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Maarten Janssen, 2014-

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1722. Carta de Tomé da Mota Barreto, padre, para a Inquisição de Coimbra.

SummaryO autor descreve o seu último ano de prisão e as pobres condições em que aí tem vivido injustamente, pois diz ser inocente dos crimes de que é acusado. Diz que se não obtiver ajuda, não se importará de tirar a vida pelas próprias mãos.
Author(s) Tomé da Mota Barreto
Addressee(s) Inquisição de Coimbra            
From Portugal, Braga
To S.l.
Context

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Support meia folha de papel não dobrada, escrita em ambas as faces.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Coimbra, Cadernos do Promotor
Archival Reference Livro 352
Folios 111r-v
Transcription Mariana Gomes
Main Revision Fernanda Pratas
Standardization Catarina Carvalheiro
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2007

Page 111r > 111v

[1]
Illustrissimos, e Reverendissimos Senhores

As mas Lagrimas, q de Sangue Choro, são a Cauza de segunda

[2]
vêz por aos pês de Vs Ilmas â mimha queixa, e aflicão, q me assiste; não
[3]
por me Considerar ha témpo de hum anno prezo sem culpa (q esta
[4]
serve de alivio â pena) mas de me ver desfavorecido, e desemparado
[5]
e não ter, q gastar, em hũa prizão tão dilatada; onde estou morrendo de
[6]
fome e padeçendo infinitas miserias, e necessides sem hum Princepe e Pastor
[7]
da Sta Madre Igra; se doér da sua Consçiençia, nem haver Charide e Com
[8]
miseração de hũa sua pobre ovelha de seu Rebanho, q tanto Cústô a JE
[9]
SUS' christo: antes do grande odio, q metem, em me Reter em hũa pri-
[10]
zão, pareçe dezejar tragarme, sem haver outro motivo, mais q o q ja
[11]
a Vs Ilmas Com as mesmas Lagrimas, Representey; expondome este Prin
[12]
cepe â Cénsura de delinquente com notaveis dimminuicôes no meu cre
[13]
dito, fama, e honra; sendo tudo gravissimos Cazos de Restituição, de q es-
[14]
te Princepe, fâz pouca Conta, dandome occasião â perderme, e desesperar
[15]
em ver me não defere, e em ver me não quer dar audiençia â minha
[16]
justica, e quererme imputar hum caso, q sabe mto bem, estou nelle in-
[17]
nocente, Como tambem testemunha toda esta terra; e he querer inco
[18]
brir Com a minha pobre capa os delitos de hum frade filho de hum
[19]
seu criado, q andava amancebado Com duas Irmâns suas: e por saber
[20]
q eu tenho em meu poder desta verde; a clareza, me não quiz nunca
[21]
admmittir a Livramto: Razão por q aggravey pa a Coroa de S Magde
[22]
do Acordâo incluso, virão Vs Ilmas no Conhecimto da sem Razão
[23]
Com q padeço innoçente: não obstante, para fazer o cazó feo, dizer o vigro
[24]
geral, q eu tinha Cúlpas de Rapto stupro, e incesto; o q tudo he falço e sup
[25]
posto: Como hey de mostrar mais claro q a lux do mesmo sol: pois o mes
[26]
mo Prelado lhe deu Licença, e as mandou por hum Primo pa Lisboa, e lhe
[27]
deo todo o dro pa os gastos, e o mais necessario, sendo tudo nomes de fevro
[28]
do anno passado: E eu estava nesta terra e no mes de Mayo, q fui
[29]
pa essa Unde; e me despedi do seu servico, por me não deixar ir formar,
[30]
Logo me teve odio, e Raiva, q em hum Princepe Catholico se tem mto estra
[31]
nhado nesta terra: Como tambem injustamente de me privar do exerçi
[32]
çio e esmola da minha missa por eu seguir este caminho do aggro pa
[33]
conseguir a minha Liberde: q tenho Captiva; dipois de ter feito eCom
[34]
a paçiençia actos meritorios no dicurso de hum anno de prizâo: q he bas-
[35]
tante teyma ou Omnipotençia de hum Princepe da Igra nossa may, q
[36]
he pia: inda no caso, q Como grande e mizeravel pecador, q sou; Commet
[37]
tesse, não esses crimes affectados, e suppostos: mas ainda outros mayores!

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