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Maarten Janssen, 2014-

Visualização das frases

1607. Carta de Gastão de Abrunhosa para o irmão João de Abrunhosa, padre.

Autor(es)

Gastão de Abrunhosa      

Destinatário(s)

João de Abrunhosa                        

Resumo

O autor dá notícias ao seu irmão, apresentando-lhe as suas contas e pedindo-lhe que o venha visitar a Madrid, com o seu primo.

Texto: -


[1]
sentio esta aflicta humanidade gosto con a letra e regras de vm a quen dou grasas por o intento e vontade que mostra de me fazer merçe de me acudir a nesesidade tão presisa e forsosa,
[2]
quanto a conta que faz en que lhe parece ter resão digo que suposto ser verdade tudo o que dis que se eu fora a vm não quisera conta nen falara niso
[3]
poren se lhe não pareser ben meu conselho e quiser conta resão e justisa comigo asi vm como a minha mai que eu estarei sempre prestes e pagarei a risca tudo o que dever
[4]
e se me deveren quero so que confesen que mo deven
[5]
e suposta esta ventajen parece não dever temer conta pois vão sen risco de perda inda que eu por o mto que lhe quero lhe aconselho que nen con o dito aventejado partido queirão conta e por ds que digo o que entendo
[6]
e se contudo o quiser experimentar torno a reteficar o que ariba prometo e não falo mais nisto.
[7]
Não encomendo a conclusão da causa de vm por pareser entendera o mto que lhe conven.
[8]
No que toqua a meus negocios digo a vm que estou tão desconfiado da froxidão de meu primo que cuido e temo se não tiver mto adjutorio não me cobrara eses seissentos crusados
[9]
e digo mais que tamben não tenho a vm por mto agente
[10]
e asi lhe peso que se pera este particular ambos não se atreven a mudar naturesa e fazer mais do que fizerão en toda sua vida que busquen quen por meu dinheiro o fasa contanto que advirtão que os solisitadores custumão vender as demandas
[11]
e digo tudo isto porque estou serto que se não for a poder de avexasois e forsa de justisa não an de pagar eses henemigos,
[12]
e eu tão mofino que ha quatro mezes que grito a Alexandre meu primo que mos execute te os desonrrar e não ha remedio concluir
[13]
e eu não posso hir a ese reino e o fundamto de não poder hir la he por vosas merces todas teren honrra e fazenda que con falsidades lhe querião roubar
[14]
se quiser botar detras das costas o parentesco sangue amisade e obrigasão isto parese que basta a obrigar a vosas merces me valeren nesta tão grande nesesidade que lhe afirmo o que tenho nese reino he omo fundamento de meu remedio
[15]
e são as partidas seguintes
[16]
Item dusentos e corenta mil rs da letra de graviel ribeiro e diogo duarte - 240$000
[17]
Item oitenta ou sen mil rs da desima e inovasão das casas da rua nova - 096$000
[18]
Item corenta mil rs da minha tensa do anno pasado e deste - 040$000
[19]
Item noventa e sete mil rs que me deve Alexandre d abrinhosa meu primo afora o meu fato - 097$000
[20]
soma quatrosentos setenta e tres mil rs.
[21]
473$000
[22]
não falo no rendimto das casas e foro do natal pasado porque iso escrevo alexandre d abrinhosa meu primo o pague la a aires gomes de quen eu ca cobro setesentos e quatro reales que terão de despesa obra de sen reales como lhe aviso
[23]
asi que lhe restarei a dever seissentos reales pouco mais ou menos como se vera pela conta que mandarei
[24]
mas por ora digo que se lhe entreguen os seissentos reales
[25]
dou todas estas contas a vm pera que vm me ajude e valha en tudo fazendo corpo con meu primo
[26]
e não se atenha a outro antes fasão juntos
[27]
e não an de perder hũa ora que por ds que lho mereso
[28]
e se vivo espero mereserlho mto mais
[29]
e lembrolhe que nesta ocasião poden recuperar a fama perdida e isto a de ser con vegiar e trabalhar por me cobrar este dro e antes de vir a casa entregalo a mateus lopes torres que o conte e mandarme letra
[30]
não sei con que palavras os obrigue a despertar eu não sei mais.
[31]
sor hirmão sou de pareser que cobrado o dito dro (que he o fundamento de meu remedio) se venha ca con afeito de vm e venha Alexandre d abrinhosa e vejamonos se quer
[32]
ora fazen aqui os portugueses ospital en que cuido poderei acomodar a vm con bon partido
[33]
e isto digo por novidade mas ha mil outros comodos
[34]
aqui anda Anto d abrinhosa e não ten mais que sua misa e sobrepelis e paga corenta reales de casa cada mes e mtos outros asi
[35]
o mundo he grande pa quen ten animo e não he nada para quen he acanhado e fosco
[36]
e asi estes acanhados so pera sofrer con falsidades prestão.
[37]
declaro mais a vm para que se resolva.
[38]
ben deve estar inteirado que não posso hir viver a portugal
[39]
sendo asi o viver so he morte e se eu não fiser conta de minha mai e hirmans aviera de mandar vir mendosa logo
[40]
e se ellas se não resolven ei de mandar vir mendosa e seu mdo
[41]
mas vejo que minhas hirmans estão corridas e como nũa cova sen justisa nen resão e con falsidades tão manifestas
[42]
e ca vivirão ellas e vivirei eu e por ds que cuido emos de viver co mto gosto abastansa e quietasão e ca vera a verdade disto
[43]
e estando so como estou sou salteado e roubado de continuo
[44]
ds seja louvado contudo,
[45]
esta carta que aqui vai pera fernão de magalhais he de don gil ianes da costa que ora vai por presidente do desembargo do paso
[46]
de a vm en mão propria
[47]
de valho madrid a 23 de abril de 607
[48]
gastão d abrinhosa
[49]
faso saber a vm que estou con notavel aflicsão porque meti comigo a homen que veo de berberia tornarse cristão que foi la alcaide, o qual se chama Rui gomes correa e dis que he de serpa e ha quatro mezes que se esta curando de mulos e cansere
[50]
e deilhe casa e cama de grasa e paso con elle o que ds sabe
[51]
e não me quer diser de que gente he faso conta que me ten cativo
[52]
e elle he barbaro e con malisia
[53]
não no posso ver fora e não me basta andar con carranca e não ver a casa dias
[54]
ds me valha e me de pasiensia não me acontecera outra

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