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Maarten Janssen, 2014-

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1674. Carta de Luzia Carvalha Feio, criada, para a sua irmã, Isabel Carvalha.

Autor(es)

Luzia Carvalha Feio      

Destinatario(s)

Isabel Carvalha                        

Resumen

A autora dá à irmã a notícia de que está viva e de que estivera muito doente, a ponto de receber a extrema-unção. Pede também o envio de tecidos através do portador da carta.

Texto: -


[1]
Minha Irmã e minha snra
[2]
Loanda 22 de feverei de 1674 Annos
[3]
Bem sei q por novidade tera Vm que no diverço de sete annos.
[4]
são estas as pras novas q Vm tem desta triste pelengrina q coanto talves teria pa sy, que eu seria morta tem novas de ouvida hũa vida de milagre que a Virgem de nazaret e a seu sagrado filho devo a vida porq me deu hũa doenca adonde todos Julgavão q eu não ouvera de Viver
[5]
derão me a sancta osam a hũa sesta fra a tarde e com c capucho de santo Anto pa me alembrar o neome de Jesus com froxo de sange pela boqua em tanta cantidade que todas as criaturas que me estavão asistindo adonde fui aconpanhada de muitas amegas e esas todas filhas de purtugal e todos os fizicos q avião na terra
[6]
fui Vizitada de todos adonde me não faltava mais que ter parente diente de mim que era a maior desconsolação q me aconpanhava
[7]
Vai num anno que me deo esta doenca e ainda me dura
[8]
peso a Ds q se me der Vyda que seja pa o servir e Vm em suas orasonis me emcomende a Ds lembrelhe que me criou e que não conhesy outra mai mais q a Vm
[9]
de coantas desobidiencias e palavras em q a agravei mil Vezes lhe peço perdão
[10]
e me deite a sua menção como q se foro ja morta hũa porque não tenho confianca da Vida e ainda q a tivera o hir outra ves a purtugal a pasar o mar tam furiozo
[11]
fiquo com hũa fonte em hũa perna q me mandarão os fizicos abrir,
[12]
Agora lhe quero dar parte a Vm de como parea a Vida nos pros tenpos q chegei a angola q me espolsei da caza de dona loiza
[13]
alugei hũas cazas por preso de Vinte mil rs cada anno e eu não tynha de meu Vintem adonde metida nestas cazas como preza sem ter conhesimto de nimgem nem ningem o tinha de mim adonde padesi sete mezes mtas fomes e mta sede e estreles nesesidades
[14]
no cabo dos sete mezes que parese foi couza de emcanto adonde Ds me conpesou logo a favoreser
[15]
não lhe digo a vm que estou Riqua mas pode viver descansada que tenho q comer e tenho minhas cazas em q vivo tenho a minha linpeza toda nesesaria tenho tres negras e tres q me morrerão
[16]
pode vm dar mtas grasas a Ds q vivendo eu con bom credito tenho por honde poder pasar a Vida
[17]
o portador desta lhe podera a Vm Dar larga, Conta da minha Vida e por ser pesoa tam serta me deletarei a escrever
[18]
e lhe pedi muito q a buscase a Vm e lhe peso lhe fale foi surgião mor neste Reino e tanbem curava de fizico e me asistio nas minhas doencas e me ajudou a pasar a Vida de holho grandes obrigasonis
[19]
e vm de sua parte lhe Renda as gracas e por elle me pode Vm escrever porq a de Voltar a este Reino logo e mandeme Vm dar conta de sua Via que primitira Ds q seja como eu dezejo,
[20]
qua tive po notisia q meu Irmão Mel carvalho feio q era morto e que tanbem era morto meu Irmão o alferes Joze Carvalho
[21]
e se asim he Ds lhe tenha as suas almas em gloria q em ben pouqua obrigasão lhe estou
[22]
nem por iço Ds me faltou numa terra tam agreste como he amgolla que não ai nella mais q peste tudo o mais he hũa esterlidade
[23]
Vai hũa botiga de azeite dous mil rs covado de baeta 2 U 500 rs hũa Vara de pano de lo que chamos nos pano camizeiro 600 rs isto coando ai muito
[24]
