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Maarten Janssen, 2014-

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1692. Carta de Francisco Gomes Sardinha, vigário, para um membro da Inquisição de Lisboa.

Autor(es)

Francisco Gomes Sardinha      

Destinatário(s)

Anónimo111                        

Resumo

O padre pede novamente à Inquisição de Lisboa que lhe seja concedida uma audiência.

Texto: -


[1]
Illmos Senhores
[2]
He notorio em todo este Bdo q o B D Juzeph de barros de Alarcam qdo prendeume foi da parte de S M q Ds gde por ordem q dise tinha, e com esta vos Real me teve oprimido na prizão ha dous annos reteudo sem recurço nenhum
[3]
a Cauza pello q o fes, eu a darei e do modo q me formou os crimes qdo me vir na prezença de Vas illmas.
[4]
Apurado eu de tam porfiada tirania, e nam deferir minhas petiçoens, nem darme Livramto ou remeterme ao tribunal q tocam esses crimes. Desta injustissa e violentia fis fuga e não da prizão
[5]
em 18 de mayo fui a buscar o sagrado das Igrejas pa ir dar satisfação de mim a Vas illmas como tinha avizado, e o buscar recurço ao tribunal q tocasse.
[6]
Tanto q me vio nesta Liberdade mandou publicar huma excommunhão, q era prezo do Sto officio, pa q me não valesem os fieis,
[7]
e com esta vos atimidou a este povo, e as religioins valendose do brasso secular e tiroume do Colejo, e tem me mais oprimido com excecivo rigor carregado de ferros sem remeterme nesta frota
[8]
visto dizer agora q sou prezo do Sto officio, me deixa neste aperto, dizendo q não he meu juis, e q tem avizado, con tenção de me acabar a vida nesta prizão; parecendolhe q os meus ecos, e clamores não cheguem a noticia de Vas illmas pa me remirem, e por cobro na facilidade con q se val do nome do Sto officio pa vingança, e molestar aos fieis;
[9]
com esta vos prendeu a hum Lionardo de sáa con tanto estrondo e escandalo q o teve prezo, e oprimido com ferros o tempo, q lhe durou a payxão, sem cauza, nem culpa de prosesso,
[10]
ao depois o soltou não guardando o decoro, e veneração com o respeito q se deve ao Sto officio sendo B e comissario.
[11]
Vas Illmas são os que prezidem nesse Sto tribunal;
[12]
asim como he de justissa pa castigar a culpados tambem he de mizericordia pa absolver aos innocentes:
[13]
portanto pesso a Vas Illmas pellas sinco chagas de nosso Sor Jezu Christo me mandem remir por algum comissario, q logo me remeta com todas as culpas, e q me dem todos os papeis pa minha defeza q estão ja julgados no juizo eclesisastico, e sicular q mos negão a respeito do B, q tudo me empede e seu Vo gl e por seu gosto me quer fazer judeu,
[14]
permitira Ds q constara a Vas Illmas a limpeza de meu sangue, e da familia, q procedo, q della ouverão mtos Princepes, eCleziasticos, e grandes columnas da Igreja,
[15]
e meu irmão D Constantino Sardinha Rangel, he Bispo da xina
[16]
e como me acho com a concientia segura não me temo das culpas q formou, q se eu logo tivera noticia avizara.
[17]
Perdoem Vas Illmas a minha confiança q he nascida da minha excessiva, e dilatada prizão.
[18]
as pessoas de Vas illmas gde Ds por felecissimos annos
[19]
cadea 20 de mayo de 1692 annos Com o divido respeito, e obedientissimo a Vas Illmas o Pe Vo Franco guomes Sardinha

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