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Maarten Janssen, 2014-

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1601. Carta de António do Salvador, frade, para Gabriel de Brito, ministro provincial.

SummaryO autor fala a um superior sobre o caso do frade Vicente Borges e pede-lhe que envie um frade músico para animar o convento.
Author(s) António do Salvador
Addressee(s) Gabriel de Brito            
From Portugal, Pinhel, Vilares
To Portugal, Santarém, Convento de Santa Catarina de Vale de Mourol de Santarém
Context

Este processo diz respeito a Vicente Borges, acusado de exercício ilegal das funções eclesiásticas. O réu era natural de Lisboa e dizia ter professado na Ordem dos Frades Menores da Penitência no convento de São Pedro de Coimbra. As cartas inclusas no processo foram enviadas à Mesa da Inquisição pelo provincial de Santarém, o padre frei Marcos da Trindade. Sendo tido como mau cristão, mentiroso e ladrão, constam do processo várias acusações relativamente ao comportamento do réu: 1) que tinha fugido a cavalo levando três mil réis roubados e que já tinha roubado uma navalha e uma tesoura antes; 2) que já tinha sido castigado pelo provincial de Santarém por ter aberto uma carta do mesmo, escrita pelo irmão e de assunto reservado; 3) que se tratava com seculares sem permissão e que tinha escrito uma carta ao pai de um outro noviço a pedir dinheiro e comida; 4) que também tinha escrito uma carta falsa, em nome de Bernardo Drago, a uma mulher chamada Maria Leitoa, tentando levá-la a dar-lhe coisas; 5) que entrava na despensa sem permissão no tempo do frei José; 6) que tinha declarado ter morto voluntariamente um mancebo com um tiro antes de ser frade; 7) que era sodomita e tinha cometido o pecado nefando com outros noviços; 8) que com grande escândalo frequentava a casa de uma prostituta; 9) e que dava missa sem ter ordem sacra para tal, entre outras coisas.

No dia 25 de abril de 1601, Estêvão Rodrigues, morador em Sacavém, foi ao convento de Nossa Senhora de Jesus queixar-se de que frei Vicente de Lisboa lhe tinha roubado um macho pequeno preto com alguns pelos brancos. Segundo ele, o frei teria tomado o animal das mãos de um moço seu que andava a passear com o bicho. A 4 de maio o padre provincial, Marcos da Trindade, descobriu que o macho de que fala o escrito (PSCR0252) foi alugado a um António Antunes e tinha cor de rato e idade e quatro anos. O dito animal terá sido alugado em Sintra dias antes do dia de Ramos.

O réu foi preso, por mandado do licenciado João Peixoto de Sousa, em sua casa, diante do padre Álvaro de Brito, guardião do mosteiro de São Francisco. Na manga do seu braço direito foi encontrado um taleijo pequeno de estopa em que tinha cinco moedas de quatro vinténs e uma de oito, vinte e oito moedas em cobre, que o réu confessou ter roubado ao guardião do mosteiro nas duas noites em que lá esteve. Também foram encontradas as cartas abertas que o vigário depois entregou à Mesa. O réu foi excomungado pelos frades a 3.ª ordem para Angola, com sete anos de galés e ficou suspeito de heresia e apostasia.

Support meia folha de papel não dobrada, escrita no rosto.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Évora
Archival Reference Processo 2196
Folios [16]r-v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2364176
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcription Leonor Tavares
Main Revision Catarina Carvalheiro
Contextualization Leonor Tavares
Standardization Catarina Carvalheiro
Transcription date2014

Page [16]r

[1]

Em careser o muito que folguei com as novas do hofisio não ha

[2]
pera que, so poso dizer que se alembrou deus desta provinsia pois
[3]
premetio saise quẽ olhase por ella sem paixão, nẽ deixase de fazer
[4]
justisa nas couzas nesesarias, eu cheguei a este convento o sabedo
[5]
d asensão as novas que achei sam que avia vindo o pispo de lameguo
[6]
a esta caza onde perguntou por quem avia saido por pal diserãolhe
[7]
que vosa paternidade alegrouse muito por emtender faria justisa
[8]
no cazo de fr visente de que elle tem huã devasa mas não se satis
[9]
fas do que se lhe dise ate ver vosa paternidade ho abade de maria
[10]
va lhe dise que ho avião deitado ha galle a que respondeo ho
[11]
que diguo asima o pe fr Marcos pudera ter curado isto se quizera
[12]
e outras couzas que erão serviso de des como tambem deixar estar
[13]
aqui o pe fr Miguel viguairo que foi deste convento o qual segudo
[14]
se dis não ser nhũ serviso de des estar aqui caindo vosa paternida
[15]
de ouvira os frades mande lhe boleto la pera alentejo antes que
[16]
nos afronte mais do que tem, no mais pedirlhe frade que
[17]
tanga e cante pois os que estão sam pouquo muziquos fiquo pe
[18]
dindo o snor vida e estado lhe aumente por muitos annos Ame
[19]
destes villares a 3 de junho de 601

[20]
seu sudito corador
[21]
[22]
frei Anto do salvador

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