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1825. Carta de Isidoro de Encarnação Queirós, desembargador, para José Maria de Lemos Carvalho Sousa Beltrão, juiz.

ResumoO autor participa a um juiz do crime que errou, em informação anteriormente dada, acerca do nome de um seu agressor.
Autor(es) Isidoro da Encarnação Queirós
Destinatário(s) José Maria de Lemos Carvalho Sousa Beltrão            
De Portugal, Lisboa
Para
Contexto

O desembargador Isidoro da Encarnação Queirós, morador na Rua dos Cegos, n.º 7, foi roubado na quantia de 150 moedas. Um criado do desembargador, Tomás José, natural das Astúrias, de estatura ordinária, magro, bastante picado de bexigas, cego do olho direito, de jaqueta de pano azul claro, calças de ganga, chapéu redondo, coberto de oleado, foi quem, pelas 10 horas da noite de 6 de abril de 1825, permitiu a entrada dos companheiros na casa do desembargador. No decurso do roubo, o desembargador foi ferido, bem como uma das criadas. Posteriormente, o criado fugiu com os outros companheiros. Consta do processo que estando Isidoro da Encarnação Queirós a cear, juntamente com a sua afilhada Maria de Jesus, menor de 15 anos, e Teresa Joaquina, viúva e sua criada, foram todos surpreendidos por três homens (possivelmente espanhóis ou galegos): um descalço, dois com um punhal, e um com uma faca de ponta. Um deles atirou-se ao desembargador, tapando-lhe a boca, outro atou as mãos da afilhada, e o terceiro segurou a criada. De imediato, o homem que tapou a boca a Isidoro da Encarnação Queirós ameaçou-o, ordenando-lhe que lhe desse todo o dinheiro, caso contrário, matá-lo-ia com o punhal. Dirigiram-se para o quarto e o desembargador entregou as 150 moedas que guardava num caixote da Índia. O ladrão escondeu as moedas numa camisa de linho de dormir e roubou ainda um relógio de caixa de prata que viu na cabeceira da cama. Os assaltantes repartiram o dinheiro e rasgaram em tiras a camisa de linho para as usarem como mordaças para amarrar as vítimas. Apagaram as luzes, deixando-os às escuras, e desceram pela escada levando uma candeia. Nesse instante, a criada conseguiu soltar as amarras e correu à janela a gritar muito. Os soldados acudiram, mas já era tarde pois os ladrões já se tinham retirado e, com eles, o criado do queixoso, que também roubou um par de botas. Isidoro da Encarnação Queirós disse saber que o seu criado se costumava encontrar com João Bicho, de alcunha «o Bolacheiro», e Miguel António de Lagos ao pé da Igreja de Santo André, e, como esses dois tinham regressado às suas terras com grandes quantias de dinheiro, pensou serem eles dois dos ladrões que o tinham assaltado. A criada, por seu lado, reconheceu um dos assaltantes, João Lopes, preso na Cadeia da Cidade. Uma das testemunhas, Luís Manuel de Sousa, revelou que Miguel António de Lagos perdera dinheiro ao jogo em benefício do padeiro António Barral, sendo que tanto este como a sua mulher sabiam a proveniência do dinheiro e nada fizeram. Cerca de dois meses depois do roubo, João Bicho e Miguel Lagos foram presos.

Suporte um quarto de folha de papel escrito nas duas faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Fundo Feitos Findos, Processos-Crime
Cota arquivística Letra M, Maço 57, Número 6, Caixa 118, Caderno [6], Ap. 5
Fólios [3]r-v
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Cristina Albino
Contextualização Leonor Tavares
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2007

Texto: -


[1]
Illmo Snr
[2]
Quando pedi a VSa houvesse por bem mandar conduzir á sua prezença o Padeiro João Barral com Loge na Traveça dos Torneiros, N 24, junto a hum Droguista na esquina da Rua da Prata para depôr no Summario sobre o facto d'elle Padeiro ganhar ao Jogo 30 moedas a Miguel Anto de Lagos, q fora seu Creado, e que foi aquelle Ladrão; que me atacou Com hum punhal, e me roubou 150 moedas em prata e hum Relogio de prata Sabonete; dei aquelle nome errado por Imformação; sabendo depois por boca de Angelo de Lagos Irmão do Ladrão, e creado do Dr Mel Ferra Gordo, que o Padeiro se chama Antonio que na Loge da esquina fronteira a sua que se jogava e ganhou o dro; e que a mer do mmo Padeiro se juntara no dia seguinte na Praça da Figueira, q seu marido havia ganho 30 moedas em a noute antecede ao do Ladrão e o Irmão se queixa, de que o mmo Padeiro fora a perdição do Ladrão Miguel; o que partecipo a VSa em declaração do Nome, em ordem a ser tanto o Padeiro, como a mer proguntados sobre o recontado, e serem cas castigados, no pro da Ley; pois que bem sabião não ter o Ladrão seme quantia de dinro, e de q me furtou
[3]
e parecendo a VSa, que o depoimento do Imformante Angelo de Lagos, se fáz precizo a seme respeito; o prestará no dia aprazádo, ou mmo em aCareação Com o Padeiro para melhor prova de Summario.
[4]
Sou
[5]
De VSa o mais Attento Vor, e obrigado Izidoro da Encam Qros
[6]
S C em 27 de Junho de 1825.

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