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1607. Carta de Gastão de Abrunhosa para o irmão João de Abrunhosa, padre.
Autor(es)
Gastão de Abrunhosa
Destinatário(s)
João de Abrunhosa
Resumo
O autor dá notícias ao seu irmão, apresentando-lhe as suas contas e pedindo-lhe que o venha visitar a Madrid, com o seu primo.
Texto: -
[1]
sentio esta aflicta humanidade gosto con a letra e regras de vm
a quen dou grasas por o intento e vontade que mostra de me fazer
merçe de me acudir a nesesidade tão presisa e forsosa,
[2]
quanto
a conta que faz en que lhe parece ter resão digo que suposto
ser verdade tudo o que dis que se eu fora a vm não quisera conta
nen falara niso
[3]
poren se lhe não pareser ben meu conselho e
quiser conta resão e justisa comigo asi vm como a minha mai
que eu estarei sempre prestes e pagarei a risca tudo o que
dever
[4]
e se me deveren quero so que confesen que mo deven
[5]
e suposta esta ventajen parece não dever temer conta pois
vão sen risco de perda inda que eu por o mto que lhe quero
lhe aconselho que nen con o dito aventejado partido queirão
conta e por ds que digo o que entendo
[6]
e se contudo o qui
ser experimentar torno a reteficar o que ariba prometo
e não falo mais nisto.
[7]
Não encomendo a conclusão da causa de vm por pareser
entendera o mto que lhe conven.
[8]
No que toqua a meus
negocios digo a vm que estou tão desconfiado da froxidão
de meu primo que cuido e temo se não tiver mto adjutorio
não me cobrara eses seissentos crusados
[9]
e digo mais que
tamben não tenho a vm por mto agente
[10]
e asi lhe peso
que se pera este particular ambos não se atreven
a mudar naturesa e fazer mais do que fizerão
en toda sua vida que busquen quen por meu dinheiro
o fasa contanto que advirtão que os solisitadores
custumão vender as demandas
[11]
e digo tudo isto
porque estou serto que se não for a poder de avexasois e forsa de
justisa não an de pagar eses henemigos,
[12]
e eu tão mofino que
ha quatro mezes que grito a Alexandre meu primo que mos
execute te os desonrrar e não ha remedio concluir
[13]
e eu não
posso hir a ese reino e o fundamto de não poder hir la he por
vosas merces todas teren honrra e fazenda que con falsi
dades lhe querião roubar
[14]
se quiser botar detras das
costas o parentesco sangue amisade e obrigasão isto
parese que basta a obrigar a vosas merces me valeren
nesta tão grande nesesidade que lhe afirmo
o que tenho nese reino he omo fundamento de
meu remedio
[15]
e são as partidas seguintes
[16]
Item dusentos e corenta mil rs da letra de
graviel ribeiro e diogo duarte - 240$000
[17]
Item oitenta ou sen mil rs da desima e inovasão
das casas da rua nova - 096$000
[18]
Item corenta mil rs da minha tensa do anno pasado
e deste - 040$000
[19]
Item noventa e sete mil rs que me deve Alexandre
d abrinhosa meu primo afora o meu fato - 097$000
[20]
soma quatrosentos setenta e tres mil rs.
[22]
não falo no rendimto das casas e foro do natal pasado porque
iso escrevo alexandre d abrinhosa meu primo o pague la
a hũ aires gomes de quen eu ca cobro setesentos e
quatro reales que terão de despesa obra de sen reales
como lhe aviso
[23]
asi que lhe restarei a dever seissentos
reales pouco mais ou menos como se vera pela conta que
mandarei
[24]
mas por ora digo que se lhe entreguen os seissentos
reales
[25]
dou todas estas contas a vm pera que vm
me ajude e valha en tudo fazendo corpo con
meu primo
[26]
e não se atenha hũ a outro antes fa
são juntos
[27]
e não an de perder hũa ora que por ds que
lho mereso
[28]
e se vivo espero mereserlho mto mais
[29]
e
lembrolhe que nesta ocasião poden recuperar
a fama perdida e isto a de ser con vegiar e traba
lhar por me cobrar este dro e antes de vir a casa entre
galo a mateus lopes torres que o conte e mandarme
letra
[30]
não sei con que palavras os obrigue a despertar
eu não sei mais.
[31]
sor hirmão sou de pareser que cobrado o dito dro (que he
o fundamento de meu remedio) se venha ca con afeito
de vm e venha Alexandre d abrinhosa e vejamonos se quer
[32]
ora fazen aqui os portugueses hũ ospital en que cuido
poderei acomodar a vm con bon partido
[33]
e isto digo por
novidade mas ha mil outros comodos
[34]
aqui anda Anto d a
brinhosa e não ten mais que sua misa e sobrepelis e paga
corenta reales de casa cada mes e mtos outros asi
[35]
o mundo
he grande pa quen ten animo e não he nada para quen
he acanhado e fosco
[36]
e asi estes acanhados so pera sofrer
con falsidades prestão.
[37]
declaro mais
a vm para que se resolva.
[38]
ben deve estar inteirado
que não posso hir viver a portugal
[39]
sendo asi o viver so he morte
e se eu não fiser conta de minha mai e hirmans aviera de mandar vir mendosa logo
[40]
e se ellas se não resolven ei de man
dar vir mendosa e seu mdo
[41]
mas vejo que minhas hirmans estão
corridas e como nũa cova sen justisa nen resão e con falsida
des tão manifestas
[42]
e ca vivirão ellas e vivirei eu e por ds
que cuido emos de viver co mto gosto abastansa e quieta
são e ca vera a verdade disto
[43]
e estando so como estou
sou salteado e roubado de continuo
[45]
esta carta que aqui vai pera fernão de magalhais he de don
gil ianes da costa que ora vai por presidente do desembargo do paso
[47]
de valho madrid a 23 de abril de 607
[49]
faso saber a vm que estou con notavel aflicsão porque meti comigo a hũ
homen que veo de berberia tornarse cristão que foi la alcaide, o qual
se chama Rui gomes correa e dis que he de serpa e ha quatro mezes que
se esta curando de mulos e cansere
[50]
e deilhe casa e cama de grasa
e paso con elle o que ds sabe
[51]
e não me quer diser de que gente he
faso conta que me ten cativo
[52]
e elle he hũ barbaro e con malisia
[53]
não
no posso ver fora e não me basta andar con carranca e não ver a
casa dias
[54]
ds me valha e me de pasiensia não me acontecera outra
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