VS se partisse de Madrid, o Pe Nuno Mascarenhas me escreveo de Roma em Xbro de 621. q VS estava nomeado V Rey da India, logo mandei tomar hũa falua pa mandar criado, mas foi o tpo tal que não pode partir senão a 14 de Janeiro e por mais diliga q fes tomando Postas de Madrid pa lisboa. não pode chegar senão depois de VS partido tres dias, o que sinti mto, p tra tenho escrito algũas a VS mas em duas q tenho suas, hũa de Mocã-biq outra comecada em Cochim, e acabada em Goa me não dis VS q lhe foi dada algũa; Mto me alegrei de saber a boa saude q VS ficava premita Deos conservarlha mtos annos mtos beĩs como VS deseja Grande pesar tenho da perda das naos em q VS foi, foi grão desgraça ha-vendo peleijado tanto valor, perderẽsse na entrada de Mocãbique, se tive-ra liberde logo me fora a corte porq entendo fora de efeito; assĩ pa os mnros en-tenderem como da parte de VS se fes tudo o que comvinha como pa se lhe mandar o socorro de q tem tanta neceçide, mas ha quinze mezes e mo que estou preso neste castello. e havendo onze q sua Mage respondeo a Memorial meu q dando fiança de des mil crusados. se me tornasse minha fazenda e papeis que se me tem tomado/ fosse solto e me aprezentasse em Madrid, per competencia do comisso de estado de casta o de Portugal. não sou solto. nem sei qdo se resolvera a quem toca mandar esta ordem. / pa o ser; se VS se lembrava de mỹ como era rezão e lhe eu mereço não paçara eu este trabalho. e VS tivera quẽ acudisse as suas cou-zas como convinha. Mas pa o q eu mereco por meus pecados inda isto he pouco; seja Deos louvado com tudo; o modo da minha prisão tera VS sabido plas cartas da sra Conda q as q eu escrevia a VS chegarão depois de partidas as naos, E po isso me antecipo tanto nesta. por q lhe não aconteca o q as outras A Prevenção q VS fes em mandar o Galeão de secoro a Ormus era muy boa e de importancia se aquella fortza se não houvese entregue por fraqueza de quem nella estava, mto dezejo ver os Mnros do Consso de Portugal pa lhes. fazer ver qtos annos ha q eu pronostiquei esta perda; se se fizesse a fortalleza em Cueixome, a Resolução q VS tomou em passar a esse estado nas embar-quações piquenas q achou em Mocãbiq foi mui asertada, mas arisca-da, porq como era cabo de Monção podião as corentes faserelhe mto empidi-mento e Verse VS em mto grande perigo e falta d agoa e mantimtos O Miseravel estado em q VS achou esse ha mtos dias q lhe eu tinha ad-vertido. e por essa resão o persuadia a não fazer tal Viagẽ. Primita Deos q o mto q se VS canssa por remedear as couzas aproveite, o q VS fes em Cochĩ em aplicar os dous por cento pa a cide fazer artelha e redificar os muros hei p mui asertado, e o mesmo pareçera a todos q ponderarẽ sem paixão pq p este modo em q emtrodosiu VS este tributo em q a cide não queria vir ha tantos annos. e modo pa se defender e refaser as ruinas q tinha; o q VS me dis de Crãganor mtos annos ha q o tenho escro a sua Mage o q em-porta he ser señor do mar; pombais qtos menos melhor. A compra q VS fes da Naveta foi mui boa e asertada, em Madrid folgarão mto de saber q ella estava na Ilha Terceira, tanto q franco de Luca mo escreveo grande alvoroço. e mais a festejarião depois de chegada a Lxa, a nova da perda de Ormus se soube em Mayo por tra. se não mandarẽ secoro a VS sera por não quererem. e não por lhes faltar tpo pa o aprestarẽ; o Pe Colla-co me escreveo ha mezes q instava p q se acudisse grão calor. mas como nos Mnros do Consso ha pouco. duvido facão cousa q preste; eu qro mto a VS e desejolhe mtos beĩs, Mto estimara poderlhe aliviar os trabalhos mas tornar a India nem pla mesma vida o fisera. e não tem sua Mage mces q a isso me pudera obrigar. pq estou tão escandalisado de Portuguezes. que estou resoluto em não viver em Portugal. nem servir a elRey naquella Coroa. melhor