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1805. Carta de Manuel Pereira Graça, médico, para Bernardo de Vasconcelos.

Autor(es)

Manuel Pereira da Graça      

Destinatario(s)

Bernardo de Vasconcelos                        

Resumen

O autor explica perante o destinatário as razões pelas quais teme um processo inquisitorial e pede a sua ajuda.

Texto: -


[1]
Bernardo de Vasconcellos
[2]
Como me acho prezo com homenagem para não poder sahir da comarca d' Aveiro, vou por este meio pór nas mãos de vsa, a fim de que vsa se digne representa-lo ao Tribunal do Santo officio o seguinte acontecimento
[3]
Foi-me necessário ir pessoalment requerer aoaudiençia de Serem na comarca d' Aveiro no dia 16 do corrente mez, e como o juiz me não qui-zesse tomar os meus testos, nem acceitar o aggravo, que por isso delle dara, ouverão rezões de ua e outra parte de sorte que elle me autuou, e deixou prezo na mesma cadeia, aonde estavamos;
[4]
requeri-lhe a ma homenagem, a qual elle não so me senegou, mas passou a fazer as maeores vexações de sorte que me foi necessario recorrer ao corregedor, o qual lo-go me concedeu homenagem em toda a comarca.
[5]
No pouco tempo que esteve prezo na da cadea mostrei sempre alegria e tanto que cogigitava de enterter e divertir com ditos as muitas pessoas que me- vizitavao pedindo esmola a quem passava, fazendo que pendurava o cesto pa as esmolas, ja dizendo avia fazer e vender do halcaser
[6]
mas entre estas e outras couzas tive a indescrição de tirar da de cavalleiro da ordem de N Sr Jezus Christo e pola da pte de dentro da janella
[7]
e lembra-me que disse que visto estar o dono prezo e ella não lhe grangeia homenagem a ttirasse como elle ,
[8]
e queria pendurar tãobem ali o capelo e a esmola,
[9]
porem tudo isto era dito e feito com tanto rizo e sem animo nem intenção de injuria, desprezo ou offença
[10]
que as relegiozas do convento da mesma villa, alguns eccleziasticos e seculares, que estavao de vizita, se se escandalizam
[11]
porem como tenho mtos inemegos que consertados com o tal juiz tem pertendido por todas formas vingar-se de mim, e o protestão fazer, podem desfigurar o facto, e culpar-me peraante o santo Tribunal da Inquizicao, recorro ao mesmo sto Tribunal supplicando humildemente perdão da indiscricao e inadevertencia, que tive, que confesso não ouve amimo de insultar a sagrada integreza, nem adevertencia que ouvesse escandalo.
[12]
que o sto tribunal por sua piedade me - faça saber se tenho maes algua couza a dizer sobre este objecto para eu promptamente obedecer
[13]
A vsa em particular supplico me, e que desculpe o não ir pessoalmente pela rezão da homenagem, que limita so aquela comarca.
[14]
e por caridade rogo a vsa se estando dezembaracado necessito ir a prezenca de vsa ou da meza
[15]
Sou De vsa attento cro e humilde C Manoel Pereira da Graça Macenhata de Vouga 22 de Agosto de 1805

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