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Maarten Janssen, 2014-

CARDS5227

1823. Carta de Dona Isabel Maria de Leirós para Fernando António de Almeida, fazendeiro.

ResumoA autora suplica a uma vítima do marido que lhe assine uma certidão legal de perdão. Evoca as ligações ilustres que a família do marido tem e faz ver que tem filhas e um filho melhor, além de estar grávida.
Autor(es) Isabel Maria de Leirós
Destinatário(s) Fernando António de Almeida            
De Portugal, Lisboa, Calçada de Santa Ana, número 154, terceiro andar da direita
Para Portugal, Lisboa
Contexto

Luís Caetano Leirós de Andrade e Castro, que vivia das suas rendas, foi acusado de roubar a Filipa Inácia um Título de Dívida Pública. Filipa Inácia mandou-o rebater a dívida e ele rebateu-a para si mesmo, através de um rebatedor, João Francisco Borges, com uma casa de câmbio na Ribeira Velha. Do Limoeiro, onde aguardava julgamento, o acusado escreveu inúmeras cartas de extorsão usando nomes falsos ‒ fez-se passar por deputado e escreveu sob vários pseudónimos, nomeadamente o de «António Chuço». Esta forma de extorsão representa uma prática que se tornou característica da cadeia do Limoeiro no primeiro quartel de Oitocentos e cuja amplitude em muito beneficiou da instabilidade política e social associada aos primeiros anos do Liberalismo e da ambiência generalizada de vulnerabilidade e suspeição. Luís Caetano Leirós recorria a pessoas no exterior, que contactava da enxovia daquela prisão, para serem portadores da correspondência. Vendo-se em vias de ser condenado, nas suas cartas anónimas a personalidades com peso político dizia-se partidário dos que estavam no governo e acusava os juízes e escrivães que participavam no seu julgamento de atentarem contra o poder ‒ estando inclusivamente a preparar uma revolta ‒ e de serem corruptos, pedindo a sua prisão ou afastamento dos cargos que exerciam. Foi degredado por cinco anos para Angola, sendo contudo libertado antes disso, em 1827 ou 1828, em virtude de um indulto real. Por essa altura foi de novo preso por um crime do mesmo tipo: escrevera cartas de ameaça a pessoas abastadas com o pretenso intuito de libertar um companheiro preso no Limoeiro e prometendo a devolução do dinheiro poucos dias depois do envio. Uma das formas de pressão utilizadas era a de prometer em troca o silêncio do remetente, que estaria na posse de provas incriminatórias que levariam o destinatário à prisão por traição ao rei, então D. Miguel I. Para chegar ao autor destas cartas, as autoridades recorreram à estratégia de enviar a um dos destinatários uma encomenda que teria de ser levantada nos correios, procedendo assim à detenção de quem ali comparecesse com esse fim. Foi desta forma que, após diversas peripécias, se conseguiu deter pela segunda vez Luís Caetano Leirós. Entretanto, um seu tio, Teotónio de Andrade e Castro, chegou a Lisboa vindo de propósito de Tavira, onde era Guarda Mor da Saúde, e auxiliou as autoridades a deslindarem o caso. Foi Teotónio de Andrade quem informou o juiz da existência de processos anteriores, relativos a várias falsificações de documentação, entre elas a do próprio decreto de amnistia por que o réu conseguira libertar-se do degredo em Angola. Para além disso, o tio mostrou-se conhecedor dos processos anteriores com um grande pormenor, conseguindo relacionar factos entre si e provando que pelo menos uma carta, escrita sob o nome de José Maria de Lemos, fora escrita pelo seu sobrinho. Contudo, as restantes cartas de extorsão, embora apresentem algumas fórmulas que Luís Caetano de Leirós usara anteriormente em missivas que assinava como «Capitão Chuço», não aparentavam ser da sua autoria, ou pelo menos da sua mão: a caligrafia e a tipologia de desvios era completamente diferente. Leirós disse-se acusado injustamente pelo seu tio e o réu acabou absolvido por falta de provas, sendo condenado apenas a custear o processo.

