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Maarten Janssen, 2014-

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1620. Carta de António de Castro Pinto, cirurgião, para [Jorge Fernandes, padre].

ResumoO autor defende-se de acusações injustas, exige a devolução de uma égua que lhe foi tirada e admoesta o destinatário.
Autor(es) António de Castro Pinto
Destinatário(s) Jorge Fernandes            
De Portugal, Bragança, Izeda
Para Portugal, Bragança, Argozelo
Contexto

Certos indivíduos foram denunciados à Inquisição de Coimbra por terem posto em sobressalto os cristãos-novos de Argozelo, que abordavam alegando serem familiares do Santo Ofício. Os infratores identificados foram o cirurgião António de Castro Pinto, o (meio) cristão-novo e almocreve Pero Gomes, o juiz ordinário de Argozelo, Baltasar Mourão, e Tomé Pires, lavrador. Sob semelhante disfarce, o esquema consistia em arrombar portas e em forçar os cristãos-novos a entregarem os seus bens sob ameaça de prisão.

O juiz de Argozelo defendeu-se alegando ter sido ele próprio ludibriado por António de Castro Pinto, que o convencera de que trazia ordens genuínas da Inquisição de Coimbra. No processo de António de Castro Pinto foram arquivadas cinco cartas redigidas pelo cirurgião e remetidas ao comissário do Santo Ofício, Francisco Luís, ao juiz dos órfãos da vila de Outeiro, João Machado, e ao cura de Argozelo, Jorge Fernandes. Algumas foram anexadas aos autos a 23 de março de 1620 por ordem do bispo de Miranda, ao passo que outras terão sido entregues pelos destinatários.

Suporte meia folha de papel, escrita em ambas as faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra
Cota arquivística Processo 3084
Fólios 21r e v
Revisão principal Raïssa Gillier
Modernização Raïssa Gillier
Data da transcrição2015

Texto: -


[1]
Não entendi, q homen do abito de Vm quissese enrgrar hũa falta como esta antes he boa proximidade deseja por tudo paz e olhar q não a nhũ q não erre e não caia en fraquezas
[2]
vendo vm meu pessar e arependimto devia levar isso per milhor modo do q ho leva q me dizen vm negoçea tudo e e nese casso a manilha
[3]
mas dizẽme q e mto seu devoto seja enbora q eu não tenho de meu mais q perder na tera q essa egoa e q a perda pouco se perde mas sinto o q se me faz activo e per passivo
[4]
estou pe, castela outro en pertugall
[5]
não a boa obra q se não page
[6]
e coãdo na terra se não poden paguar pagase na outra vida
[7]
não era meu inteto fazer mall a ningen deses sors mas po gomez deste izeda negoçiou tudo o fo da va onde estavamos poussados
[8]
ele foi chamou o juiz q eu não sabia as cassas algu-selo nen os nomes dos mors
[9]
e mãoçebo d alen coãodo forão o pus ele e dentro
[10]
ben sabe q eu não o conhecia e q po gomes era o agresor de tudo o fo da va e o juiz
[11]
e não se descullpen porq eu estou como lhe digo
[12]
não me enojẽ nen tomẽ soberbo q coãodo cuidamos estamos milhor então damos qedas,
[13]
não lhe pareça q a min sso agravão
[14]
e coãodo se fora so o sei agardeçer
[15]
não queria q essa egoa fose azo de ma ventura mais do q ten sido q me não a de esqueçer isso toda minha vida
[16]
e ja sei algu sseco q nunqua o soubera e tivera quebra das mas pernas, pois, Vm me levou a minha egoa donde estava
[17]
seja servido entregarma q ja agora não o faço pela valia dela
[18]
e me mãode reposta de tudo pra me eu lhe perder as suidades
[19]
e vm não sei se me vio algũ dia - porq se me vira conheçerame por seu criado inda q pasasse esa parvoise depois de çea
[20]
e veio la o fo da va q foi chamar o juiz
[21]
e o juiz sabia da picardia q não ia não sia enganado
[22]
nen eu abri portas algũas como dirão se quiseren falar verdade
[23]
q o juiz as abrio todas como e verdade porq eu não fazia mais q rir
[24]
como, e verdade não me seja vm parte nen eses sors o queirão ser
[25]
a minha egoa me mãoden
[26]
de mais velen coãoto quiseren
[27]
e se la diseren q eu me nomeiava por fameliar não e verdade
[28]
nen avera pa q tall diga verdade coãdo velen de min e me cullpen
[29]
minha fazenda não se toma a força
[30]
e taé gora agoardo sua cortesia q não faltara qen ande coãdo seja neçessario
[31]
esse capote ben se ssabe não e meu q o le-vei pra o frio.
[32]
ben ssabẽ vs ms q se não fojira não erão partes pa me tomar a egoa mas ouve vergonha de ir tão ma cõpanha
[33]
Vm se como milhor lhe pareçer q coãdo a egoa fora obrigatoria estar la vm ma ouvera de
[34]
q o mesmo lhe ou-vera de fazer q nunca me negei pra os homẽs onrados
[35]
deste criado de Vm oje 29 de março de 1620
[36]
Anto de crasto pinto

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