Julge Vm por isto o q podera ser as mais Couzas q quem nesta terra se sostenta limpamte tem q dar a Ds mtas grasas
[25]
mande me Vm coando me escrever largas novas de minha sobrinha monica maria e de meu sobrinho dioginho se esta ja molher e o menino se he ja homem e lhe mando a minha benca e peso a Ds os cubra de boas fadas q não sejão como a perigrina de sua tia que vim viver em gine entre gentio que não conhesem q couza he Ds inmigos dos filhos e das filhas de portugal q he clime dos filhos desta terra serem nos todos treidores
[26]
e quem emtre elles se sabe conservar ainda asim não pode viver con elles
[27]
eu ja não sou o lião que era
[28]
ja a minha natureza se mudou
[29]
vivo com todas e todos agrado e com todos me viu tenporizando a snra anna mendes
[30]
se for viva q premita Ds q o seja pa emparo de seus afilhados lhe mando mil lenbrancas e q esta ceja per sua e que Veja se nestas partes ha Couza em que a posa servir que a minha pobreza esta muito Remdida a seus pes que me alembra muito bem o grande emparo q tive nella cobrindome senpre debaicho do seu honrrado capello
[31]
pagelho Ds em lhe dar Vida e bom mandado Da snra Dona Vilante
[32]
não na quero emfadar mais a Vm porq se contara tudo não ouvera papel que coubera o manifestar saudades e sentimento q tenho de me ver tantas mil legoas auzente de quem me criou
[33]
a snra ana mendes lhe peso me deite a sua bensão e Vm me não falte com a sua eu minha a meus sobrinhos
[34]
aDs minha Irmã
[35]
aDs minha mai q em vida de Ds despido de Vm quem podera aconpanhar este papel pa hir ver quem me Criou e quem me deu tão boa doutrina q a não tomar foi maldade minha não falta da bondade de Vm
[36]
aDs minha Irmã que as lagrimas me não dão lugar a dizer mas a quem Ds gde muitos annos pa o meu emparo e de meus sobrinhos
[37]
Irmã de Vm Lozia Carvalho feio
[38]
Coando vou a igreja me visto como Veuva com capelo ate o biquo do pe e vestida de sarga negra
[39]
foi este senpre o trajo q despois que estou em angola truse
[40]
no mais que tenho variado foi vestirme de chamalote negro pondo com elle capelo
[41]
do mais que nesesito he de manto de burato de seda
[42]
leva por hordem o portador desta a conprarmo
[43]
pesolhe a vm mo mande fazer e o mande cortar pello seu manto que o portador a de dar todo o aviamento de vm lho emtregara feito
[44]
pesolhe que coando elle o for conprar que queira vm hir com elle pa escolher q for muito Ralinho e muito fino
[45]
mando tanbem buscar chamalote ou tafeta dobre cor d ouro pa vestido
[46]
pesolhe a vm asista com elle na conpra pa q a cor seja boa porq pa as vezitas vistome de cor
[47]
e vinte varas de de Renda negra e seu Retros
[48]
o manto que truso de purtugal de Carrião ainda esta novo porcoanto me visto de veuva ficame tanto pequeno por ico mando conprar este outro
[49]
as amigas do esperito santo lhe mando mtos Recados q lhe não escrevo por me não alembrar o nome dellas porque fiquei esquesida em mtas couzas desta doenca
[50]
qua tive por notisia que ellas prenderão o matador q matou o seu marido e que ao pe da forqua lhe dera o Regedor perdão
[51]
não sei se he verdade se mentira
[52]
esto me contou hũa degredada que veio dese Reino do limoeiro
[53]
aquela snra que tinha aquele menino que meteu frade e foi pa o maranhão lhe mando mtos Recados
[54]
a snra q tem seu filho q hera ourives do ouro lhe mando mtos Recados
[55]
a nenhũa sey o nome q estou tal que me não alembra mais q e q tenho deante dos holhos e iso dahi a pouquo tenpo ja me não alenbra
[56]
peso a vm me mande hũa medida do sõo do Carmo pa me chingir em mim
[57]
anta Veloza me diserão q era veuva que pa me alenbrar o seu nome estive estudando

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