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CARDS6097

1821. Cópia de carta de Manuel José Lourenço da Fonseca para o tio José Fernandes, lavrador.

ResumoO autor manifesta o seu apoio ao tio relativamente à condenação dos padres que assassinaram o seu primo.
Autor(es) Manuel José Lourenço da Fonseca
Destinatário(s) José Fernandes            
De Portugal, Lisboa
Para Portugal, Guarda, Seixo do Ervedal
Contexto

José Fernandes e a sua mulher, Angélica da Costa, instituíram um processo contra Bernardo António Pereira da Silva Bravo e António Bernardo Pereira da Silva Bravo, irmãos, padres na vila do Seixo do Ervedal, acusando-os da morte do filho, Bernardo Fernandes. Do dia 26 para 27 de Setembro de 1820, por volta da meia-noite, ia Bernardo Fernandes pela rua a caminho de casa, no sítio da Fonte Nova, quando chegaram, de caso pensado, os ditos padres e lhe deram várias pancadas até à morte. O irmão do falecido, Bento Fernandes, que testemunhou o acontecido, queixou-se ao juiz e pediu um cirurgião (José António de Figueiredo) para fazer uma autópsia. José Pires de Moura, também cirurgião, ajudou a fazer o exame e ambos declararam que o morto tinha levado uma pancada sobre o escroto e testículos, o que terá sido a causa da morte. Tal golpe foi desferido com um instrumento contundente, como a biqueira da bota ou do sapato. Tinha ainda uma grande nódoa negra e contusão na nádega esquerda, outra no quadril, na face e na perna, onde lhe desferiram dois golpes com pau, pedra ou punho fechado. Consta ainda do processo que, no momento da autópsia, o morto deitou muito sangue pela boca. Dizem as testemunhas que os réus, depois que o mataram, arrastaram o corpo para junto da porta de um quintal, mas não tiveram tempo de o enterrar porque o irmão do morto e um rapaz amigo gritaram por socorro, assim que deram com a façanha. Os réus fugiram da terra e levaram os seus pertences, mas ainda foram vistos por pessoas que saíram de casa, tal era a confusão. Razão do assassinato: ou a vítima era parecida com um criado dos padres, que andara envolvido com uma irmã deles, ou estava de casamento marcado com uma moça que os padres queriam desonrar. Para se defenderem, os padres acusavam o rapaz de ser um vadio, libertino, arrogante, espancador e que se envolvera já com um tal Bernardo Ferreiro, pelo que acusam este de autor do crime. Acrescentam que todas as testemunhas são seus inimigos por serem ricos e, por isso, acusam-nos. Apesar de ser sabido de todos que o padre Bernardo António fumava enquanto celebrava missas, prova da sua má conduta, dizem aqueles que o defendiam que mantinha uma boa relação com a família da vítima e que esta, inclusive, já lhe prestara serviços, não havendo motivo para tamanho crime. Foram condenados a uma pena pecuniária de um conto e duzentos mil réis, que deviam pagar aos pais da vítima, duzentos mil réis para despesas da Relação, duzentos mil para esmolas de missas pela alma do defunto e dez anos de degredo para Angola.

Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Fundo Feitos Findos, Processos-Crime
Cota arquivística Letra J, Maço 26, Número 12, Caixa 81, Caderno [1]
Fólios 260r-261r
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Sandra Antunes
Data da transcrição2007

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Meu estimado Thio Lisboa outo de Agosto de mil outocentos, e vinte, e hum De minha caza me participão este correio que Vocemece anda muito aflicto, com as amiaças, que lhe fazem os Padres, de que hão de ser senhores do que seu; porque Vocemece alem de perder o filho, que elles lhe matarão, ha de ficar sem o que tem; porque ha de ser condemnado. Meu Thio não se afelija, o tempo da Arbetrariadade ja não existe que importa, que elles provassem, o que quizerão, se as ttestemunhas da terra (são as que devem decedir porque se tracta de hum facto acontecido ali) Ousção as femias delles, ou criados casados com as mesmas femias delles, e as de fora não o sabem de facto, que são taes quaes o Mundo conhece. Não se asuste, produza Vocemece testemunhas de carater, contraditando as ttestemunhas delles, com ttestemunhas das mesmas terras, e deixe dizellas, que os Ministros, e Escrivans da Meza de Coimbra os trazem fichados na algibeira. Devo afirmar-lhe, se lhe não fizerem justiça o Soberano Congresso, está como todo Mundo sabe, com o braço alçado, sobre a preponderancia, e injustiça. Ficão em meu poder os Despachos, que o Vigario Geral de Coimbra lhe tem dado, os quaes me forão transmitidos pella minha familia, asim como são as coppias, se fossem os Orginais, elles avião de ser prezentados ao Soberano Congresso. na verdade athe onde pode chegar a maldade de hum Ministro, dizendo ser paixão em Vocemece, como Como Pai de seu filho morto, querer cquebrar o seguro, com fundamento, aos matadores de seu filho, mos-tra demaziada paixão, hora quem sera mais apai-xonado, Vocemece, qui Paii, ou o Ministro, que o chama apaixonado!!! Custa acreditar, que em tal tempo se profirão despachos desta natureza; portanto visto semilhantes despachos deve dar por sus-peito semilhante Ministro digo semilhante Juiz pella demaziada paixão, que mostra; pode muito bem ser sejão patrocinados por Antonio Godinho, que lhe servio de Testemunha para a defeza dos mesmos Reos, amigo, e parente do secretario do Bispo; porque por dinheiro, ou por grande empenho que o Vigario Geral podia proferir semilhantes Despachos, sejão qual for os Ministros desse Juizo elles hão de bandiar-se huns com os outros a favor dos Reos, deve aconsilhar-se, e vêr se pode declinar para outro Juizo, que não seja do Foro delles matadores, e se fôr necessario, que Eu aqui requira ao Soberano Congresso, ou ao Poder Executivo que o Rei, estou pronpto, porque se lhe a de administrar a Verdadeira justiça, não tema os Amiaços nem os Boletins, que elles espahão, tudo para o intimidarem, e quando taes amiaços o asustem faça saber, e avizar de tudo isto a seu Sobrinho, e meu Mano Antonio Joze Lourenço da Villa de Cêa fazendo lhe Procuração, porque elle se prestará emquanto eu não Vou; porque injustiças não se devem sofrer, e deixe o o cazo por minha conta; cujos Sentimentos, e recomendação são tanto, meu Mano Antonio Joze Lourenço, como meus Manos Doutor Ignacio, Douttor Joze Lourenço, que ao fazer desta se lhe recomendão, e confirmão o dezejo Dezejo de verem ponidos semilhantes malevolos de depravados custumes. ADeos, foi prezo o Padre João Bernardo por ter a destreza de roubar hum rebatedor em huma somma grande, o qual foi prezo no mesmo dia no fim de dizer Missa no Convento do Carmo, veja que tal a raça, huns matão por officio, e outros roubão, digolhe, que são a deshonra da minha Patria, e contraste do Bispado de Coimbra; mas que ha de ser ahonde a Justiça daquelle Foro Despacha como se promovendo os Asasinatos para que soltos continuem a matar de que lhe não considere o Unico Filho que lhe resta seguro, de que tenha toda a cautella Esta carta lhe mando entregar por via da minha famillia por ignorar se vocemece manda ao Correio; pois sobre este asumpto lhe escrevi pello Correio de Cêa, e não tive resposta pode ser fosse á mão dos Matadores, porque ja tem por Custume tirar as cartas do Correio, e abrillas.

Sou seu amigo, e sobrinho Manoel Joze Lourenço da Fonceca

Legenda:

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