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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0384

1621. Carta de Bento Barbosa, homem do mar, para a sua mulher, Ana Lopes, lavadeira.

ResumoO autor queixa-se à sua mulher por não ter notícias dela, dizendo também não compreender como é que ela pode estar bem sem saber dele por tanto tempo. Termina a carta com outros assuntos do quotidiano.
Autor(es) Bento Barbosa
Destinatário(s) Ana Lopes            
De Índia, Malaca
Para Portugal, Lisboa
Contexto

A ré deste processo é Ana Lopes, que se apresentou à Inquisição de Lisboa a 29 de agosto de 1623 para admitir culpas de bigamia. Contou que havia 12 anos se tinha casado com Bento Barbosa na igreja da Vitória, em Lisboa, e viveram como marido e mulher por dois anos, nascendo desse casamento uma criança, que entretanto faleceu. Ao fim desses dois anos, o marido embarcou para a Índia e ela apenas recebeu dele uma carta, dois anos depois de ele se ter ausentado. Não voltou a ter notícias dele. Dizia nesse escrito (PSCR0382) que a nau em que fora, chamada Guadalupe, dera à costa e que nesse acidente ele tinha ficado muito doente. Não tendo Ana Lopes mais notícias, veio a considerar que o marido estava morto e, por lho assim aconselharem muitas pessoas, tirou o luto e decidiu casar de novo. Oito meses antes de se apresentar à Inquisição tinha então casado, na mesma igreja da Vitória, com Varão Gonçalves, sapateiro, natural do Campo de Coimbra. À data do casamento, Varão Gonçalves foi buscar testemunhas em como Bento Barbosa era falecido, para as apresentar junto do juiz dos casamentos, algumas delas atestando ter Bento Barbosa falecido no hospital de Goa. O juiz dos casamentos deu-lhes licença para casar e Ana Lopes apenas teve de jurar perante o padre que tinha o primeiro marido por morto e que nunca mais tivera novas dele. A 15 de agosto de 1623, estando casados e vivendo maritalmente havia oito meses, recebera Ana Lopes duas cartas do primeiro marido (PSCR0383 e PSCR0384), vindas de Goa por via de uma naveta que estava na ilha Terceira. Logo que recebeu as cartas, reconhecendo nelas a letra e algumas palavras que o primeiro marido costumava usar, entendeu-as por verdadeiras, afastando-se do segundo marido e mostrando-lhe os escritos do primeiro. Também por isso, admitiu as suas culpas de bigamia perante a Inquisição. Ficou com termo de identidade e residência, tendo de se apresentar à Mesa todas as segundas-feiras às sete horas da manhã. Após o interrogatório à ré, o processo terminou com um último certificado de notário, dizendo que em nenhum dos livros de casamentos se encontrava Ana Lopes como casada, nem com Bento Barbosa nem com Varão Gonçalves. As cartas constam do processo como prova da sua culpa, mas após o documento do notário não há mais dados sobre o seu destino.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita no rosto do primeiro fólio e nas duas faces do segundo
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 13009
Fólios 14r, 15r-v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2313217
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcrição Mariana Gomes
Revisão principal Catarina Carvalheiro
Contextualização Mariana Gomes
Modernização Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2015

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pa ver ana lopes q ds garde de malaca

permita noso senhor q esta vos tome cön a perfeita saude q este voso marido vos dezeja e vos de aquela perfeita gloria q todos nos dezejamos depois q me apartei de vos não tive hũa vosa novas ce heras morta ou viva q ja estou mto descõnfiado como vos podeis estar tãm bem de não teres novas de min ce sou morto ou vivo não qebre por vos q vos pormeto q ce ds me fas mces de me trazer diante de vos eu vos pormeto q tenhais descanço eces poucos dias q vos viveres cõnfio na virgẽm nosa senhora do rozairo q la me a de trazer diante dos vosos olhos como vos desejais dai me muita Emcomendas a estas senhoras aonde vos estais ca me derão novas como me vos qerias mandar dro pa me vir pa o reino folguei mto q mo vos não mandases porq não me hera nececario dêos louvado pa tod o sẽmpre ce não fora tantas perdicois como tenho ja istivera diante dos vosos olhos mas são tantos os nimigos q não podemos navegar por estas partes do sul q de quinze embarcacois não Chegarão mais q duas e numa me fes deos merce de me trazer por cöndestabel dela e me fazer muito bom partido nas q me embarcarão e dou muitas gracas a deos darme arte pa saber ganhar minha vida como os demais mandaime a minha mai boas novas diguo a vosa sogra corevos cön ela q não perdeis nada q o tendes d obrigasão porq o q la tendes ela tẽm dado mutas pasadas por iso q meu pai faleceo sem fala ela por nos ver cön remedio deu muitas pasadas e não sou mais larguo por não emfadar dolemte desta noso senhor etctra deste voso marido bento barboza

feita malaca a doze dezembro da hera de mil 621

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