me vai com os estrajeros q c os naturais, e he isto tanto assi q com mais gosto passarei a vida fora daquelle Ro comendo pão de fare-llos q nelle todos os mimos q ha. creya VS q me custa mto privarme dos a que quero bem. mas sem resões e esquivancas podem mto. O Partar q VS me aponta dos abitos q levou tratarei em Madrid como la for. porq não he cousa q se possa tratar por carta. e sendo preso. e o mesmo farei no q VS apontou sobre os Imgreses. q me pareçe cousa muy posta em resão mormente agora c o cazamento do Principe de Cales a In-fanta e se os castelhanos não são de todo enimigos nossos, de crer he q nas ca-pitulações q fiserão tratarião deste particullar. A señora Conda me escreveo em 7 de Outubro depois de Receber as cartas de VS q vierão na Navetta; q ficava emtrouxada pa ir pa a Vidigra deve ser ordem de VS Mas serto q me pareçe q não era aquillo o q comvinha a VS pa a criação do sr D Vasco e tãobem pa os negoçeos de VS se nisto digo mal. VS me perdoe. Cuando me prenderão. me tomarão a fazda q tinha; emqto o Conde de Mola foi vivo me acudio mas depois q elle moreo me tenho visto em mtos e grandes apertos; a sra Conda escrevi me quizesse mandar pagar e por mais q lhe reprezentei minha neceçide ate hoje me tem acudido nem Vintem; e qto a prisão dura mais tanto mayores me ficão sendo, seja deos louvado. VS se sirva de dar ordem que eu seja pago. e lembresse da mta perda q em se me tardar este pagmto se me tem dado. e q tãobem VS ma deu em mandar vender os meus Jorĩs sem ordem minha. e não. os mandando eu pa Vender. porq os tinha pa outro intento, serto q o sinti como se fora cousa de mais importancia , o criado q mandei a Lxa me trouxe o Imventario dos meus caixões. feito diante de João pinto de figrdo nelles faltão algũas couzas. a q João pinto respondeo. q VS os mandava abrir p qtos pagẽs tinha. e assĩ faltou hũa trouxa e Bufeite de pao. preto; serto sor q mais amor e cuido tratei eu das cousas de VS ainda que não forão de Ir-mão. pla confiança q eu fasia em mandar a VS qto tinha. merecia mais cudado; A sra Conda me não escreve em poder de quem fica o meu fatto. tudo isso são asuntos de desgostos a quẽ esta sem liberde. VS me dis grandes Juramtos q de comtino me tem no penssamto meus negoceos, sem essas afirmações creyo a VS plo mto q sempre lhe quis e quero; Ormus me deu tão pouco plas mtas perdas q tive e por largar tudo o q outros capitães emrequecião, que não empreguei. em Goa mais q 20 mil Xes os gastos da viagẽ forão grandes os de napoles não forão piqenos e assi ha ja pouco do q trouxe. porq sobre o q elRey me tem tomado. estou comendo d emprestado; VS me fara mta M em me querer man-dar pagar. algũa cousa do q elRey me deve; em poder de Po nunes salgado. ficou conhecimto em forma. de quatro mil setesentos Xes ou o q for. afora isto a sra que houve contra a fazda d elRey sobre a compra de Ormus; Bem vejo as nececides q VS me representa desse estado ( de dinheiro) mas pa secorrer a Irmão nececitado. bem se pode roubar os altares. ( como disem em Portugal. ) qto mais q a VisoRey tão suppremo como VS não lhe faltão modos pa tudo qdo tem vontade. Po Nunes salgado e Paullo monteiro são os criados a q mais obrigacão tenho VS me fara M de os homrar e favoreçer, estimarei p mce mui grande dar VS a Paullo montro algũa cousa de q possa viver pque tenho sabido q ha tido hũa grande perda depois que me eu vim e como he velho e tem filhos sentirei muito q passe nececides Boas novas de VS desejo sempre. dellas me faca M não dou novas do mundo porq estou preso e sei poucas. não faltarão mtos q terão liberde pa as procurar e gosto pa as dar. Goarde Deos a Vossa Senhoria

napoles e Castello nouvo a 22 de Xbro de 623. Sor dom luis da gama etc dom luis da gama

Legenda:

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