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1722. Carta de Tomé da Mota Barreto, padre, para a Inquisição de Coimbra.
Author(s)
Tomé da Mota Barreto
Addressee(s)
Inquisição de Coimbra
Summary
O autor descreve o seu último ano de prisão e as pobres condições em que aí tem vivido injustamente, pois diz ser inocente dos crimes de que é acusado. Diz que se não obtiver ajuda, não se importará de tirar a vida pelas próprias mãos.
Mas he digno de se notar
q sabendo o Sr Prelado evidentemte, a mi
nha innocençia, e
toda a mera verde; não desista da sua teyma, e paixão, para dar
a entender,
q obrou bem em me mandar prender; o q todos conhecem o contrario.
Dou a Vs Ilmas; esta Conta; não para me justificar:
porq me confesso, por
indigno Mynistro de JESUS christo: mas sim sô para mayor
clareza da ver
dade; q a Vs Ilmas Representey: E como este Prelado estâ duro, e não quiz obedeçer
a
pra Carta Rogatória; estou esperando segunda, para se dar Conta a El Rey, e se to
mar
neste negco assento; a qm em mão propria se hão de entregar os
melhores do
cumentos, manifestaivos de todas estas tractadas, e de toda a pura verde
Como
bem de me mandar prender de poder, e da parte
do mesmo Rey enganadamte; pellos
Criados do Conde de Santiago, Com desprezo
do habito Saçerdotal.
A vista do q, Como me acho pobre e sem a esmola da minha
missa unico
Remedio da minha vida, e alma; não tendo outro; senão Recorrer â Caride
de
Vs Ilmas para q me favoreção; pois me vejo
tam dezemparado, q tenho vendido ate
os proprios Livros, e factos, e hey
de vender a camisa pa aclarar a minha verde
porq
sou hum clerigo honrado, e de vergonha; q nunca imaginey, chegasse a
semelhan
te estado: e assim se me não fizerem justiça,
estou em termos de dezesperar, e ma
tarme
por minhas proprias mãos; porq me he melhor morrer mil vezes, do q
viver
sem honra; e se Deos me não dezempárara com a sua graça e seus
não sey q fezerã; mas hey de ter
paciençia emqto elle for servido, e hey de fazer
da
necessidade virtude, sem ser descredito da
minha pessoa pedir publicamte porq
o mesmo Sor nos insinou
isto mesmo: A elle pedirey Continuamte pella vida
e saude de Vs Ilmas; e augmento, e conservação de tão pio, tam Recto, e tão Sto
Tribunal
da nossa sta fe Catholica; e q
gde por infinitos seculos. Aljube de
Braga
25 de Julho de 1722
Aos pês de Vs Ilmas, e Reverdissimas
Humilde subdito, e mais
obediente Servo
Thome da Motta Barretto