Suporte meia folha depapel dobrada, escrita em todas as faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Fundo Feitos Findos, Processos-Crime
Cota arquivística Letra L, Maço 5, Número 8, Caixa 12, Caderno 18
Fólios 3r-v; 4r-v
Socio-Historical Keywords Rita Marquilhas
Transcrição José Pedro Ferreira
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização José Pedro Ferreira
Modernização Rita Marquilhas
Data da transcrição2007

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Exmo Snr D Fernando de Almeida

Dezejo q V Exa e toda a sua Illustre fama goze de huma prospera Saude, e q me de emenças oCaziens em q mostre a V Exa qto lhe sou Obregada

As vertudes, e bondades de V Exa e da Sua Exma Snra são Constes e eu observei qdo me deitei aos Illustres pes de V Exa pa que V Exa perdoaçe o meu Infes Marido, o Exmo Snr D Pedro Alborque Monteiro Mor pode dezer qm he a nossa fama eu me vejo serçada de trabalhos Com duas meninas e hum fo menor, e pegada Como fis ver a V Exa eu neste mundo não tenho outro Pay nem outra May, senão a V Exas Vós Exmos Snres pellas chagas de Christo, pello santissimo sacramto e por nossa snra da Comcam aCuda a huma Infes mer Infes e rapariga q se ve sercada de prigos, e trabalhos os Céos permetão defender a V Exas de todos os prigos e de trabalhos e de boas Sortes aos seus Illustres fos q haja V Exa de me acudir qm milhor o pode fazer de q huns Paiz tão vertuozos e lhe pesso pelo felis Dia 5 de Junho en q o mais bello dos Monarchas requebrou os Seus poderes, e q V Exas se verão Livres dos malvados q lhes querião demenuir as suas rendas o Intendente he benemereto e bom homem, e vertuozo; remeteo o porcesso pa o Juiz do Bairro do Lemoeiro, Franco de Paullo Otellim morador a Santos pegado Com a Igreja; Cavalleiro do Abito de Chresto asim recorro a V Exas a Esmola por Deos Snr nosso Ja q me quer valer Como me pormeteo de aSegnar o papel Incluzo o fazer hum Igual e mandar me dizer onde he o seu Taballião e pedir ao do Juiz e o Intendte por aquelle Infes desgraçado, homem que se ve entre ferros sem azilo sem amparo mais do q os Céos e agora de V Exas eu e meos fos e maredo não nos fartavamos de recorrer a nossa Snra pela Conservação de V Exas meu maredo prostrado pede mil perdoens a V Exa pello amor de Deos Snr Exmo vejome nos termos de me meter em huma Cama e nella fexar os olhos, por me ver Infes e pegada sem q tenha amparo de pessoa alguma, e en termos de meu maredo perder o Offco de Escrevão da Provedoria de Tavera q Estta a Consultar no Dezembo do Passo, e huma Demanda que trazemos á 6 annos no Juizo da Coroa da 2a vara Escrivão Almda na Travessa dego na rua dos Doiradores Com 2 Prezos no Reguengo do Algarve Como V Exa se pode enformar, e na Sua Illustre Caza tem V Exa hom criado q foi do Provedor do Algarve q o pode dizer qdo La vio meu home a Cuidar na da Demanda, e qm he a fama de meu home q he parente das Asafatas Pintos Ribeiros, e pela parte de Pedro Corra de seixas inda parente de D Anto Rangel e do Padilha portanto meus Illustres fidalgos aCudãome pellas xagas de Christo e valhãome e a meus Infes fos V Exas se podem enformar de ma Conduta q não pode ser maior eu mora na Calçada d Sta Anna No 154, terçeiro andar da Derta será mais façil morrer do que valerme de meos Inpropreos ao nasçimto so V Exas huns Pais cheio de tanta Carede he q me poden aCudir he perçizo q Conste junto aos auttos o perdão de V Exas

S C 6 de Julho 1823: Sou de V Exas mto atta fel Vor e C mto obrigada D Izabel Ma d Leiros

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